Trabalho de Centeno nos últimos meses, no quadro da resposta económica à crise provocada pelo «Grande Confinamento» na Europa, parece ficar como um dos seus principais 'legados'.
O anúncio da saída de Mário Centeno da presidência do Eurogrupo suscitou uma série de reações elogiosas na União Europeia, que reforçam a ideia de que o ministro português tinha todas as possibilidades de ser reconduzido, caso o desejasse.
Pouco depois de o primeiro-ministro António Costa ter anunciado, em Lisboa, que Mário Centeno, por sua própria vontade, deixa a pasta das Finanças -- dando lugar, já na próxima segunda-feira, a João Leão, até agora secretário de Estado do Orçamento --, sucederam-se os elogios na Europa ao trabalho "árduo" desenvolvido pelo ministro português à frente do Eurogrupo, que abandonará cumprido o seu mandato, em 13 de julho.
Do presidente do Conselho Europeu a comissários europeus e a homólogos de Centeno, como o "bom amigo" alemão Olaf Scholz, ouviram-se apenas elogios, incluindo do 'famoso' ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, que salientou a capacidade do ministro português de criar consensos, enquanto garantia que não é candidato à sucessão.
E a 'corrida' à sucessão a Centeno começará já esta semana, tendo o próprio anunciado que na reunião de quinta-feira do Eurogrupo vai lançar a abertura de candidaturas, apontando-se neste momento como potenciais concorrentes a ministra da Economia espanhola, Nadia Calviño -- das primeiras a reagir com rasgados elogios ao "excelente trabalho" do seu homólogo português -- e o ministro luxemburguês Pierre Gramegna.
Contudo, a sensação que fica em Bruxelas é que Mário Centeno tinha a reeleição ao seu alcance caso decidisse concorrer a um segundo mandato no próximo mês, para mais no atual contexto de resposta europeia à profunda crise económica causada pela pandemia de covid-19, que, paradoxalmente, lhe valeram muitos dos elogios de que agora é alvo na hora da despedida.
Num mandato que começou, em 2018, com o feito da 'saída limpa' da Grécia do seu programa de assistência no verão desse ano, que pôs fim à série de 'resgates' na Europa na sequência da anterior crise económica e financeira, e que teve alguns 'altos e baixos', contando-se entre estes últimos o trabalho incompleto no aprofundamento da União Económica e Monetária e o fracasso do orçamento próprio da zona euro (o chamado instrumento orçamental para a convergência e competitividade, que motivou mesmo um 'choque' entre Centeno e Costa), o final é marcado pela maior contração da história da economia da zona euro.
Contudo, o trabalho de Centeno nos últimos meses, no quadro da resposta económica à crise provocada pelo «Grande Confinamento» na Europa, parece ficar como um dos seus principais 'legados', e disso mesmo hoje deram conta vários responsáveis, que lembraram o acordo alcançado no Eurogrupo de abril passado em torno das chamadas «redes de segurança» para Estados, empresas e trabalhadores, num montante global de 540 mil milhões de euros.
O ministro alemão, Olaf Scholz, elogiou o "trabalho notável" do "bom amigo" Mário Centeno em Portugal e na Europa, destacando o seu "papel significativo" enquanto presidente do Eurogrupo na resposta à crise da covid-19.
"Mário Centeno é um bom amigo e eu gostei de trabalhar com ele. Ele fez um trabalho notável enquanto ministro das Finanças de Portugal e enquanto presidente do Eurogrupo. Desempenhou um papel significativo na luta da UE contra a pandemia do coronavírus", escreveu Scholz na sua conta na rede social Twitter.
Hoekstra, o ministro que se tornou 'famoso' em Portugal por ter indignado o primeiro-ministro António Costa e os países do sul da Europa - devido a intervenções numa reunião do Eurogrupo em março, das quais se retratou posteriormente, admitindo que havia mostrado "pouca empatia" -, salientou curiosamente a capacidade de Centeno em aproximar os Estados-membros.
"Obrigado, Mário Centeno, pelo importante trabalho desenvolvido durante o seu mandato como presidente do Eurogrupo. Com grande envolvimento e integridade, velou pelos interesses da zona euro, promovendo ao mesmo tempo a cooperação entre os Estados-Membros. Tudo de bom nas novas funções", escreveu.
Outros ministros a deixarem rasgados elogios a Centeno foram a espanhola Nadia Calviño e o francês Bruno Le Maire.
"Obrigado, caro Mário Centeno, pelo seu excelente trabalho, tanto em Portugal como enquanto presidente do Eurogrupo", escreveu a ministra espanhola.
Por seu lado, Bruno Le Maire conversou com o ministro português hoje à tarde, para lhe "agradecer calorosamente e felicitá-lo pela qualidade do seu trabalho", indicou o seu gabinete.
Também Le Maire salientou "a excelente cooperação que Mário Centeno conseguiu construir com todos os ministros da zona euro, particularmente por ocasião do acordo sobre o pacote de 540 mil milhões de euros no Eurogrupo de 09 de abril".
Já a Comissão Europeia prestou tributo a Mário Centeno pelo trabalho no Eurogrupo, destacando o contributo que a sua "liderança e experiência" deram à resposta europeia à crise da covid-19, disse à Lusa um porta-voz.
"A Comissão presta homenagem a Mário Centeno pelo importante papel que desempenhou no reforço da resiliência da zona euro enquanto presidente do Eurogrupo. A sua liderança e experiência ajudaram a zona euro a responder com rapidez, força e coordenação às consequências da pandemia de coronavírus", declarou à Lusa um porta-voz do executivo comunitário.
Antes, já o vice-presidente executivo Valdis Dombrovskis e o comissário da Economia, Paolo Gentiloni, haviam deixado, na rede social Twitter, elogios ao trabalho de Centeno no Eurogrupo, em reações ao anúncio do próprio na mesma rede social de que está de saída.
Dombrovskis, responsável pela pasta de "Uma Economia ao Serviço das Pessoas", agradeceu ao até agora ministro das Finanças português por ter "ajudado a chegar rapidamente a um acordo sobre as medidas de resposta à crise do novo coronavírus", no seu papel de líder do fórum de ministros da zona euro.
O anúncio da despedidade de Centeno também foi assinalado pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que agradeceu igualmente ao ministro português o seu "trabalho árduo" na Europa e a "excelente cooperação", sublinhando desde já que que "o Eurogrupo tem de continuar a preparar o terreno para uma recuperação económica forte", já que "a covid-19 estagnou a economia, mas acelerou a determinação da UE em reconstruir melhor".
Ao anunciar hoje que não concorrerá a um segundo mandato, Centeno esclareceu que vai cumprir o atual até ao final (13 de julho) e dirigirá ainda a eleição para encontrar o seu sucessor, em 09 de julho.
Eleito em 04 de dezembro de 2017 para a presidência do Eurogrupo, por um período de dois anos e meio, Centeno despedir-se-á assim do cargo em julho, tornando-se o primeiro presidente do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro a cumprir apenas um mandato. Atendendo às reações de hoje, só não fará um segundo mandato porque entendeu seguir outro rumo.
Centeno foi o terceiro presidente do Eurogrupo, depois do luxemburguês Jean-Claude Juncker (2005-2013) e do holandês Jeroen Dijsselbloem (2013-2018).
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