Carolina, mais nervosa do que é normal, voltou a acusar Pinto da Costa perante um juiz. No Tribunal de Instrução Criminal do Porto, onde foi ouvida no âmbito da instrução requerida pelo presidente da SAD azul e branca, Carolina descodificou uma escuta telefónica que serviu para a acusação.
“Ouvi a conversa. Estavam a falar em código, diziam fruta, fruta para dormir, e café com leite. Quando desligou, o Jorge Nuno disse-me que o Araújo ia contratar prostitutas para o Jacinto Paixão”, afirmou a ex-companheira de Pinto da Costa, cujo depoimento foi validado pela equipa de Maria José Morgado e fundamentou a reabertura do inquérito.
Carolina devia ter sido ouvida ontem como testemunha no julgamento do caso ‘Apito Dourado’, no Tribunal de Gondomar – mas faltou para depor no Tribunal de Instrução do Porto contra o ex-marido. Em causa está um caso de corrupção, que terá antecedido o jogo FC Porto-Estrela da Amadora, na época 2003/2004. A PJ interceptou chamadas entre Araújo e Pinto da Costa, onde aqueles alegadamente combinavam que a contrapartida para a equipa de arbitragem beneficiar os portistas seria a “oferta” de uma noite com prostitutas aos homens do apito.
As mulheres – três brasileiras – foram depois ouvidas no processo mas o depoimento poderá não ser validado em tribunal por não ter sido sujeito ao contraditório.
Jacinto Paixão e os árbitros auxiliares foram acusados de corrupção passiva e Pinto da Costa, António Araújo e Reinaldo Teles de corrupção activa.
“Discutiam as preferências sexuais dos árbitros”, disse ainda Carolina ontem no tribunal, lembrando que Araújo e Pinto da Costa “falavam com ironia” sobre a possibilidade de um dos elementos da equipa de arbitragem ser “paneleiro”,
A testemunha explicou ainda que António Araújo e Pinto da Costa eram muito próximos. Aquela conhecera o empresário ainda no Calor da Noite – boite portuense onde trabalhou como alternadeira – mas depois apercebeu-se de que Araújo também negociava jogadores. “Era visita de casa”, explicou Carolina, que recusou a possibilidade de os dois arguidos estarem a falar sobre outra matéria que não sobre o jogo dos dias seguintes. “Eles falavam de prostitutas por código. Era sempre assim”, concluiu.
Ainda no interrogatório de ontem – a última diligência que será feita no âmbito da instrução do processo –, Carolina não soube explicar quando tomou conhecimento de que a escuta existia formalmente nos autos. Se antes ou depois de ter escrito o livro. “No livro procurei salvaguardar-me”, justificou. No final da diligência, o juiz anunciou que o debate instrutório só deverá ser feito depois da Páscoa. A decisão, se o caso segue ou não para julgamento, deverá ser conhecida em Abril.
ÁRBITRO MOSTRA PRENDA DE OURO
“Se quiser até o posso mostrar.” E mostrou mesmo. À pergunta do juiz António Carneiro da Silva se, na sua carreira, recebeu alguma coisa do Gondomar, o árbitro Sérgio Pereira não o negou. “Estou aqui para falar a verdade. Recebi um apito dourado, não sei se é de ouro mas é dourado, e uma medalha dos 25 anos do Gondomar”, respondeu, antes de exibir os dois objectos em pleno tribunal.
Perante o minúsculo tamanho do apito dourado, da bancada dos advogados de defesa houve quem não resistisse a exclamar um irónico “uau!”. Já quanto à medalha, foi Pedro Alhinho, advogado de Castro Neves, o comentador de serviço. “Se estivesse aqui a ASAE, diria que está fora do prazo”, referindo-se ao artefacto celebrativo dos 25 anos de um clube que nasceu em 1921.
A entrega dessas lembranças data de 2000, de um jogo entre Gondomar e Leixões. Contudo, Sérgio Pereira desmentiu qualquer tipo de privilégio à equipa da capital da ourivesaria: “Em sete jogos que arbitrei o Gondomar, dois deles em iniciados, não ganharam nenhum.”
Em 2000, José Luís Oliveira ainda não era dirigente do Gondomar mas em 2003, como presidente, não se coibiu de telefonar a Pereira, prometendo-lhe “umas coisinhas” no final do Gondomar-Paredes (1-2).
