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Um país onde quem trabalha continua pobre é um país em risco

Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo nasceu em Quelimane, Moçambique, a 21 Novembro 1960. Foi Chefe do Estado-Maior da Armada. Está na reserva.

28 de dezembro de 2025 às 17:00

O maior desafio que Portugal enfrenta não é abstrato nem distante. Tem nome e consequências concretas: a persistência da pobreza e a incapacidade de gerar desenvolvimento económico suficiente para a erradicar.

É aqui que se joga o futuro do País, a solidez da democracia e a confiança dos cidadãos nas instituições. Uma democracia liberal só cumpre a sua promessa quando garante dignidade e oportunidades reais a todos.

Não basta crescer; é preciso que o crescimento sirva as pessoas. Não basta distribuir, é necessário capacitar.

A pobreza e as desigualdades extremas não se combatem com discursos moralistas nem com a caridade que tranquiliza consciências. Combatem-se com políticas estruturais que criem condições efetivas de emancipação individual e coletiva.

A economia deve estar ao serviço das pessoas, mas só uma economia dinâmica, aberta e baseada no conhecimento poderá gerar prosperidade sustentável. Portugal precisa de libertar a iniciativa, a criatividade e o risco.

Um sistema burocrático pesado, complexo e permissivo ao compadrio não protege os mais frágeis; pelo contrário, perpetua desigualdades e bloqueia a mobilidade social. Simplificar, desburocratizar e tornar o Estado mais eficiente é uma exigência ética e democrática.

Economia

O Estado não deve conduzir a economia, mas criar as condições para que ela funcione melhor: justiça célere e independente, regras claras, administração pública competente e isenta, e um quadro estável que dê confiança a quem investe, trabalha e cria emprego.

Só com mais produtividade, inovação e valor acrescentado será possível reduzir a carga fiscal, reforçar o Estado Social e proteger quem mais precisa.

Combater a pobreza implica apostar seriamente na educação, na formação e na requalificação ao longo da vida, no acesso à habitação condigna e na regeneração de comunidades e territórios deixados para trás.

Implica também valorizar o trabalho e fortalecer uma classe média que é pilar de estabilidade social e política. Um país onde quem trabalha continua pobre é um país em risco.

Num mundo instável, sujeito a ciclos económicos, tensões geopolíticas e desafios climáticos, Portugal só será resiliente se for coeso. O crescimento económico e a justiça social não são objetivos opostos; são indissociáveis.

Sem prosperidade não há inclusão. Sem inclusão não há democracia saudável.

Alertar e mobilizar

O Presidente da República não governa, mas tem o dever de convocar, alertar e mobilizar. Usar a palavra com responsabilidade, independência e sentido de Estado. O combate à pobreza e a construção de uma economia forte e justadevem ser causas nacionais, acima de clivagens partidárias.

Portugal pode fazer melhor. E deve fazê-lo. Por uma democracia que não deixa ninguém para trás, por uma economia ao serviço da dignidade humana e por um futuro partilhado com confiança e ambição.

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