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"Diretamente na veia é uma dose brutal": cardiologista explica caso de menino que morreu por erro médico no Brasil

Médica prescreveu receita de adrenalina intravenosa quando deveria ter sido para inalação.

11 de dezembro de 2025 às 16:47
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Menino de 6 anos morre após receber adrenalina intravenosa. Médica admitiu o erro

A morte de um menino de seis anos no Brasil, após receber por erro uma dose de adrenalina por via intravenosa, deu-se devido a uma “falha gravíssima”. A cardiologista pediátrica Inês Gomes explica ao Correio da Manhã que este tipo de erro é perigoso e “frequente”, mas pode ser facilmente evitado. 

A especialista recorda que a laringite, o diagnóstico que motivou o atendimento da criança, é uma inflamação frequente na pediatria. Segundo descreve, a laringite é uma inflamação dos tecidos da laringe. “Normalmente nas crianças é frequente vermos uma laringite aguda, em que de repente a criança começa com uma tosse rouca”, explica a profissional. Nestes casos, quando a criança mantém boa oxigenação e não apresenta sinais de insuficiência respiratória grave, o que é feito habitualmente é a adrenalina inalada: “a inalatória é a indicação, não há outras alternativas”. 

A dose habitual é calculada por peso, cerca de 0,5 ml por quilo com o máximo de 5 ml, e pode ser repetida em intervalos de 20 a 30 minutos, mas sempre através de inalação, nunca por via endovenosa. No caso da criança, Benício Xavier de Freitas, foi-lhe prescrito três doses de 3ml a cada 30 minutos, o que seria normal para inalação, mas diretamente na veia “é uma dose brutal”, frisa a cardiologista. 

Uma administração intravenosa de adrenalina é reservada para situações extremas, como anafilaxia grave ou manobras de reanimação. Num quadro de laringite numa criança estável “não há adrenalina endovenosa, nunca se faz”.  

O erro começou por parte da médica logo na prescrição. No entanto, como refere Inês Gomes, em contexto de urgência é algo que “pode acontecer” uma vez que existe um software em que seleciona o fármaco, a dose e a via de administração e “às vezes, em situações de stress, existem erros”.  

O segundo erro, que levou à morte da criança, aconteceu quando a enfermeira não questionou a médica acerca da via de administração. Segundo a especialista, é comum o enfermeiro confirmar o tratamento com o médico, principalmente em caso de dúvida. Neste caso, esse passo falhou e a enfermeira administrou a adrenalina por via intravenosa, apesar de ter admitido à mãe de Benício que nunca tinha feito esse tipo de administração - precisamente porque não é praticada em situações como esta. 

As consequências de administrar adrenalina diretamente na veia de uma criança saudável são imediatas: “vai aumentar a frequência cardíaca para níveis acima do normal, pode haver arritmias malignas, paragem cardiorrespiratória, edema e hemorragia pulmonar”. Os sintomas observados no menino pouco depois da administração - palidez, extremidades arroxeadas, sensação de ter “o coração a queimar” - correspondem exatamente aos efeitos de uma intoxicação grave por adrenalina: “são tudo efeitos secundários de uma adrenalina em doses completamente intoxicantes… principalmente numa criança”. 

A cardiologista sublinha que, ao contrário de outras intoxicações, não existe tratamento farmacológico capaz de reverter o efeito - “não há antídoto”. Mesmo que a equipa rapidamente se aperceba do que está a acontecer, os danos já foram desencadeados, “em menos de um segundo, a pressão arterial e a frequência cardíaca disparam de forma anómala”. 

Inês Gomes faz questão de frisar que este tipo de erro não deveria ocorrer, especialmente numa situação clínica simples e comum. “Isto é uma catástrofe, não é suposto haver este tipo de erro”, refere. Reforça também que a adrenalina inalada faz parte da rotina diária das urgências pediátricas, sendo usada em dezenas de crianças por dia. 

O que não passava de um procedimento simples, de rotina e de baixo risco acabou com a morte de uma criança de seis anos no Hospital de Santa Júlia, um hospital privado em Manaus, no Brasil. “Era uma dose para ser inalada, para a criança estar sossegadinha e fazer o seu aerossol” e, por falha de verificação teve este desfecho “trágico”, lamenta a médica cardiologista. 

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