Médica prescreveu receita de adrenalina intravenosa quando deveria ter sido para inalação.
Menino de 6 anos morre após receber adrenalina intravenosa. Médica admitiu o erro
A morte de um menino de seis anos no Brasil, após receber por erro uma dose de adrenalina por via intravenosa, deu-se devido a uma “falha gravíssima”. A cardiologista pediátrica Inês Gomes explica ao Correio da Manhã que este tipo de erro é perigoso e “frequente”, mas pode ser facilmente evitado.
A especialista recorda que a laringite, o diagnóstico que motivou o atendimento da criança, é uma inflamação frequente na pediatria. Segundo descreve, a laringite é uma inflamação dos tecidos da laringe. “Normalmente nas crianças é frequente vermos uma laringite aguda, em que de repente a criança começa com uma tosse rouca”, explica a profissional. Nestes casos, quando a criança mantém boa oxigenação e não apresenta sinais de insuficiência respiratória grave, o que é feito habitualmente é a adrenalina inalada: “a inalatória é a indicação, não há outras alternativas”.
A dose habitual é calculada por peso, cerca de 0,5 ml por quilo com o máximo de 5 ml, e pode ser repetida em intervalos de 20 a 30 minutos, mas sempre através de inalação, nunca por via endovenosa. No caso da criança, Benício Xavier de Freitas, foi-lhe prescrito três doses de 3ml a cada 30 minutos, o que seria normal para inalação, mas diretamente na veia “é uma dose brutal”, frisa a cardiologista.
Uma administração intravenosa de adrenalina é reservada para situações extremas, como anafilaxia grave ou manobras de reanimação. Num quadro de laringite numa criança estável “não há adrenalina endovenosa, nunca se faz”.
O erro começou por parte da médica logo na prescrição. No entanto, como refere Inês Gomes, em contexto de urgência é algo que “pode acontecer” uma vez que existe um software em que seleciona o fármaco, a dose e a via de administração e “às vezes, em situações de stress, existem erros”.
O segundo erro, que levou à morte da criança, aconteceu quando a enfermeira não questionou a médica acerca da via de administração. Segundo a especialista, é comum o enfermeiro confirmar o tratamento com o médico, principalmente em caso de dúvida. Neste caso, esse passo falhou e a enfermeira administrou a adrenalina por via intravenosa, apesar de ter admitido à mãe de Benício que nunca tinha feito esse tipo de administração - precisamente porque não é praticada em situações como esta.
As consequências de administrar adrenalina diretamente na veia de uma criança saudável são imediatas: “vai aumentar a frequência cardíaca para níveis acima do normal, pode haver arritmias malignas, paragem cardiorrespiratória, edema e hemorragia pulmonar”. Os sintomas observados no menino pouco depois da administração - palidez, extremidades arroxeadas, sensação de ter “o coração a queimar” - correspondem exatamente aos efeitos de uma intoxicação grave por adrenalina: “são tudo efeitos secundários de uma adrenalina em doses completamente intoxicantes… principalmente numa criança”.
A cardiologista sublinha que, ao contrário de outras intoxicações, não existe tratamento farmacológico capaz de reverter o efeito - “não há antídoto”. Mesmo que a equipa rapidamente se aperceba do que está a acontecer, os danos já foram desencadeados, “em menos de um segundo, a pressão arterial e a frequência cardíaca disparam de forma anómala”.
Inês Gomes faz questão de frisar que este tipo de erro não deveria ocorrer, especialmente numa situação clínica simples e comum. “Isto é uma catástrofe, não é suposto haver este tipo de erro”, refere. Reforça também que a adrenalina inalada faz parte da rotina diária das urgências pediátricas, sendo usada em dezenas de crianças por dia.
O que não passava de um procedimento simples, de rotina e de baixo risco acabou com a morte de uma criança de seis anos no Hospital de Santa Júlia, um hospital privado em Manaus, no Brasil. “Era uma dose para ser inalada, para a criança estar sossegadinha e fazer o seu aerossol” e, por falha de verificação teve este desfecho “trágico”, lamenta a médica cardiologista.
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