Guru dos tempos modernos, malabarista da verdade e da mentira.
Umberto Eco (1932-2016) já era um guru nos meios intelectuais, graças aos seus ensaios provocadores nas áreas da filosofia e da crítica literária, quando uma incursão no romance transformou o pacato professor italiano da Universidade de Bolonha numa estrela internacional. ‘O Nome da Rosa’ (os romances estão editados pela Gradiva), publicado em 1980, foi um fenómeno de crítica e de público: vendeu 50 milhões de exemplares em todo o Mundo. Uma história policial ambientada num convento medieval, com muitas referências culturais apimentadas por uns pozinhos de erotismo transgressor, tornou-se um livro de culto. Reincidiu com ‘O Pêndulo de Foucault’, uma paródia muito séria às teorias da conspiração – quem o leu ficou vacinado por antecipação contra ‘O Código da Vinci’. Uma parte da história é passada no Convento de Cristo, em Tomar. Eco brincava com a mentira, como em ‘O Cemitério de Praga’, um livro sobre teorias da conspiração e ‘fake news’. O seu último romance, ‘O Número Zero’, é sobre um jornal cuja principal função é… não sair.
Especialista em semiótica, Eco criou o conceito de intertextualidade, que aplicou tanto nos ensaios como na ficção: múltiplas referências cruzadas a outras obras literárias, à arte, à história, à política, sem esquecer a música ou a banda desenhada. Observador atento do mundo da comunicação, fez previsões acertadas sobre o papel das redes sociais na sociedade atual.
Do livro ‘O Nome da Rosa’, trad. Maria Celeste Pinto, ed. Difel
"(...) Então a criatura aproximou-se de mim ainda mais (…). E enquanto não sabia se fugir dela ou aproximar-me ainda mais, enquanto a minha cabeça pulsava como se as trombetas de Josué estivessem para fazer derrubar as muralhas de Jericó, e ao mesmo tempo desejava e receava tocar-lhe, ela teve um sorriso de grande alegria, emitiu um gemido submisso de cabra enternecida, e desfez os laços que lhe apertavam o vestido sobre o peito, e fez deslizar o vestido do corpo como uma túnica, e ficou diante de mim como Eva devia ter aparecido a Adão no jardim do Éden. (…) fiquei entre os seus braços, e caímos juntos sobre o pavimento nu da cozinha e, não sei se por minha iniciativa ou por artes dela, achei-me livre do meu saio de noviço, e não tivemos vergonha dos nossos corpos (…).
E ela beijou-me com os beijos da sua boca, e os seus amores foram mais deliciosos que o vinho e ao odor eram deliciosos os seus perfumes, e era belo o seu pescoço entre as pérolas e as suas faces entre os brincos, como és bela, minha amada, como és bela, os teus olhos são pombas (dizia), e deixa-me ver a tua face, deixa-me sentir a tua voz, que a tua voz é harmoniosa e a tua face encantadora, fiquei louco de amor (…), fiquei louco com um só olhar teu, com uma só gema do teu pescoço, favo que goteja são os teus lábios, mel e leite sob a tua língua, o perfume da tua respiração é como o dos pomos, os teus seios em cachos, os teus seios como cachos de uva, o teu palato um vinho delicioso que vai direito ao meu amor e flui sobre os lábios e sobre os dentes. (…) nada podia ser mais justo, mais delicioso, mais santo que aquilo que estava sentindo e cuja doçura crescia momento a momento. (...) como o ar inundado pela luz do Sol é transformado no máximo esplendor e na mesma claridade, a ponto de já não parecer iluminado mas de ser ele mesmo luz, assim eu me sentia morrer de terna liquefação (…).
Enquanto, quase esvaído, caía sobre o corpo a que me tinha unido, compreendi, num último sopro de vitalidade, que a chama consiste numa esplêndida claridade, num inato vigor e num ígneo ardor, mas a esplêndida claridade possui-a para reluzir e o ígneo ardor a fim de queimar. Depois compreendi o abismo, e os abismos ulteriores que ele invocava. (…)"
Do livro ‘A Misteriosa Chama da Rainha Loana’, trad. Simonetta Neto, ed. Gradiva
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