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Vírus chegam aos telemóveis

Uma simples mensagem – ‘caribe sis’ – instala o caos no aparelho. A bateria descarrega-se rapidamente, é impossível fazer ou receber chamadas e nem se consegue desligar o telemóvel. Transmitido através da tecnologia ‘bluetooth’, o vírus afecta os aparelhos de terceira geração.

06 de fevereiro de 2005 às 13:00

Um toquezinho polifónico anuncia a chegada de uma mensagem num telemóvel de última geração. Ao abrir um ficheiro misterioso, o utilizador vê aparecer no pequeno ecrã uma palavra inocente, como um destino turístico. Nada de assustador, mas a partir daí o aparelho passa a ter comportamentos estranhos e, em certos casos, a ficar sem bateria muito rapidamente. É mais ou menos assim que actuam alguns vírus informáticos feitos exclusivamente para telemóveis, que se estão a alastrar pelo Mundo. E já há casos de aparelhos infectados em Portugal.

Uma mensagem que dizia “caribe sis” ‘entrou’, há uma semana, no telemóvel de Marisa Figueiredo, assistente administrativa de 30 anos. Não resistiu a clicar, curiosa sobre a extensão SIS, que associou à sigla de Serviços de Informações de Segurança. Depressa percebeu que fizera mal. “A bateria descarregou e sempre que voltava a carregá-la não durava mais de 20 minutos. Tornou-se impossível fazer chamadas, recebê-las e até desligar o aparelho.”

Marisa afirmou ter sido avisada pela TMN, via SMS, acerca da impossibilidade de localizar o remetente da mensagem “caribe sis”. O telemóvel – modelo Nokia 3650 – esteve infectado durante dois dias. Como não desse sinais de melhoras, Marisa diz que se dirigiu aos serviços da TMN, onde lhe explicaram que o aparelho tinha sido atacado por um vírus propagado pelo sistema ‘bluetooth’, que transmite informação a curta distância. O funcionário gravou toda a informação no cartão do telemóvel. O CM tentou contactar o representante da Nokia em Portugal. Foi dito ser possível – era sábado.

AMEAÇA

Surgido no ano passado, o vírus Cabir celebrizou-se por ser o primeiro em telemóveis e por provar que estes aparelhos não estão imunes ao inimigo principal dos computadores pessoais. O Cabir é um vírus do tipo ‘worm’ (verme, em inglês) que usa a tecnologia ‘bluetooth’ para espalhar-se, dissimulando-se num ficheiro com o nome “caribe.sis”. Entre os efeitos do Cabir e suas variantes contam-se o “desaparecimento de ícones nos visores dos telemóveis” e a “substituição no ecrã inicial do nome da rede usada pela palavra caribe”, explicou Pedro Reis, da Motorola-Portugal.

As últimas variantes do ‘worm’ podem interferir nas chamadas e gastar rapidamente a bateria do telemóvel, além de se autoenviarem para outros aparelhos. Para Reis, “os vírus para telemóveis estão ainda numa fase muito inicial e não representam, para já, um perigo, mas teoricamente são uma ameaça”. De acordo com o responsável, “a indústria já está a investir no de-senvolvimento de programas anti-vírus para os telemóveis”.

VELASCO, A AMEAÇA QUE VEIO DO BRASIL

No início deste ano, surgiu um ‘worm’ chamado Velasco, de origem brasileira. A empresa de segurança F-Secure emitiu um alerta contra esse vírus, que se transmite entre aparelhos que estejam em contacto através da tecnologia ‘bluetooth’, afectando telemóveis que utilizem o sistema operativo Symbian. O utilizador recebe uma mensagem com o ficheiro designado ‘velasco.sis’, que não deve em circunstância alguma instalar.

OPERADORAS ESTÃO PREOCUPADAS

As operadores de telefones móveis manifestam preocupação em face de uma eventual praga de vírus, mas sustentam que ainda não foram confrontadas com qualquer caso. “Não registámos nada de preocupante”, afirmou Teresa Vilar, directora de Comunicação da TMN, admitindo que, com o acesso à internet, os telemóveis sejam afectados. Também a Vodafone não tem registos de existência de vírus nos seus sistemas, mas segundo afirmou Luísa Pestana, responsável pela Comunicação, “está a estudar, com os fabricantes, várias soluções antispam [correio indesejado] e antivírus, que pode introduzir caso a ameaça se concretize”.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

O QUE É UM VÍRUS?

