Depois da compra de ‘A Bola’ por uma empresa suíça e das rádios da Media Capital por uma alemã, continuou em 2025 a entrada de capital estrangeiro em empresas de media: a MFE, italiana, da família Berlusconi, ficou perto de controlar a Impresa, dona da SIC.
Há quatro anos, a TVI estava em segundo lugar na audimetria, com 332 mil espectadores em média por minuto; está agora em primeiro, mas com menos 11 mil espectadores. A SIC passou a segundo, perdendo 38 mil espectadores em média por minuto. Ambos perdem nas suas partes de audiência: de 2022 para agora, a SIC baixou de 16,7% para 14,1% e a TVI desceu de 15,7% para 14,4%. A RTP1 contenta-se em manter os mesmos espectadores de há três anos e a RTP2 sangrou os poucos que tinha, perdendo um quinto da audiência de 2024.
Os operadores generalistas compensam as perdas com os seus canais de TV paga e internet, mas no cabo o canal mais visto continua a ser a CMTV, da Medialivre, que sobe desde o primeiro ano. Em 2025, tem quase nove vezes mais espectadores em média do que a RTP2 e mais de metade da audiência do mais antigo canal do país, a RTP1, e soma mais espectadores em média do que SICN, CNNP e RTP Notícias juntas. Estes três canais estagnaram nas audiências, enquanto a CMTV cresceu um terço de 2022 para 2025. O segundo canal de informação da Medialivre, o NOW, em apenas 15 meses ultrapassou a RTP Notícias, novo nome da RTP3.
Em termos globais, os generalistas estão a caminho de ter menos de 900 mil espectadores e abaixo de 40% de share, apesar de a audiência global de TV medida em televisores nos lares aumentar ligeiramente todos os anos. Também o cabo aumenta em espectadores mas mantém o share. Mas o modelo prevalecente da TV manter-se-á enquanto os generalistas forem lucrativos, forem os maiores agregadores de audiência a cada momento e enquanto a audimetria continuar no Paleolítico Inferior a medir a TV apenas nos televisores nos lares, sem se integrar numa medição do consumo de TV em PCs, tabletes e smartphones.
Tempos de crise
O ano de 2025 voltou a ser dominado pela má situação de importantes empresas de media, com dificuldades em viver em concorrência e de combater os açambarcadores da internet e as plataformas de conteúdos, incluindo desportivas, com má gestão ou até, como sucedeu no infindável caso da TiN, uma clamorosa gestão danosa que só os jornalistas de investigação da revista ‘Visão’, desse pseudo-grupo, não viam.
A Impresa, dona da SIC, SICN e outros media, esteve tem-te-não-caias. O núcleo central de proprietários, a família Balsemão, foi adiando a entrada de dinheiro fresco de novos acionistas para não perder o controle férreo do capital, da gestão e da (não) distribuição de lucros aos acionistas exteriores à família. Depois de os bancos apertarem as contas caucionadas e de falhar uma nova venda e posterior aluguer do edifício sede da Impresa, em Laveiras, os Balsemão deixaram entrar os Berlusconi, para já mantendo eles o controle. A quase falência da Impresa deveu-se também à condescendência da administração com a gestão da informação e dos programas nos seus canais. Tendo o lado positivo de deixar os chefes agirem em liberdade, teve o lado negativo de deixar andar quando já se entendia ser preciso proceder a alterações para as contas não descambarem. O novo terço do capital nas mãos da MFE dos Berlusconi comprado a preço de saldo concretizou-se semanas após a morte de Francisco Pinto Balsemão, um dos nomes mais importantes na história dos media portugueses.
A saída do ‘Jornal de Notícias’, TSF e ‘O Jogo’ do grupo Global Media não afastou, nem este grupo, nem o grupo com eles criado, de graves dificuldades financeiras. Pelo contrário, ambos acumulam passivos insolúveis com a prata da casa. O ‘Jornal de Notícias’ não tem conseguido recuperar a o lugar secular de jornal próximo dos nortenhos. Na mesma empresa, a TSF, a primeira rádio centrada na informação, é hoje incapaz de gerar receitas que paguem o modelo. Em Lisboa, a dona do ‘Diário de Notícias’ é igualmente incapaz de voltar a colocá-lo no pelotão da frente da informação diária, pois a subida na internet não compensa a venda de menos de mil exemplares por dia. A versão impressa (cinco dias por semana) é o preço a pagar pelo que se pretende fazer com ele no futuro. Com a situação deste dois grupos sem registo de melhorias financeiras e sem alterações ou projetos que a isso levem, fica a questão: para que os querem os seus proprietários? Ficamos (ainda) sem resposta.
Já no caso do grupo Media Capital, dono da TVI e da CNNP, vislumbram-se respostas: primeiro, geri-lo de forma racional para obter dividendos financeiros e de prestígio na sociedade para os donos; segundo, adotar uma linha editorial que agrade ao principal acionista, Mário Ferreira, empresário que está na linha da frente dos apoios à candidatura de Gouveia e Melo. A simpatia editorial por esta candidatura por jornalistas e comentadores da TVI, CNN Portugal e Nascer do Sol, semanário recém-comprado, tem sido notória nas notícias e opinião.
Imprensa e IA
A quebra contínua das vendas da imprensa em papel arrasta a dificuldade do negócio da sua distribuição em oito distritos do país criando uma ferida na coesão nacional. O governo opta bem em não interferir nos media, mas aqui trata-se de um caso exterior aos conteúdos: o serviço público é o acesso aos jornais, não o que vai neles impresso. Deveria mudar a sua posição de lesa-cultura. Nota final para a entrada da Inteligência Artificial em muitas redações pela porta principal, começando a fazer “jornalismo” e a despedir jornalistas. Já se encontra facilmente a IA em notícias e materiais informativos que desrespeitam regras essenciais do jornalismo, como a procura de fontes, a verificação, o contraditório e o espírito crítico.
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