Presidente-escritor teve mandato atribulado e vida e obra polémicas.
Manuel Teixeira Gomes (1860-1941) distinguiu-se, enquanto escritor, pelo pendor erótico das descrições das suas personagens, com uma predileção especial pelas mais jovens, que se tornou polémica. Aos 39 anos foi viver com Belmira das Neves, então com 14, de quem teve duas filhas.
Natural de Portimão, era filho de José Libânio Gomes, comerciante que fez fortuna com a exportação de frutos secos. Andou no seminário e foi para Coimbra estudar Medicina mas desistiu, preferindo dedicar-se à literatura. Amigo dos dirigentes republicanos José Relvas e Basílio Teles, aderiu à causa. Em 1890 voltou a Portimão para dirigir os negócios da família. Viajou em trabalho pela Europa, norte de África e Médio Oriente.
Com a implantação da República foi nomeado representante de Portugal em Londres e mais tarde em Madrid. Em 1923 foi eleito Presidente da República, num período de grande instabilidade política. Magoado com a divisão entre os partidos republicanos, renunciou ao cargo em 1925.
Entre os seus livros mais importantes contam-se ‘Cartas sem Moral Nenhuma’, ‘Agosto Azul’, ‘Sabina Freire’, ‘Novelas Eróticas’, ‘Maria Adelaide’ ou ‘Carnaval Literário’. Sobre ele, escreveu Vasco Pulido Valente: "Em 1924, o norte de África, como Gide amorosamente descreveu, era o paraíso dos pedófilos. Teixeira Gomes queria rapazinhos. E, de quando em quando, virgens de 11, 12 anos, para como ele disse ‘lhes colher as primícias’. Costumes".
Do livro ‘Duas Novelas Eróticas’, Contexto Editora
Deus ex-machina
"Ajoelhei e comecei lentamente a despi-la.
Não há palavras que descrevam as maravilhas do seu corpo, a sua carne rosada e firme desmaiando, nas curvas, no tom mate de açucena; os pés de estátua grega; o ventre polido e retraído, nascendo das coxas roliças como um escudo de prata fosca e partindo-se, no remate, para inflar nos dois agudos pomos a que as vacilantes chamas do fogão davam reflexos iriados; e os longos braços a um tempo frágeis e marmóreos!...
Os meus lábios cobriam sofregamente a carne que aparecia enquanto as mãos teciam em volta do seu corpo uma apertadíssima rede de carícias…
Ela tudo aceitava como se fosse o devido preito à sua beleza peregrina e quando lhe soltei o cabelo ergueu-se para que eu a pudesse adorar na plenitude da sua formosura…
Sem dizer palavra tomei o casaco que ela pusera sobre um próximo sofá voltado com a peliça para fora, estendi-o junto ao fogão, depois deitei-a nas peles e naquela atmosfera candente, sentindo quase as labaredas lamberem-me a carne, penetrei-a demoradamente, num tal espasmo de gozo que ainda hoje o recordo com um característico e inconfundível estrangulamento do esófago e uma fulguração dolorosa nas entranhas!
Nesse dia não saímos do quarto: o nosso contínuo chalrar entremeava-se de carícias."
Do livro ‘Inventário de Junho’,
Portugália Editora
Vénus Momentânea
"Era a hora da tarde em que os banhos recomeçam, e como de costume, naquela praia cheia de recortados leixões, os banhistas despiam-se junto às rochas pendurando nelas o seu fato.
(...) De repente, senti que alguém tossia, fazendo-o para chamar a minha atenção. Voltei-me instintivamente: era a serrenha pudenda que se limpava, acocorada, numa anfractuosidade da rocha que formava nicho. Tão depressa verificou que se encontrava em foco, ergueu-se, abriu os braços e soltou o lençol.
Prodígio de elegância, perfeição e graça escultural, se me patenteou então o seu corpo enrijecido pela frialdade da água, cujas gotas ainda lhe escorriam pela carne marmórea. O peso da água afeiçoara-lhe na cabeça hirsuta um toucado de estátua antiga, e os seios disparavam como duas pombas que vão voar.
Impassível, sem um sorriso e lentamente - tal uma estátua em pedestal móvel -, ela rodou sobre si mesmo, branqueando à minha vista sôfrega as mais secretas maravilhas do seu corpo.
Terminada a volta agachou-se, meteu-se no lençol, e chamou por outra mulher, que a veio limpar.
Daí a nada passava por mim já vestida - entrouxada nas suas vestimentas de serrenha lorpa -, arrastando os sapatos de bezerro, estúpida, a boca mole e inexpressiva, os olhos baixos...
Espreitei-a depois, no banho, vezes sem conto, a ver se a cena se repetia, mas inutilmente."
Mulher de 14 anos
Em 1899 foi viver com Belmira das Neves, então com 14 anos. Ela nunca foi a Belém, mas figura na lista de primeiras-damas do Museu da Presidência.
Postal de namorados
O escritor e Belmira são tema de postais do Dia dos Namorados feitos por alunos da Secundária Teixeira Gomes, de Portimão, com citações dos seus livros.
Embaixador de Portugal
Foi ministro plenipotenciário (embaixador) de Portugal em Londres e em Madrid e vice-presidente da Sociedade das Nações (antecessora da ONU).
Presidente da República
Eleito Presidente da República a 6 de agosto de 1923, renunciou a 11 de dezembro de 1925. Ficou marcado pela tentativa de golpe militar de 18 de abril de 1925.
Exílio na Argélia
A 17 de dezembro de 1925 embarcou para a Argélia. Instalou-se em Bougie, atual Béjaïa, no quarto 13 do hotel L’Étoile, onde morreu em 1941.
O escritor no cinema
O ator Sinde Filipe interpretou Teixeira Gomes no filme ‘Zeus’ (nome do navio que o levou para o exílio voluntário), realizado por Paulo Filipe Monteiro em 2017.
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