Portugal tem a sua quota parte de histórias de assassinos em série. Todos de uma crueldade terrível
Existem várias definições para serial killer. No entanto, está mais ou menos predefinido que um assassino em série é um indivíduo que, em diferentes eventos criminais, assassina três ou mais pessoas, seguindo um mesmo padrão ou o mesmo ‘modus operandi’. A forma como mata é a sua ‘assinatura’.
Por norma, os serial killers dividem-se em dois grupos: o primeiro, os de tipo organizado, composto por indivíduos que aparentam ter um comportamento adequado à sociedade, fingindo no seu dia a dia serem cordiais e generosos. Planeiam bem os crimes, encobrindo todas as pistas. Estes indivíduos são, por norma, dotados de grande inteligência, enorme frieza e grande capacidade de gestão das suas emoções. O segundo grupo são os indivíduos do tipo desorganizado. Por norma, regem-se pela impulsividade. Os seus crimes são pouco planeados, surgem por impulso e deixam pistas.
A possibilidade de êxito da investigação é neste último caso maior.
Todos conhecemos histórias de serial killers, a mais famosa será porventura a de ‘Jack, o estripador’, que matou em Londres na segunda metade do século XIX e nunca foi apanhado. O cinema e a literatura têm recorrido a estas figuras. Mas será que em Portugal também existiram serial killers? A doutrina divide-se. Há quem diga que sim e há quem diga que não. Eu acredito que sim. São poucos os casos, mas efetivamente existiram indivíduos que se enquadram na definição de serial killer.
Assassina de bebés
Vejamos então quem foram estes criminosos: o primeiro serial killer português terá sido uma mulher – Luísa de Jesus. Nasceu em Coimbra no ano de 1750, tendo sido morta por enforcamento no dia 1 de julho de 1772. Terá sido a última mulher a ser executada em Portugal, tinha então 22 anos e depois de ter sido acusada e condenada por ter assassinado 33 bebés, que haviam sido abandonados pelos pais e que ela ia buscar a instituições de caridade, que à data se chamavam a ‘Roda
dos Enjeitados’. O móbil do crime era a vontade de se apoderar do enxoval dessas crianças e receber os 600 réis que eram dados pelo Estado a qualquer pessoa que fosse buscar uma criança para cuidar dela.
Já naquele tempo, século XVIII, a esperteza humana levava a que Luísa de Jesus utilizasse na maioria das vezes em que ia buscar os bebés nomes falsos, por forma a não ser identificada. Reza a história que confessou às autoridades 28 homicídios, apesar de lhe serem imputados 33 desses crimes. Numa busca à sua casa foram encontrados os restos mortais de 33 cadáveres, uns decepados, outros esquartejados. Antes de ser garrotada e queimada em execução pública foram-lhe cortadas as mãos, um facto inédito para as execuções de mulheres.
O segundo serial killer que podemos identificar em Portugal não era português de nascimento, mas sim galego – apesar de sempre cá ter vivido. Chamava-se Diogo Alves e é um caso abordado por vários autores em diversos livros publicados. Diogo Alves, nasceu no ano de 1810, em Santa Gertrudes, na Galiza, Espanha, tendo morrido por enforcamento público, no Cais do Tejo, em Lisboa, no dia 19 de fevereiro de 1841. Ficou conhecido como o ‘assassino do Aqueduto das Águas Livres’. Reza a história que formou uma quadrilha que se dedicava ao roubo e ao assassínio de pessoas. Ter-se-á perdido de amores pela dona de uma casa de fados de Lisboa de seu nome Gertrudes Maria, mas mais conhecida pela ‘Parreirinha de Alfama’. Terá sido também esta mulher que, na sua ânsia de ser cada vez mais rica, instigava o crime.
Um dos locais utilizados por Diogo Alves para roubar e matar as suas vítimas era o Aqueduto das Águas Livres de Lisboa, onde de madrugada esperava as vítimas para as roubar, atirando-as depois de uma altura de 65 metros, do Aqueduto abaixo.
Durante muito tempo pensou-se que aquelas pessoas, desesperadas com a crise económica que o país atravessava, subiam ao Aqueduto e ali punham fim à vida, saltando para a morte. Veio a ser identificado e detido pelas autoridades em 1840, na sequência do assalto à casa de um conhecido médico lisboeta. O assalto correu mal e Diogo Alves assassinou toda a família do médico, inclusive os criados. Foram comprovados 17 homicídios, mas suspeita-se que tenha cometido mais de 70.
A história de Diogo Alves intrigou os cientistas da então chamada Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Estes, numa ciência forense que dava os primeiros passos, logo após o enforcamento e na tentativa de compreender a origem da sua maldade, deceparam a cabeça de Diogo Alves, com o único fim de a estudarem. Esta encontra-se, ainda hoje, conservada num recipiente de vidro no teatro anatómico da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde uma solução de formol lhe perpetua a imagem de um homem com ar tranquilo – bem contrária ao homem que Diogo Alves foi.
