Compromissos climáticos centrados na redução do carbono e não das emissões
Análise divulgada na COP30 indica que países estão a falhar na redução das emissões e querem resolver o problema apostando numa remoção irrealista de carbono.
Os compromissos climáticos da conferência da ONU que decorre em Belém, Brasil, favorecem a remoção de carbono terrestre em detrimento da redução de emissões, indica uma análise esta quinta-feira divulgada na 30.ª conferência, a COP30.
A análise indica que os países estão a falhar na redução das emissões e querem resolver o problema apostando numa remoção irrealista de carbono, como a promoção de plantio de árvores em larga escala.
Segundo o relatório "Land Gap 2025", liderado pela Universidade de Melbourne, Austrália, em conjunto com um consórcio de especialistas, os países estão a apostar em esforços impraticáveis baseados na terra para alcançar emissões líquidas zero, em vez de buscar soluções climáticas mais realistas, como a proteção das florestas existentes e a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
E o verdadeiro impedimento para a falta de ação quanto às florestas não é financeiro, mas um "sistema global que opõe o desenvolvimento económico à preservação", indica um comunicado hoje divulgado sobre o relatório.
Citada no documento a autora principal, Kate Dooley, disse que o relatório contém sugestões de reformas que podem alinhar os objetivos críticos em matéria de clima e biodiversidade com os objetivos económicos.
"Por que razão tantos países ignoram a proteção florestal como um pilar fundamental das metas climáticas? A resposta é que vivem num mundo em que os pesados encargos da dívida soberana e as políticas fiscais e comerciais favoráveis à indústria obrigam muitos deles a explorar as florestas para evitar o colapso das suas economias", disse, alertando que a longo prazo as florestas saudáveis são essenciais para economias saudáveis.
O "Land Gap 2025" abrange as mais recentes promessas climáticas dos países apresentadas na ONU até ao passado dia 31, incluindo estratégias de longo prazo de redução de emissões, até 2050.
O relatório identificou duas falhas essenciais nos planos climáticos nacionais apresentados para a COP30, uma "lacuna territorial", entre o uso da terra para atingir as metas de mitigação e o que é viável, e uma "lacuna florestal" entre os compromissos para travar a desflorestação e a degradação florestal e os resultados prováveis.
Kate Dooley lamentou que até final de outubro menos de 40% dos países (partes) do Acordo de Paris apresentaram planos atualizados, e que esses planos fossem limitados quanto à interrupção e reversão do desmatamento e da degradação das terras.
Tal reflete falta de ambição dos países nas promessas para cumprir o Acordo de Paris (limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação à época pré-industrial), que agora querem remover o carbono baseando-se na terra, "o que pode levar décadas a concretizar-se".
Alister Self, coautor do relatório, disse que, com base nas avaliações atuais, as melhores estimativas para os aumentos futuros da temperatura global estão entre 1,8°C e 2,0°C acima dos níveis pré-industriais.
Mas apenas se os países cumprirem as metas de emissões a tempo e na íntegra, porque caso contrário os valores serão mais altos, avisou.
A COP30 começou na segunda-feira em Belém, no Brasil, e deve terminar no próximo dia 21.
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