O conflito a Leste continuou a dominar as atenções no plano internacional.
Com altos e baixos, a guerra na Ucrânia continuou a dominar as atenções ao longo de 2025. Não tanto pelo que se passou no terreno, onde pouco ou quase nada mudou, mas pelo novo impulso negocial trazido por Donald Trump. É verdade que o presidente dos EUA não conseguiu cumprir a promessa irrealista de acabar com a guerra em 24 horas, mas se passámos o ano a falar dos avanços e recuos das negociações de paz foi graças a Trump. Após três anos de paralisia diplomática, foi ele quem voltou a abrir a porta de uma solução negociada para o mais sangrento conflito em território europeu desde o final da II Guerra Mundial. Mesmo que não o tenha feito da melhor maneira - a humilhação de Zelensky na Casa Branca e a proposta de paz ditada ao ouvido por Moscovo são claros exemplos - o presidente dos EUA conseguiu, finalmente, que as partes pusessem na mesa as suas ‘linhas vermelhas’ e os pontos em que estavam dispostos a ceder. Em suma, que começassem a falar sobre o que era preciso para fazer a paz.
Foi mais do que aquilo que a União Europeia conseguiu fazer em três anos. Desde o início da invasão, em 2022, os 27 mostraram-se sempre mais interessados em sancionar a Rússia e enviar armas e dinheiro para a Ucrânia do que propriamente em proporem uma solução que conseguisse sentar os dois lados à mesa das negociações. Foi preciso Trump avançar com um ‘plano de paz’ claramente favorável a Moscovo para que Bruxelas amanhasse à pressa uma contraproposta. Uma atitude louvável mas que levanta a questão: porquê só agora? Porque é que em quase quatro anos de guerra a UE nunca apresentou às partes uma proposta de paz devidamente estruturada que abrisse caminho a um processo negocial?
É por estas e por outras que muitos observadores apontam para a crescente irrelevância da Europa no plano global. Tolhida por divisões internas que a impedem de ter uma voz comum firme no plano internacional, a Europa tem projetado uma imagem de paralisia e indecisão permanente que arrisca torná-la um mero ‘extra’ num mundo cada vez mais dominado por grandes potências políticas, militares e económicas como os EUA e a China.
A guerra na Ucrânia pôs a nu a debilidade diplomática e militar da Europa. Mesmo assim, foi preciso Trump dar um murro na mesa e ameaçar retirar os EUA da NATO para obrigar os membros europeus da Aliança a reforçarem a sua contribuição para a segurança e defesa comuns. Um despertar tardio que obrigará, nos próximos anos, a enormes sacrifícios orçamentais, com as inerentes consequências para o estado de bem-estar que todos os europeus tomaram por garantido durante décadas.
Se a isto juntarmos a grave crise de habitação e as crescentes desigualdades criadas pela subida do custo de vida, as perspetivas não são famosas para a Europa nos próximos tempos. Um cenário que vai certamente continuar a contribuir para o agudizar das divisões internas e para o crescimento de extremismos e populismos de variada índole, como o demonstram os 28% de deputados eurocéticos e de extrema-direita no atual Parlamento Europeu.
Motor europeu gripado
Neste cenário preocupante, as duas maiores economias europeias não dão indicações de descolar. A Alemanha, apesar da mudança de governo, não mostra sinais de recuperação, enquanto a França, com cinco primeiros-ministros em três anos, continua a afundar-se num pântano político e social de difícil recuperação.
Já aqui ao lado, em Espanha, Pedro Sánchez é cada vez mais um homem só, teimosamente agarrado a um poder que já não tem. Cercado pelos escândalos de corrupção - que atingem, inclusivamente, a sua família - e abandonado pelos parceiros de coligação separatistas, dificilmente terá condições para completar o mandato, que só termina em 2027.
Outras guerras
Além da Ucrânia, o ano que agora termina ficou ainda marcado por outros conflitos armados. O mais notório é, de longe, o do Médio Oriente, eleito Facto Internacional do Ano pelo CM, e analisada em pormenor por Alfredo Leite nas páginas deste anuário. Mas a sombra do conflito pairou igualmente sobre a Venezuela, com Trump a recorrer à força das armas numa campanha de pressão sem precedentes para forçar uma mudança de regime.
Menos mediático mas não menos sangrento que as guerras na Ucrânia e em Gaza continua a ser o conflito noSudão, que já fez centenas de milhares de mortos e que este ano conheceu novos índices de barbárie com a tomada da cidade de El Fasher e o massacre de milhares de civis inocentes.
Noutros pontos quentes do globo, Índia e Paquistão voltaram a enfrentar-se por causa de Caxemira e o Camboja e a Tailândia trocaram disparos por causa de disputas fronteiriças antigas, enquanto, num raro sinal positivo, a Arménia e oAzerbaijão assinaram na Casa Branca um acordo de paz para acabar com mais de três décadas de conflito. Donald Trump reclamou os louros por acabar com estes três conflitos, e também com as duas guerras no Médio Oriente (Israel vs. Irão e Israel vs. Hamas) e a guerra entre o Ruanda e a RD Congo, além de - alega - ter evitado outros dois conflitos, entre o Kosovo e a Sérvia e entre o Egito e a Etiópia. Razões mais que suficientes, no seu entender, para reclamar o Prémio Nobel da Paz que este ano lhe fugiu para as mãos da opositora venezuelana Corina Machado. 2026 pode ser o seu ano - mas para isso terá de cumprir a promessa e acabar com a guerra na Ucrânia. De preferência, com um acordo justo e que não beneficie de forma alguma o agressor, sob pena de abrir a porta a novos conflitos num futuro próximo.
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