Quem eram as donas das joias roubadas no Louvre.
As oito joias roubadas no museu do Louvre – os ladrões levaram nove, mas acabaram por deixar para trás uma das peças, porventura a mais preciosa: a coroa da imperatriz Eugénia – foram avaliadas em 88 milhões de euros. Mas o seu valor histórico e patrimonial ultrapassa as avaliações monetárias. Como disse o presidente francês, Emmanuel Macron, mal soube do assalto, foi “um atentado a um património que acarinhamos porque ele é a nossa História”.
Cada uma das joias estava diretamente ligada a uma personagem representativa de momentos marcantes na história do país. A começar pelo colar de esmeraldas e o par de brincos das mesmas pedras preciosas da imperatriz Maria Luísa (1791-1847). As peças foram oferecidas à filha do imperador Francisco I da Áustria e sobrinha neta da infeliz Maria Antonieta, pelo seu marido Napoleão Bonaparte. O casamento entre o conquistador da Europa e a jovem arquiduquesa celebrou-se em 1810 como penhor de uma efémera aliança entre as duas potências. Para casar com Maria Luísa, Napoleão teve de repudiar a sua adorada Josefina. Além de manobra diplomática, o casamento visava um objetivo mais prático: assegurar a sucessão. Maria Luísa cumpriu, dando à luz o pequeno Napoleão, que recebeu logo o título de Rei de Roma, mas acabou por não suceder ao pai. Com a derrota de Bonaparte, Maria Luísa voltou aos domínios dos Habsburgos com Napoleão II”, que se tornou duque de Reichstadt, título concedido pelo avô. As joias, essas, deram muitas voltas até acabarem nas vitrines da Galeria de Apolo, e agora nas mãos dos ladrões.
Um diadema de safiras, um colar de safiras, e um brinco de safiras tinham pertencido, sucessivamente à rainha Hortênsia (1783-1837) e à rainha Maria Amélia (1782-1866). Hortênsia (Hortense de Beauharnais) foi, sucessivamente, enteada e cunhada de Napoleão. Filha do primeiro casamento da imperatriz Josefina (o pai foi um general guilhotinado durante a revolução), casou com o irmão mais novo de Napoleão, Luís, rei da Holanda. O seu filho, Luís Napoleão, tornar-se-ia o herdeiro da dinastia imperial. Já voltamos a falar dele.
Maria Amélia de Bourbon Duas Sicílias casou com Luís Filipe, duque de Orléans, em 1809. Mal ela sabia que, entre exílios e regressos, guerras, impérios, restaurações e revoluções, o seu marido se tornaria rei em 1830 – e seria destronado em 1848. Foi a última rainha de França.
A revolução de 1848 instaurou a II República. Na primeira eleição presidencial por sufrágio (quase) universal, os franceses votaram por maioria esmagadora no apelido que lhes era mais familiar: Bonaparte. Luís, filho do ex-rei da Holanda e de Hortênsia, sobrinho de Napoleão I, não aqueceu a cadeira de Presidente da República. A 2 de dezembro de 1851 deu um golpe de estado e substituiu a II República pelo II Império: proclamou-se imperador, com o nome de Napoleão III. Como o outro Napoleão, seu tio, também tomara o poder por meio de um golpe, Marx lembrou, a propósito deste episódio, uma reflexão de Hegel e saiu-se com uma frase geralmente mal citada: “(…) todos os factos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes (…) a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Pouco depois, em 1853, Napoleão III casou com a aristocrata espanhola Eugénia de Montijo (1826-1920). Tiveram um único filho, Napoleão Eugénio (tanto ele como o pai foram sócios da Academia das Ciências de Lisboa), que depois da queda do Império acompanhou os pais no exílio em Inglaterra, alistou-se no exército britânico e foi morrer na guerra contra os zulus, na África do Sul, em 1879. A imperatriz Eugénia recebeu do marido, entre muitas outras demonstrações de afeto, um alfinete de peito conhecido como “broche relicário” (uma católica muito devota) com dois diamantes “mazarinos”, um laço decorativo, um diadema e uma coroa. Foram todos roubados no último domingo, 19 de outubro.
A coroa acabou por ficar para trás, perdida pelos assaltantes durante a fuga e encontrada nas proximidades do museu mais visitado do mundo, a pouco metros do local onde se erguia o palácio das Tulherias, onde tanto Maria Luísa como Maria Amélia e Eugénia moraram – e que foi pilhado e incendiado durante a Comuna de Paris, em 1871.
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