O algodão poderá tornar-se uma cultura com grandes potencialidades económicas no Alentejo. No primeiro ano de produção desta cultura, em 2001, alguns agricultores conseguiram obter rendimentos líquidos da ordem dos três mil euros por hectare, o que torna o algodão uma das culturas mais rentáveis em Portugal.
Com uma área de apenas 453 hectares, concentrada no Baixo Alentejo, a produção deverá rondar este ano as 1500 toneladas, a quota simbólica atribuída a Portugal pela Comissão Europeia. Em 2001, cultivaram-se 213 hectares, que proporcionaram uma produção de 600 toneladas.
Sendo a produtividade média de três toneladas por hectare, o rendimento médio líquido rondou os 1.250 euros por hectare, ainda que alguns agricultores tenham conseguido facturar três mil euros por hectare. Para Maria Josefa Ferreira, técnica da Cotslax, empresa privada portuguesa que está a conduzir a implantação da cultura em Portugal, "o algodão é uma cultura muito rentável".
Com potencialidades para gerar rendimentos líquidos da ordem dos três mil euros por hectare, "o algodão está ao nível da beterraba, sendo as duas culturas mais rentáveis neste momento", sublinha aquela responsável. Prova disso é que um agricultor, hoje com 76 anos, que produziu algodão nos anos 50, quando a cultura foi introduzida no Alentejo, conta que já nesse tempo ganhou dinheiro com esta cultura, apesar de a colheita ser então feita à mão.
Não admira que os agricultores alentejanos estejam a revelar "bastante interesse no algodão", até "porque têm os regadios instalados e precisam de ter culturas para os rentabilizar", explica Maria Josefa Ferreira. Com "os regadios que não são aproveitados, como a barragem de Odivelas", o Alentejo tem condições para que a cultura do algodão possa ser desenvolvida na região portuguesa mais desertificada. Mais do que a inexistência de condições climáticas e hídricas, o maior obstáculo ao desenvolvimento da cultura é a escassa quota atribuída a Portugal.
É que, segundo a técnica da Cotslax, "dentro de cinco a 10 anos não é nada descabido ter algodão em cerca de 10 mil hectares, que é o máximo que a cultura pode atingir no Alentejo". Além do Baixo Alentejo, em especial a zona de Ferreira do Alentejo e Beja, a região de Campo Maior reúne também condições climáticas apropriadas para a cultura do algodão.
O algodão é uma cultura exigente em condições climatéricas: "abaixo dos 15º centígrados não se desenvolve e acima dos 40º centígrados também não", explica Maria Josefa Ferreira, técnica da Cotslax. E, assim sendo, a sementeira só pode ser feita a partir de 20 de Março, podendo ir até ao final de Abril.
A colheita, por seu lado, faz-se no final de Setembro. As máquinas recolhem o algodão, que depois é descaroçado em Espanha. Depois da semente ser separada da fibra, esta é encaminhada para a fiação, onde o algodão é transformado em fio. E este, por sua vez, é dirigido posteriormente para a indústria têxtil.
Substituir cereais por cultura mais rentável
Cerca de quatro hectares de cultivo de algodão caroço iniciam a "aventura" do agricultor João Guiomar numa colheita que está a dar os primeiros passos no nosso País. Com poucos conhecimentos sobre a mesma, este agricultor de Quintos, Beja, espera com grande ansiedade para ver como corre o negócio.
Com 18 anos de trabalho na terra, João Guiomar sabe que os baixos preços dos cereais não o deixam continuar neste tipo de exploração. Assim e com a ajuda de engenheiros espanhóis, compradores andaluzes e produtos de além--fronteiras, faz uma aposta num produto que, à partida, lhe vai encher bastante mais os cofres.
"O algodão é muito subsidiado pelo que se um dia nos tiram o tapete ficamos aflitos. Neste momento, com os preços actualmente praticados, é fácil constatar que ganharei cinco ou seis vezes mais do que se tivesse optado pelo trigo ou pela cevada", explicou ao CM.
Bastante trabalhosa, esta cultura necessita de máquinas específicas para o cultivo e apanha do produto, equipamentos de que os nossos agricultores não costumam dispor. Para os auxiliar, a cooperativa espanhola que compra o algodão, neste caso disponibiliza a maquinaria indispensável.
De Espanha chegam também os produtos para aplicar durante o desenvolvimento da planta. Actualmente é ainda difícil encontrar produtos homologados no nosso País. Esperançado numa boa colheita, João Guiomar pensa já em cultivar para o ano 13.5 hectares de algodão, os quais serão regados por pivot.
Fábrica de descaroçar em Ferreira do Alentejo
A Cotslax, a empresa portuguesa que acompanha a instalação da cultura do algodão em Portugal sem apoios públicos, pretende construir uma fábrica de descaroçamento de algodão em Ferreira do Alentejo. Segundo Maria Joaquina Ferreira, técnica da firma, "a empresa quer instalar a fábrica com máquinas e técnicos de Espanha, quando aumentar a quota de produção de algodão para Portugal".
Com “esta quota não dá para a fábrica laborar", afirma. Sendo a indústria têxtil nacional uma grande consumidora de fibra de algodão, a ideia da Cotslax é abastecer as empresas têxteis nacionais com fibra de algodão produzido em Portugal.
O Governo já está a negociar com a Comissão Europeia um aumento da quota portuguesa e não deverá ser difícil conseguir esse objectivo, até porque a Espanha e a Grécia são os únicos Estados-membros produtores de algodão.
As expectativas da Cotslax é que no prazo de um ano, no máximo dois anos, a quota portuguesa de algodão seja aumentada.
A cultura do algodão no Alentejo remonta aos anos 50, quando por questões políticas ligadas ao algodão das ex-colónias foi travada. Nessa altura, existiu uma fábrica de descaroçamento entre Ferreira do Alentejo e Beja.
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