Portugal conheceu um outro serial killer – Zé Borrego que afirmou em juízo que foi impelido por Nossa Senhora a vir para Lisboa com o objetivo de acabar com o pecado, que, para si, eram os homossexuais. Estávamos em 1960. Zé Borrego fez ao todo cinco vítimas, todos homens, todos homossexuais. O seu ‘modus operandi’ foi sempre o mesmo: seduzia um homem, levava-o para uma pensão de Lisboa para com ele manter relações sexuais, aí estrangulava-o, esquartejava-o e lançava os restos mortais ao rio Tejo. Zé Borrego acabou por se suicidar na sua cela.
O outro serial killer, que nunca foi identificado pela polícia, ficou conhecido por ‘Estripador de Lisboa’. Este foi o nome dado pela imprensa portuguesa ao assassino de três mulheres, prostitutas, entre 1992 e 1993, uma em Lisboa e duas no concelho de Loures. A primeira vítima foi Maria Valentina, de 22 anos, conhecida no meio por ‘Tina’, e que foi encontrada sem vida, na manhã do dia 31 de julho de 1992, num barracão na freguesia de Póvoa de Santo Adrião. Terá sido morta com golpes de um objeto perfurante, que a atingiram no tórax e na barriga, tendo sido depois estrangulada, esventrada e cortada. O assassino remexeu e removeu alguns órgãos internos da vítima, tendo levado partes do intestino e do fígado.
A segunda vítima foi Maria Fernanda, de 24 anos, também prostituta e encontrada num barracão junto ao terminal de Entrecampos, na manhã de 2 de janeiro de 1993. Foi encontrada por trabalhadores da CP, que estavam ali a trabalhar na construção da ponte ferroviária. Foi também estrangulada, esventrada e cortada, tendo o assassino remexido e removido os mesmos órgãos da vítima. Levou também pedaços desses órgãos.
A terceira e última vítima foi Maria João, de 27 anos, também ela prostituta, encontrada a 15 de março de 1993, a cerca de cem metros do local onde a primeira vítima havia sido encontrada, na Póvoa de Santo Adrião. Tal como as duas vítimas anteriores, foi estrangulada, esventrada e cortada, tendo o assassino remexido nos órgãos, de que levou também alguns pedaços.
A PJ efetuou diligências, foram várias as linhas de investigação, nomeadamente a ligação entre as vítimas, todas prostitutas, a ligação de um eventual criminoso com este meio, a possibilidade do assassino ser alguém que tivesse contraído uma doença no contacto com prostitutas e daí os seus atos poderem ser uma vingança, a possibilidade de o assassino ser alguém estrangeiro, que periodicamente passasse por Lisboa... Depois de 15 de março de 1993 nunca mais houve outra morte. Em 2011 apareceu um autor confesso. José Pedro Guedes, de 46 anos, chegou a ser detido pela suspeita de ter assassinado as três prostitutas referidas, bem como uma outra mulher em Aveiro. No entanto, veio a ser libertado – tudo não passaria de um golpe publicitário ou uma brincadeira de mau gosto.
Um outro serial killer foi o denominado cabo Costa. António Luís Costa, cabo da GNR, nascido em 1952 em Santa Comba Dão, foi preso em 2006 e condenado em 2007 pela morte de três jovens raparigas, entre maio de 2005 e maio de 2006. A primeira jovem a ser assassinada foi Isabel Cristina Isidoro, que desapareceu a 24 de maio de 2005. O cadáver veio a ser localizado no dia 31, na Figueira da Foz, junto à foz do rio Mondego. Mariana Lourenço desapareceu a 14 de outubro. O seu cadáver só viria a ser recuperado em junho do ano seguinte e já depois da detenção do cabo Costa pela PJ. Foi o próprio quem indicou o local onde havia abandonado o cadáver. A terceira e última vítima foi Joana Oliveira, desaparecida a 8 de maio de 2006, tendo o cadáver sido recuperado também graças às instruções de António Costa, já depois da sua prisão, a 24 de junho de 2006. Inicialmente confessou todos os crimes – cujo móbil foi sempre questões relativas a impulsos sexuais –, mas mais tarde negaria. Foi condenado a 25 anos.
O último serial killer português, Francisco Leitão, mais conhecido por ‘Rei Ghob’, foi condenado pela autoria material de três homicídios – um rapaz e duas raparigas. Os corpos ainda não foram encontrados.
Leitão foi condenado pela morte de Tânia Ramos, que desapareceu a 5 de junho de 2008, de Ivo Delgado, desaparecido a 26 de junho desse mesmo ano, e de Joana Correia, desaparecida a 3 de março de 2010. Foram estes desaparecimentos que levaram a PJ a suspeitar de Francisco Leitão. As provas reunidas possibilitaram a condenação pela prática de três crimes de homicídio. Segundo o tribunal, estes três jovens foram assassinados por questões passionais: as duas raparigas mortas porque eram namoradas de jovens com quem o réu queria ter um caso amoroso, e Ivo Delgado por não ter querido voltar a ter qualquer envolvimento amoroso com Francisco Leitão, após o desaparecimento da sua namorada, Tânia Ramos.
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