A frase eleita dos ingleses quando entendiam raspar-se das suas terras polares para se instalarem onde lhes cheirasse a trópicos felizes era “Gone Native”. Na estação dos Correios de Vilanculos, a terra mais próxima no Moçambique costeiro, o telegrama ainda faz correr tinta, ao lado de outro, mais familiar, que diz: ‘Virei africano’. Quem vai a Bazaruto, o arquipélago-fantasia do Índico, corre o sério risco de ancorar-se e mandar o postalinho da africanidade.
O título ‘Terra Abensonhada’, pedido de empréstimo ao escritor Mia Couto (outra das jóias de Moçambique, a par do artista plástico Malangatana ou do falecido poeta José Craveirinha), acasala a bênção com o sonho, e é assim que ficamos ao sobrevoarmos os filões de terra e de mar que nos esperam lá em baixo.
Pode chegar-se de barco à vela, de lancha ou de avioneta, mas é pelos ares que se experimenta todo o esplendor logo ao abrir do pano. Verá então da janela do pequeno aeroplano, perfiladas como irmãs de sangue, as quatro ilhas que formam o arquipélago de Bazaruto – além de Benguerra, Santa Carolina e Magaruque. Quem vá de barco, o mais certo é passar o dia numa pescaria e fechar o serão a assar o pargo (ou a lagosta ou o camarão tigre ou o peixe-espada, ou, ou…) no braseiro improvisado na praia onde todos os dias se canta e dança e celebra a simplicidade da vida. A Natureza aqui não foi avara e o povo só se queixa da míngua da língua, aquela que segundo o Estado é portuguesa mas já poucos reconhecem. Se lá for, e quando emalar a trouxa, não se esqueça de empacotar uns dicionários, nem que sejam as edições pré-históricas de Francisco Torrinha. É que não será raro um empregado de hotel (do Benguerra Lodge) como o Castigo (que diz que a mãe estava zangada quando lhe escolheu o nome) pedir-lhe um ‘livro de escola para conhecer o português’. Recordo certa noite, o mesmo Castigo me ter deixado um papelinho debaixo da travessa de lagostas onde estava escrito: ‘mantega, peiche e bonito’, as palavras que segundo ele eram o ‘meu mim’. Lembro-me também que depois, de olhos aguados, me veio perguntar ao ouvido: ‘minino, assim que se escreve as coisas?’
PRAIAS E MARES DESERTOS. Em 30 km de comprimento por 5 de largura na faixa mais ampla, a ilha de Bazaruto, a maior das quatro do arquipélago, há apenas dois resorts com menos de 50 bungalows no total, isto é, um garante de sossego absoluto. O único ruído de fundo vem da caturra Marta, no Bazaruto Lodge e o coro de flamingos que todas as tardes ensaia aulas de voo na praia em frente. De resto, o bungalow 7 do Bazaruto Lodge é o mais que tudo da ‘urbanização’ do grupo Pestana, por razões que depressa se entenderão a quem seguir o nosso conselho. Bazaruto não é, contudo, um destino que quadre em quem não goste de lugares intocados, longe do progresso e dos bens ‘essenciais’ da civilização. Há jacuzzis e massagens mas fazem-se nas ondas, com o corpo virado de costas para a rebentação.
A ideia de lei (e cumprida até ver) é nada entrar em conflito com a Natureza e a regra manda que todos os materiais empregues na construção sejam retirados da ilha e trabalhados por homens da ilha (continua, porém, a faltar uma escola ou um hospital decente). Depois, não há televisão, telefone ou DVD e o telemóvel só tem rede um quilómetro para dentro do mar – recordo, a propósito, uma imagem de um senhor em desespero de causa para ligar a um cliente que arregaçou as calças e se meteu à estrada na baixa-mar. Nem uns 10 metros tinha feito quando começou aos pulos e aos urros como se estivesse a ser atacado por um exército de peixes-aranha. Afinal era a vingança dos recifes de coral. Quem procure isolamento na versão Crusoé deve instalar-se no Bazaruto Lodge, o mais selvagem, incólume e solitário na sua posição dramática sobre o Oceano. É dali que todos os dias se parte à pesca, ao mergulho, à vida. Um castigo.
COZINHA INTERNACIONAL - Há rios de peixe e mariscos. e muitos pratos de criar água na boca. Bom apetite
ONDE COMER?
- Não há restaurantes nas ilhas do arquipélago de Bazaruto mas isso não impede que os resorts sugeridos ofereçam substitutos de primeira linha, em particular o Benguerra Lodge, o mais sofisticado. O chef Gilberto, do Bazaruto Lodge, e as suas ementas inventivas à base de peixe e marisco é conhecido por lhe cobiçarem as receitas. Vai um cheirinho? Lagosta suada ou grelhada ou em bolinhos, lulas ou lulinhas, camarão à descrição e de todos os tamanhos e feitios, e especial atenção ao Vatapá, peixes-espadas, raias, sargos, cabritos, galinhas e galinholas do mato, caju, coco, banana… é só quase esticar a mão.
O QUE COMPRAR?
- Vale a pena comprar qualquer peça de artesanato, primeiro por não haver nada igual e segundo por estar a contribuir para a felicidade do artista que o mais certo é ser o próprio vendedor. Peças em madeira, coco, concha, búzio ou tapeçaria são as mais comuns. Se regatear é para aumentar a oferta e como o povo não é esquisito aceita qualquer moeda, do rand ao dólar, do euro à libra ou mesmo o metical. Nas compras, recuse apenas as peças em recife de coral, cuja venda está proibida.
ONDE DORMIR?
- Benguerra Lodge - www.benguerra.co.za. Tel. 00.271.1.483.2734. Duplo a partir de 350 euros
- Bazaruto Lodge - www.pestana.com. Tel. 00.258.1.30.500. Duplo a partir de 250 euros
- Indigo Bay Island Resort -Tel. 00.271.1.467.1277. www.indigobayonline.com. Duplo a partir de 350 euros
- Marlin Lodge - www.marlinlodge.co.za. Quartos duplos a partir de 450 euros.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.