Bem-vindo ao maravilhoso mundo do 'whisky'. As próximas palavras revelam todos os segredos deste líquido de ouro.
"Água?" A reacção de Luís Garcia, fundador do Single Malt Club português não deixa dúvidas: aquilo que é para muitos um dos mais importantes elementos no fabrico de 'whisky' não passa na sua opinião de um argumento utilizado para o marketing das destilarias. A sua atenção vai quase toda para os cascos de madeira onde o 'whisky' é envelhecido. A prática de estagiar 'whisky' em barricas de carvalho anteriormente usadas para 'sherry' surgiu algures no século XIX na Grã-Bretanha, na altura um consumidor massivo daquele vinho fortificado. Hoje em dia, porém, é a madeira, de carvalho americano, que levou 'bourbon', o 'whisky' produzido no outro lado do atlântico, a mais utilizada: representa 80 a 90 por cento do total. Alvo de uma chamusca interior em que toda a superfície da madeira fica tostada, a baunilha daquele carvalho, muito espesso, provoca uma caramelização que 'puxa' para a superfície as características da madeira. O estágio em 'bourbon' 'lava' o carvalho desse carácter, que seria excessivamente madeirizado para um 'whisky' cujo estágio em madeira se pode prolongar até várias décadas.
Mas esta nem é a principal diferença quando se fala de 'whiskies'. O segredo está no grão, ou antes, na mistura de. Cereais que pode ir do trigo, milho, aveia, centeio ou cevada, a grande maioria do 'whisky' é feita do que se chama blends, ou seja, o resultado da mistura da destilação de diferentes cereais. A esmagadora maioria dos 'whiskies' no mercado encaixam nessa categoria. Os 'blends' podem ser envelhecidos durante diversos períodos de tempo os quais, ao contrário do que acontece com o porto 'tawny' com indicação de idade, não estão balizados: os 'whiskies' têm a idade que a destilaria entende ser a mais adequada para o perfil do produto que pretendem comercializar, sendo que encontramos contudo "uma maior estandardização nos 'whiskies' de 10, 12 anos".
São com efeito as destilarias quem imprime um cunho próprio ao 'spirit', atingindo o expoente máximo com o 'whisky' de malte. Com uma fatia do mercado que não ultrapassa os 3 por cento, é produzido unicamente a partir de cevada maltada, "um grão de cevada que germinou até ao ponto em que o amido se transformou em açúcar. Deixamos de ter cevada e passamos a ter malte". O açúcar é então dissolvido em água e transformado em álcool por acção das leveduras.
É esta a jóia da coroa para Luís Garcia e os numerosos apreciadores de 'whisky' no mundo inteiro. "Cada coisa no seu contexto, mas acho os 'whiskies' de malte mais interessantes que os blends" (estes últimos podem porém atingir uma complexidade apreciável: menos também aqui é melhor. "Por cada litro de 'whisky' de malte são produzidos 16 litros de blend, que é um processo muito mais industrial e contínuo"). Outra diferença assinalável está no álcool (ou falta dele): "a destilação de 'whisky' de grão atinge 94 por cento de álcool, a de malte fica-se pelos 65, 68 por cento. O que falta é 'preenchido' pelos componentes aromáticos".
Ao contrário do que acontece com os restantes 'whiskies' de malte, aos cask strength não é adicionada água quando são engarrafados, ficando com uma graduação de 57%, muito superior à 'standard' de 40, 43 por cento. Utilizada na secagem do malte, a turfa é um elemento de diferenciação com uma importância decisiva. Resultado da compressão durante centenas de anos da vegetação rasteira característica de extensas zonas da Escócia, a turfa foi antes do aparecimento do carvão e do petróleo um combustível acessível com efeitos secundários que sendo bastante indesejáveis para quem a ela recorria - atingia temperaturas pouco elevadas e provocava um fumo espesso - vêm a revelar-se como preciosas no processo de destilação. "Feita a 45 graus centígrados, a secagem do malte não mata as enzimas que transformam o amido em açúcar", explica Luís Garcia.
Para um iniciado há mais termos num rótulo que necessitam de tradução, como 'single cask' ou 'vintage'. Este último não tem nada a ver com a definição dada à mesma palavra no campo dos vinhos: "tem a ver com os cascos onde eles envelheceram. A decisão de definir um determinado 'whisky' como 'vintage' não tem a ver com o 'segredo' da cevada naquele ano, mas sim com aquele lote de cascos definidos pela empresa como adequados para o que se quer exprimir". Quanto ao single cask "é um 'whisky' de um casco só, com tudo o que tem de vantagens e inconvenientes. Se se fazem 300 garrafas de um único casco, quando se bebe a número 300, acabou!"
Uma lágrima (líquido que escorre pela superfície do vidro após girar o 'whisky' no copo) espessa indica um 'spirit' mais velho. O Glenmorangie 10 anos estava nos antípodas: a lágrima escorria com muita facilidade e a direito. Este 'whisky' das terras altas característico pelas suas notas mais florais e vegetais, com predominância da urze, «pode funcionar bem como aperitivo», sugere Luís Garcia. Há outra diferença entre 'whiskies' velhos e novos: a evaporação do álcool. Acentuada em climas muito húmidos, é superior à da água, e o 'whisky' resultante perde em graduação; se estagiado em climas muito secos, como acontece com determinados 'bourbons', o fenómeno é inverso e temos no final menos volume, mas um spirit com mais álcool do que aquele com que chegou.
Indispensáveis em todo o processo de prova de 'whisky' de malte são os copos. Tal como com o vinho, é necessário que aqueles tenham a já conhecida forma de túlipa para dar oportunidade aos aromas para se revelarem. "Uma boa parte do prazer da prova de 'whisky' está na apreciação aromática". Para obter mais informações visite o site www.'whisky'.com.pt.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.