"Eu não quero morrer": Criança de cinco anos gritou por socorro enquanto teatro de Mariupol era bombardeado
Sobreviventes contam, pela primeira vez, o que aconteceu no momento da explosão. Ainda não se sabe quantas pessoas morreram.
"Uma mãe estava a tentar encontrar os filhos sob os escombros. Uma criança de cinco anos gritava: 'Eu não quero morrer'. Foi de partir o coração". Este é o relato de um dos sobreviventes do ataque russo ao teatro de Mariupol, na Ucrânia, onde se escondiam centenas de civis, principalmente mulheres e crianças. Uma bomba deixou o enorme edifício da era soviética completamente destruído em segundos, esta quarta-feira. Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas morreram, mas alguns dos sobreviventes contaram à BBC o que aconteceu no momento da explosão.
Vladyslav, um serralheiro de 27 anos, estava perto da entrada principal do prédio quando a explosão aconteceu. Tinha ido procurar alguns amigos que estavam abrigados no teatro. Depois do bombardeamento, correu com outras pessoas em direção ao porão e, 10 minutos depois, disseram que o prédio estava em chamas.
"Coisas terríveis estavam a acontecer", disse.Pessoas a sangrar e com fraturas expostas, crianças a chorar e mães desesperadas à procura dos filhos. Vladyslav relata que o cenário de destruição era "de partir o coração".
"Só havia escombros. Eu estava em choque" Mariia Rodionova é uma professora de 27 anos que morava no teatro há 10 dias, após fugir de casa com os dois cães.
De repente, ouviu-se um som estrondoso e alto, seguido do ruído de um vidro a partir. A bomba tinha acabado de cair sob o edifício.
A explosão foi tão alta que Mariia sentiu uma dor intensa num dos ouvidos e achou que um dos tímpanos se tinha rompido. Foi só quando começou a ouvir os gritos desesperados das pessoas à sua volta que se apercebeu de que os ouvidos estavam, afinal, intactos. Um homem foi atirado contra uma janela com o impacto da explosão, tendo caído no chão com o rosto coberto de cacos de vidro. Outra
mulher, que também tinha um ferimento na cabeça, tentou ajudá-lo, mas Mariia, que era voluntária na Cruz Vermelha Ucraniana em Mariupol, ainda foi capaz de gritar e dizer-lhe para parar.
"Eu disse 'Espere, não toque nele. Vou trazer o meu kit de primeiros socorros e ajudo-vos aos dois'", lembrou. Mas, infelizmente, o kit estava dentro do teatro que tinha desabado.
"Só havia escombros", disse Mariia à BBC.
"Durante duas horas, não pude fazer nada. Eu só fiquei lá. Estava em choque."
Mariia recorda-se de ver aviões militares "aos círculos" perto do teatro naquela manhã e a "bombardearem outro lugar". Não
era incomum avistar aviões militares a sobrevoar a área e Mariia já se tinha habituado aos sons. Nada fazia prever que um ataque estava iminente.
Tanto Vladyslav como Mariia referem que viram muitas pessoas a sair do prédio. "Alguns estavam com a bagagem. Ninguém sabia o que fazer e a área ainda estava a ser bombardeada."
Quando Mariia saiu do apartamento para se ir abrigar no teatro, deixou para trás a avó, que morava com ela e se recusou a ir. Ela apenas disse: 'É o meu apartamento, a minha casa. Vou morrer aqui'."
Mariia ainda está a tentar saber se a avó está viva.Ainda há muitas incógnitas sobre o ataque. Pensa-se que milhares de pessoas estavam abrigadas no teatro e as autoridades ucranianas estimam que há mais de 2.300 mortos no ataque, mas o número real ainda carece de confirmação.
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