Estará em cima da mesa um plano de despedimentos de cerca de duas mil pessoas, 25% da força laboral da empresa.
Quinze dias passados desde a data prevista, mas cancelada, para apresentação dos resultados trimestrais, o que alarmou o mercado, fonte oficial da Farfetch avançou esta sexta-feira à agência Lusa não haver ainda dia marcado para divulgação das contas.
Após dois anos de lucro em 2021 e 2022, beneficiando do 'boom' do comércio 'online' durante a pandemia, a plataforma de venda de marcas de luxo fundada em 2008 por José Neves - com sede fiscal em Londres e que foi o primeiro "unicórnio" português ('startup' avaliada em mais de mil milhões de euros) - voltou aos prejuízos nos últimos quatro trimestres.
No segundo trimestre deste ano, a empresa reportou perdas de 258 milhões de euros (281,3 milhões de dólares), face ao lucro de 62 milhões de euros (67,6 milhões de dólares) do período homólogo, tendo as receitas caído para 526 milhões de euros (572 milhões de dólares, face a 579 milhões no período homólogo) e o EBITDA (resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) ajustado do grupo piorado para 28 milhões de euros negativos (30,5 milhões de dólares negativos).
A mais recente apresentação de resultados da Farfetch, relativos ao terceiro trimestre deste ano, estava prevista para o passado dia 29 de novembro, altura em que se esperavam também novidades ao nível da estratégia e gestão, mas foi desmarcada pela empresa, que remeteu para "devido tempo" uma atualização ao mercado.
"A empresa espera fornecer uma atualização de mercado no devido tempo", lê-se numa breve nota então divulgada. "Neste momento, não fornecerá quaisquer previsões ou orientações, e quaisquer previsões ou orientações anteriores não deverão ser consideradas confiáveis", acrescenta.
Contactada pela agência Lusa, fonte oficial da Farfetch não apontou uma nova data para apresentação dos resultados trimestrais, reiterando a posição da empresa de "não fazer comentários".
O adiamento da divulgação dos resultados financeiros teve reflexos imediatos nas ações da tecnológica, que registaram uma queda acentuada na bolsa de Nova Iorque, perdendo metade do seu valor para se cotarem abaixo de um dólar. Em 21 de setembro de 2018, data da sua estreia na bolsa em Wall Street, EUA, os títulos da Farfetch cotavam-se ao preço unitário de 28,45 dólares.
Neste contexto, o jornal britânico The Telegraph avançou que José Neves estará em conversações com investidores e banqueiros para retirar a empresa de bolsa, contando com o apoio de parceiros como a gigante chinês de comércio eletrónico Alibaba e o conglomerado suíço de luxo Richemont (dono do 'site' de moda 'online' Yoox Net-a-Porter).
Ambas as plataformas investiram mais de 300 milhões de dólares (cerca de 273 milhões de euros) na Farfetch em novembro de 2020, aquando do lançamento da Farfetch China. Entretanto, em cima da mesa estará um plano de despedimentos que inicialmente apontava para 800 trabalhadores, mas que face à atual situação da empresa se admite que poderá ser alargado para 1.700 ou 2.000 pessoas, ou seja, quase 25% da força de trabalho da companhia.
Ao mesmo tempo, a Farfetch está a ser visada numa ação judicial coletiva nos Estados Unidos, que deu entrada em outubro passado no tribunal de Maryland e em que se alega que a empresa terá feito "afirmações enganadoras" e omitido informação relevante ao mercado, prejudicando os investidores.
Intitulada "Ragan v. Farfetch Limited", a ação argumenta que a companhia não informou devidamente os visados sobre a trajetória descendente na bolsa. Com base neste pressuposto, os advogados têm vindo a reunir vários investidores que se sentem lesados por uma suposta fraude de valores mobiliários entre 9 de março e 17 de agosto de 2023, tendo os visados até 19 de dezembro para se juntar à ação promovida pelo escritório Levi & Korsinsky.
Ainda assim, o já considerado "ex-unicórnio" português - atualmente a empresa estará avaliada em menos de 300 milhões de dólares - angariou recentemente um novo investidor, o milionário Steven Cohen, dono da equipa de basebol New York Mets, que, com a Point72 Asset Management e outras entidades associadas, adquiriu uma participação de 5,1% na Farfetch.
Em Portugal há ainda receios de que a atual situação da empresa possa vir a ameaçar a concretização do projeto imobiliário Fuse Valley, em Leça do Balio, no concelho de Matosinhos, um mega investimento de 200 milhões de euros partilhado com a construtora bracarense Castro Group que prevê a edificação de um centro de investimento tecnológico em terrenos junto à EN14 (Via Norte).
Inicialmente estimada para o final de 2025, a inauguração da primeira fase do projeto passou para o segundo semestre de 2026/janeiro de 2027, segundo informou em março passado o promotor, refletindo a demora no processo de licenciamento. Já as duas fases restantes do empreendimento deverão estar concluídas entre 2027 e 2030.
O projeto prevê a construção de 24 edifícios que vão albergar escritórios, habitações, um hotel e vários serviços, estimando a Câmara de Matosinhos a criação de 12.000 postos de trabalho qualificado no setor terciário e das tecnologias de informação e que a "significativa" criação de emprego contribua para a eventual fixação de novos residentes.
Parte "substancial" dos escritórios será ocupada pela Farfetch, enquanto o hotel vai ter 70 quartos e ocupar uma área de 12.000 metros quadrados, para onde estão previstos vários espaços comuns como salas para eventos, congressos, espaços de 'coworking' e spa.
Na passada quarta-feira, o ministro da Economia garantiu estar a "acompanhar com atenção o que se está a passar" na Farfetch, sustentando que as empresas "têm altos e baixos".
De acordo com o Eco, António Costa Silva disse esperar que a situação "possa ser estabilizada e a Farfetch possa regressar àquilo que foi antes": "Era um dos nossos grandes unicórnios", sustentou.
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