“Entrou a 10, saiu logo a 150. Na nossa cabeça só entra aquilo que queremos, e eu só estava concentrado no jogo”, apontou Sérgio Pereira, antes de negar que tenha depreendido ser necessário beneficiar a turma gondomarense. “Aliás”, continuou, “se o sentisse faria constar esse facto do relatório”.
"NÃO ACEITARIA NENHUMA LISTA"
Jorge Pombo está na arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol desde 1963 e ontem, como testemunha de acusação, não conteve elogios a Pinto de Sousa, que, segundo Pombo, “foi o melhor presidente dos árbitros até hoje”. Porém, não teve dúvidas quando o juiz Carneiro da Silva lhe falou de listas. “Não aceitaria nenhuma lista de árbitros, até porque seria incorrecto escolher por vontade do clube e não pela qualidade dos árbitros e especificidade do jogo.”
PINTO DA COSTA AUSENTE
Pinto da Costa foi ontem o grande ausente do Tribunal de Instrução Criminal do Porto. Embora tenha sido um dos arguidos que requereram a abertura de instrução – contestando a Acusação pública –, o presidente da SAD portista não compareceu para ouvir Carolina, cujo depoimento foi usado na reabertura do processo.
A sua atitude era, no entanto, esperada, já que também o tinha feito no caso que envolve o jogo Beira-Mar - FC Porto. Carolina Salgado foi igualmente chamada a testemunhar e o dirigente não compareceu. É previsível que no debate instrutório, cuja data ainda não está marcada, Pinto da Costa esteja presente. Na decisão instrutória deverá voltar a faltar, já que depois lhe será notificada pelo seu advogado. Ambas devem ser marcadas proximamente.
JUIZ DECIDE SE VALENTIM VAI SER JULGADO
A juíza do Tribunal de Instrução Criminal do Porto que aprecia o processo em que Valentim Loureiro é acusado de corrupção activa, e que envolve o jogo Boavista-Estrela da Amadora, deverá pronunciar-se hoje se o caso vai ou não a julgamento. No entanto, advogados, arguidos e magistrados combinaram que as notificações serão feitas por correio, só devendo a decisão ser conhecida amanhã. No dia do debate instrutório, há cerca de 15 dias, Valentim mostrou-se convencido de que não será pronunciado. “Vou ganhar 15-0”, disse à entrada do tribunal, referindo-se ao número de certidões extraídas do processo. Refira-se ainda que esta acusação já foi deduzida pela equipa de Morgado.
OUTRAS ACUSAÇÕES A PINTO DA COSTA
2500 EUROS
Pinto da Costa é acusado de corrupção no Beira-Mar - FC Porto (0-0), de 2003/04. Dois dias antes, recebeu Augusto Duarte na sua casa da Madalena, em Vila Nova de Gaia, e terá entregue ao árbitro um envelope que, segundo Carolina Salgado, continha 2500 euros.
NACIONAL
Outra das acusações ao presidente portista é referente ao Nacional-Benfica, em que os encarnados perderam por 3-2. Também acusados são o empresário António Araújo e o árbitro Augusto Duarte, ambos apanhados numa escuta dias antes do jogo na Madeira.
DIFAMAÇÃO
“Luzes e sombras” é o título do livro que levou à acusação de ofensa grave ao Ministério Público (MP). Nessa obra, o presidente portista é citado numa frase em que compara o MP à PIDE. São também acusadas as autoras Felícia Cabrita e Ana Sofia Fonseca.
"E QUEM PAGOU?"
O árbitro Aníbal Gonçalves disse não se recordar quem pagou o seu jantar com Luís Oliveira e um árbitro-auxiliar
OURIVES OUVIDO HOJE
Na sessão de hoje, serão ouvidos inspectores da PJ e, de tarde, ourives gondomarenses ligados ao ‘Apito’
AGREDIDO DUAS VEZES
O árbitro Sérgio Pereira tem dois processos contra dirigentes desportivos, por agressão e incitação à violência
- "Quando desligou o Jorge Nuno disse-me que iam contratar prostitutas para o Jacinto Paixão" Carolina salgado
- "Os dois homens falavam com ironia. Discutiam se [um dos árbitros] era paneleiro" Carolina Salgado
- "É patente a deturpação da verdade desportiva e a contrapartida de favores sexuais " Despacho do MP
- "A credibilidade da testemunha resulta da sua proximidade com os acontecimentos" Despacho de M. J. Morgado
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