Tinha 22 anos quando inventou o que ainda há de ser mais popular do que já é: o drone comercial de uso privado
Quando soube que a namorada estava grávida, a grande preocupação do miúdo de 20 anos foi uma: a reação dos pais. Em particular, do pai, com quem morava em Ensenada, no México. Para evitar o sermão, a fúria e eventualmente mais alguma coisa do progenitor, o recém-saído da adolescência reagiu como um adolescente: fugiu. Jordi e a namorada, americana, fizeram as malas à pressa para os Estados Unidos.
Instalaram-se em Riverside, perto de Los Angeles, na Califórnia, e foi aí que o mexicano percebeu que, além de esperar, nada mais podia fazer enquanto não conseguisse a carta verde, que autoriza cidadãos estrangeiros a residir, trabalhar e estudar nos EUA. Enfiado em casa durante meses, Jordi Muñoz entreteve-se como pôde e lhe apeteceu. E o que apeteceu ao miúdo que tentara por duas vezes entrar em engenharia aeronáutica ainda no México e adorava tecnologia informática (desde novo desmontava e voltava a montar computadores) foi juntar os dois interesses. Passava horas infindas entre o computador e um helicóptero telecomandado que se dedicava a dissecar. E assim construiu o seu primeiro drone – que foi também o primeiro drone comercial do Mundo.
COM AJUDA DA WII
Hoje, conta que nesses oito meses de 2007 se sentiu como "numa grande prisão", mas foi essa "prisão" que lhe estimulou a criatividade. O primeiro sistema de autopilotagem que inventou incorporava os sensores de movimento que retirou dos comandos da consola Wii. Soldou-os a uma placa de circuitos que lhe custara 17 euros num pequeno forno de cozinha que o próprio transformou para funcionar como máquina de soldar profissional. "Foram os meses mais produtivos da minha vida", percebe hoje.
Ao mesmo tempo, publicava os seus avanços e descobertas (também recebia dicas e incentivos) num site para entusiastas da modalidade, o DIY Drones. O fundador do site ficou impressionado e enviou-lhe 450 euros para o ajudar no projeto. Esse homem era Chris Anderson, jornalista e diretor da prestigiada revista online de tecnologia ‘Wired’. "Ele estava simplesmente à frente de nós todos", lembrou Anderson à ‘Business Insider’. E, assim, Jordi comprou mais e melhores sensores do que os que retirara da Wii: um GPS, provavelmente o componente mais importante de um drone, como ele próprio considera.
Os dois começaram a falar por email e telefone. "Ele era capaz de aprender rapidamente tecnologia muito avançada. E fazia tudo ensinando-se a si próprio através da internet", explicou Anderson à ABC. "É da geração de pessoas que ‘não sabem o que não sabem’. Ele não sabia que era suposto ter um doutoramento para inventar um drone. Simplesmente fê-lo."
NEGÓCIOS EM ALTA
Demorou mais de um ano: monta, desmonta, tentativa e erro. Perdia a noção do tempo. Ficava dias inteiros em frente ao computador. Destruiu vários aviões, esborrachados em paredes ou estatelados no chão. Calcula que tenha tido 500 falhanços antes do primeiro sucesso. Mas, um ano depois, funcionou: "O dia mais feliz da minha vida foi o dia em que fiquei sentado, pousei o controlo e o avião voou sozinho." Conseguira estabilizar o voo usando um código de computador.
Nesse início de 2009, e sem nunca se terem encontrado, Jordi e Chris decidiram criar uma empresa. Fundaram a 3D Robotics, e em maio o mexicano já tinha construído 40 protótipos. Cada um custava 37 euros. Foram vendidos em horas, mal os colocou à venda online. Depressa teve de contratar amigos para responder à procura. Muitos ainda estão entre os cerca de 350 trabalhadores da empresa.
O crescimento do negócio foi proporcional ao exponencial aumento da procura de drones dos últimos cinco anos: a 3D Robotics é a maior produtora de drones comerciais da América do Norte e a segunda maior do Mundo, depois da chinesa DJI. Em 2011, chegou à marca de um milhão de dólares em vendas (950 mil euros); em 2013, vendeu dez vezes mais: mais de nove milhões de euros. Este ano, a empresa estima chegar aos 47 milhões de euros. Jordi Muñoz Bardales ainda nem fez 30 anos (tem 28). E nunca chegou a tirar um curso. "Sou da geração que se doutora no Google. Nós conseguimos descobrir tudo virtualmente apenas ‘googlando’ e fazendo leituras online", explicou à BBC.
FABRICADO EM TIJUANA
Separou-se da mulher ao fim de quatro anos. Algures antes disso, mas pouco, e já muito depois da fundação da empresa, conheceu finalmente Chris Anderson. Num sofisticado restaurante, em Los Angeles, apertaram pela primeira vez as mãos. Muñoz achou Anderson confiante e simpático. Anderson percebeu que o miúdo era mais alto do que julgava. Continuam a viver a mais de 800 quilómetros um do outro: Jordi dirige a parte tecnológica a partir de San Diego; Anderson, de 53 anos, gere o negócio em São Francisco. A produção dos cinco tipos de drones (com preços entre 700 e 5000 euros) é feita maioritariamente em Tijuana, no México (cidade natal de Jordi), e a equipa de vendas trabalha em Austin, no Texas.
Apesar de todo o sucesso – e da concorrência –, há uma coisa que se mantém: o software operativo dos drones continua acessível online. Tal como quando, há oito anos, Jordi criava o primeiro drone. Porque acha que o risco de ser copiado é inferior ao que ganha com as contribuições de outros: "Não conseguiria estar a vender tanto se tivesse tentado fazer o meu protótipo sozinho." Desse tempo, ficou-lhe outra lição, lembrada à ‘Forbes’ mexicana: "Tudo tem uma solução. Só há que ter paciência: 99% é paciência e 1% inteligência. A vida seria muito aborrecida se não tivéssemos problemas e obstáculos."
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