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Mar já destrói aldeias na Amazónia devido à subida das água

Vila do Pesqueiro está a poucas horas do local onde se realizou a Cimeira do Clima. O aumento do nível do mar está a destruir a região.

02 de dezembro de 2025 às 14:50
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Amazónia, no país da COP30, sofre com as alterações climáticas

CMTV

“Antes havia árvores de fruto. As dunas aqui da praia tinham três metros e agora está assim, sem nada”, descreve ao CM a professora Sandra, já reformada. Mora na Vila do Pesqueiro, uma pequena localidade na Amazónia, no Brasil, banhada pelo Oceano Atlântico. É um dos exemplos do que acontece com o aumento do nível do mar: em poucos meses a maré subiu e levou tudo consigo. Não mais voltou ao normal. Houve estruturas afetadas, casas destruídas, o que obrigou os moradores a mudarem de sítio. A Vila do Pesqueiro faz parte da ilha do Marajó a duas horas de barco de Belém, onde se realizou a COP30. 

Sandra percorre o que era a antiga praia connosco. Para além do mar ocupar o lugar das espreguiçadeiras, as fundações dos restaurantes estão a descoberto. “Ainda tentámos reforçar as estruturas mas não é suficiente”, recorda a professora enquanto nos leva para debaixo do seu restaurante. “Aqui estava tudo enterrado, agora podemos andar por baixo ao pé das estacas. O mar fez com que se perdesse uns três metros de altura da duna”, contabiliza enquanto nos conduz para o outro lado da praia. A diferença de altura entre o chão de agora e o que resta da duna não deixa ninguém indiferente. É visível que mais tarde ou mais cedo, as “barracas”, como lhe chamam nesta zona, deixem de ser seguras.

Descemos à beira mar. Rafael tem 36 anos e está ao lado de um Búfalo, o animal-rei desta região. Vende passeios na praia aos poucos turistas que por aqui passam. “Por mais estranho que pareça este era o local da minha casa”, diz apontando para o chão, habituado à surpresa de quem não conhece a zona. “Tive de me mudar mais para cima” e aponta para longe, onde mora agora. Ao longo da linha de água é visível outro sinal de que o mar ganhou terreno – e muito. “Isto aqui era uma árvore, tal como aquelas ali”, indica ao CM Caetano, do corpo de bombeiros do estado do Pará, ao estender a mão para um tronco enterrado na água. É aqui nadador-salvador há vários anos e nunca viu nada assim. Recorda quando o local não tinha água, mas árvores. Há vários casos semelhantes em Portugal, e este exemplo do avanço do mar pode servir de lição para países como o nosso. Aliás, este é apenas um dos casos que está a ser alvo de investigação no âmbito de Doutoramento, na Universidade de Coimbra.

A erosão na Vila do Pesqueiro não é caso único na região. Nem no planeta. Aliás, se aqui o mar galgou a praia, em outras zonas é o contrário: os rios secam e deixam leitos vazios. Os registos da NASA mostram um aumento do nível do mar a acelerar. Por outro lado, 2024 foi o ano mais quente de sempre e a perspetiva é que 2025 se mantenha no pódio. “Isto é uma vergonha. Em plena COP30, em pleno Estado do Pará, na Amazónia deixa-nos abandonados”, diz com revolta Rafael. “A COP é um engodo. “Nós tentamos preservar o ambiente mas a ‘socialite’ ou a alta sociedade como se diz, não tem compromisso e nós é que sofremos as consequências”, critica a professora Sandra. Para além da perda das casas e restaurantes, estas comunidades perdem outro sustento: o turismo. São artesãos, cozinheiros ou guias. Segundo as contas da população, num junho normal poderiam ser dez mil pessoas. Agora não vão para além dos dois mil turistas. “É triste. Porque este é o nosso sustento e ninguém quer saber”, remata.

A COP30 aconteceu em Belém, Pará, no Brasil. Apesar das expectativas terminou com sabor agridoce, uma vez que o acordo não prevê um caminho para o fim dos combustíveis fósseis como defendiam muitos países europeus. 

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