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Raduan Nassar: sexo, cólera e agricultura

O autor deixou de escrever para dedicar-se ao amanho da terra.

08 de dezembro de 2019 às 09:00

Raduan Nassar (n. 1935) é um escritor brasileiro cuja obra se resume a um romance, uma novela e um livro de contos. Mas essas pouco mais de 300 páginas no total foram o bastante para ser considerado um dos melhores escritores de língua portuguesa da atualidade. A revista americana ‘New Yorker’ chamou-lhe "o maior escritor brasileiro" e Portugal e o Brasil consagraram-no em 2016 com o Prémio Camões.

O erotismo é fundamental na obra do escritor. ‘Lavoura Arcaica’ (Companhia das Letras), publicado em 1975, conta a história do amor incestuoso de um rapaz que se apaixona pela própria irmã. Já ‘Um Copo de Cólera’ (Companhia das Letras), de 1978, narra a relação perturbada entre um agricultor que fugiu da vida urbana e uma jornalista envolvida em causas políticas, com descrições gráficas de um erotismo escaldante.

Natural de Pindorama, no interior do estado de São Paulo, Nassar começou por estudar Ciências, curso que trocou por Direito. Acabou por formar-se em Filosofia, em 1963. Experimentou o jornalismo, viajou pelo Canadá, pela Europa e foi ao Líbano. Em 1985, em pleno sucesso literário, comprou a fazenda Lagoa do Sino (interior de São Paulo) e dedicou-se em exclusivo à agricultura e à pecuária. Em 2011 doou a propriedade, avaliada em 20 milhões de reais (4,29 milhões de euros), à Universidade Federal de S. Carlos, para ali ser instalado um ‘campus’ universitário. Vive num bairro pacato de São Paulo, longe dos holofotes da fama.

Do livro ‘Um Copo de Cólera’, ed. Companhia das Letras

" (...) e eu li na chama dos seus olhos ‘sim, você canalha é que eu amo’, e sempre atento aos sinais da sua carne eu passei então a usar a língua, muda e coleante, capaz sozinha das posturas mais inconcebíveis, e não demorou ela mexeu os lábios dum jeito mole e disse um ‘sacana’ bem dúbio (…) já entrando quem sabe em estado de graça, mantendo contudo as narinas plenas, uma respiração ruidosa tumultuando o colo, os peitos empinados subindo e descendo (…) e foi pra melar ainda mais o desejo dela que levei a mão bem perto do seu rosto, e comecei com meu dedo do meio a roçar o seu lábio de baixo (…), sua boca foi se abrindo aos poucos pr’um desempenho perfeito (…), eu estava dizendo claramente com os olhos ‘você nunca tinha imaginado antes que tivesse no teu corpo um lugar tão certo pr’esse meu dedo enquanto eu te varava e você gemia’ e logo seus olhos me responderam num grito ‘sacana, sacana, sacana’ como se dissessem ‘me rasga, me sangra, me pisa’ (…)"

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