Um vírus informático é um programa que se autoexecuta e propaga inserindo cópias de si próprio noutros documentos. Pode disseminar-se através de disquetes e outros suportes infectados ou através da internet. Os mais perigosos são os chamados ‘worms’, ou vermes, que se distinguem por uma capacidade invulgar em espalharem-se rapidamente.

NOS TELEMÓVEIS?

Os vírus que até agora apareceram em telefones móveis não são capazes de infectar todo o tipo de telemóvel. Isto porque precisam de um sistema operativo – Symbian ou Windows – para funcionarem e de internet para se transmitirem. Mas com a vulgarização dos telemóveis de terceira geração tendem a tornar-se cada vez mais comuns.

QUE EFEITOS?

A maior parte dos sintomas até agora detectados são inofensivos e não prejudicam o funcionamento do aparelho. Mas há casos em que a capacidade da bateria é afectada e recentemente foi detectado o vírus Gavno, de origem russa, que inutiliza o telemóvel. Esse vírus, criado só para demonstrar as vulnerabilidades do sistema Symbian, não está em circulação.

COMO EVITAR?

Os vírus em telemóveis são ainda muito recentes e os antivírus ainda estão em desenvolvimento. Os especialistas recomendam, para já, que se tenham atenções semelhantes ao que já tem sido alertado para a internet: muito cuidado com as mensagens que chegam e nunca abrir ficheiros recebidos de destinatários desconhecidos, pois podem estar infectados.

QUANTOS CASOS?

É impossível saber ao certo quantos casos já ocorreram de telemóveis infectados por um destes vírus em Portugal. Ignorando a sua existência, muitas pessoas podem ter atribuído os seus efeitos nocivos a um defeito do telemóvel. O campo infectável, no entanto, é limitado ao número de telemóveis com as características que permitem a execução do programa.

COMO CURAR?

Já foi criada uma ferramenta para remoção dos vírus que afectam os telemóveis com o sistema operacional aberto Symbian. O arquivo f-cabir.zip, disponível no servidor da empresa F-Secure, contém a ferramenta e um arquivo de instruções para a instalação. Após a descompactação, o usuário deverá copiar o arquivo F-Cabir.sis para o aparelho infectado.

O 'SPAM' VAI PASSAR A INUDAR OS TELEMÓVEIS

Paulo Veríssimo, professor da Fac. Ciências da Univ. Lisboa, tem desenvolvido formas para tornar a internet mais segura.

Correio da Manhã – Em que pé está, a nível mundial, a batalha contra os vírus informáticos?

Paulo Veríssimo – Há actualmente aquilo a que chamaria um equilíbrio entre vírus e antivírus. Mas os vírus exploram as vulnerabilidades dos programas para se disseminarem e não creio que a situação vá melhorar.

– Quais os vírus mais perigosos?

– Todas as semanas nascem novos. Os mais perigosos são os chamados vermes ou ‘worms’, que se propagam pela internet a uma velocidade muito grande.

– Qual a probabilidade de os vírus se vulgarizarem nos telemóveis?

– Já são uma realidade e uma coisa de que se vai ouvir falar ainda mais com a terceira geração de telemóveis. Estes aparelhos vão funcionar cada vez mais como um PC. Temos evidências de que o crime organizado está a deslocar-se cada vez mais para o meio informático. Não é preciso ser um grande visionário para imaginar que o ‘spam’ vai passar a inundar os telemóveis, tal como acontece actualmente com o correio electrónico, e isso vai ser muito chato.

– O que se pode fazer para evitá-los?

– O utilizador individual devee prestar atenção aos alertas que se fazem, não aceitar programas estranhos e não se deixar vencer pela curiosidade. Nunca abrir mensagens de remetentes desconhecidos. Tudo isto é agora também válido para os telemóveis.

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