A deslocalização de empresas causou mais de nove mil desempregados – afectando directamente a vida de 27 mil pessoas – em apenas três anos. O último caso é o da Johnson Controls, que até Julho de 2007 vai despedir 875 trabalhadores devido ao encerramento das suas fábricas em Nelas e Portalegre.
Desde 2003, 40 empresas encerraram ou reduziram a sua produção em Portugal para se instalarem noutros países – sobretudo do Leste europeu e da Ásia. O sector eléctrico foi o mais atingido, onde os despedimentos atingiram cinco mil trabalhadores de 19 empresas. Nos sectores têxtil e metalúrgico foram afectados mais de duas mil pessoas, de dez unidades fabris.
Agora, é a vez do sector de componentes para automóveis agravar a situação, com o encerramento das unidades fabris da Johnson Controls em Nelas e Portalegre. No primeiro concelho serão afectadas 650 pessoas – 580 mulheres e dezenas de casais que ali trabalham. É o maior problema sociolaboral desde o encerramento dos fornos eléctricos e das minas da Urgeiriça.
O comércio, as pequenas fábricas que trabalhavam para a Johnson Controls e empresas transportadoras também vão sofrer as consequências da deslocalização da empresa americana para o Leste da Europa.
Amadeu Santos, da União de Sindicatos de Viseu, considera o encerramento uma “tragédia social” para a região. “Em Nelas está a laborar uma empresa de tecidos, com duas dezenas de trabalhadores, que tinha como único cliente a fábrica da Johnson. Agora também se vê ameaçada. E como esta haverá muitas mais”, afirma o responsável para explicar o efeito de dominó causado pelo fecho da Johnson Controls, a segunda maior empregadora do distrito de Viseu.
“Resta-nos emigrar!”, desabafa Afonso Oliveira, que trabalhava na empresa há oito anos com a mulher. “Nós aqui não temos muitas alternativas de trabalho. Não sei como vai ser. Sou novo ainda, tenho 43 anos, mas o pior é a família. Vamos ver se há propostas de trabalho”, adianta João Pires, operário em Portalegre. E o problema é transversal a toda a economia local. “É lógico que as pessoas vão ter menos dinheiro na carteira para comprar artigos. Vai ser mau para todos”, refere Maria Pinto, dona de uma loja em Nelas. “Se as pessoas já tinham pouco dinheiro agora vão ficar sem nenhum.”
Para se perceber o impacto que tem o fecho da multinacional em Nelas, basta referir que o número de desempregados deverá subir 9,5 por cento no distrito de Viseu. Em finais de Agosto, havia 6867 indivíduos desempregados, ou seja, onze cento do total da região Centro e dois por cento da totalidade do País.
GOVERNO À PROCURA DE SOLUÇÃO
O secretário de Estado da Indústria garantiu ontem à presidente da Câmara de Nelas que o Governo está disponível para acompanhar de perto o futuro da Johnson Controls e dos seus trabalhadores.
Segundo um comunicado da autarquia, Castro Guerra e a presidente da Câmara debateram o encerramento da Johnson Controls e definiram um conjunto de medidas que visam ou reverter a decisão ou minimizar as consequências.
O governante “manifestou a disponibilidade do Governo para acompanhar de perto a situação e ajudar a encontrar uma solução” e prontificou-se a contactar a empresa “ao mais alto nível” para que “reveja a decisão ou incremente um programa de investimentos que substituam os que agora pretende deslocalizar”.
DEVIAM FAZER PARTE DE UMA LISTA NEGRA
As duas centrais sindicais estão a acompanhar com “preocupação” o encerramento das empresas que estão a deslocar a sua produção para outros países e são unânimes em defender uma intervenção “eficaz e atempada” do “poder político”, nomeadamente na definição de regras que evitem o despedimento dos trabalhadores.
Vítor Coelho, da Comissão Permanente da UGT, defende a reciclagem e a preparação dos trabalhadores para serem integrados em novas empresas, enquanto José Ernesto Cartaxo, membro da comissão executiva da CGTP-IN, propõe também a criação, pela União Europeia, de uma ‘lista negra’ com essas empresas ou grupos económicos que teriam ainda de devolver os subsídios que receberam quando se instalaram.
OPERÁRIOS NÃO ESPERAVAM FECHO
TRISTEZA
“Estou muito triste com o fecho desta empresa, que era a nossa segunda casa. Trabalhava aqui há 13 anos, dei muito de mim”, diz Ermengarda Guerra, 42 anos.
SURPRESA
Fernando Correia, 44 anos, não compreende o fecho: “Estamos sem saber o que fazer. Disseram que vão fechar a fábrica porque a mão-de-obra é cara”.
DESILUSÃO
“Trabalhava aqui há oito anos. Estamos desiludidos porque nada apontava para isto. A fábrica estava no pleno da sua produção”, conta Afonso Oliveira, 35 anos.
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