Gregório XIII: O papa que ajudou Espanha a anexar Portugal em 1580

Amigo de longa data de Filipe II, não o impediu de anexar Portugal. Proibiu D. Henrique de casar e garantir herdeiro ao trono.

18 de abril de 2025 às 08:00
Partilhar

Não existem dados que confirmem que o papa Gregório XIII deu claro apoio a Filipe II de Espanha, seu amigo de longa data, na decisão do monarca espanhol em anexar Portugal, em 1580, aproveitando a inexistência de herdeiro ao trono português, devido à morte precoce de D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, em 1578.

O pai de D. Sebastião, D. João Manuel, morreu antes de assumir o trono e o “desejado” acabou por suceder ao avô, D. João III. D. Henrique, que era irmão de D. João III, foi regente na menoridade de D. Sebastião e tornou-se rei após a morte deste em África.

Pub

Acontece que D. Henrique era clérigo, tinha sido feito cardeal pelo Papa Paulo III e, por isso, não casara e não havia sucessor para o trono.

Já com 66 anos de idade e preocupado com a questão da sucessão, pediu ao papa Gregório XIII que o autorizasse a casar, a fim de garantir um herdeiro. O papa não autorizou, não se sabendo por questões morais ou por apoio ao rei de Espanha. 

1 / 1
FOTO: Direitos Reservados
O sol e/ou a lua são base da construção dos calendários
Pub

O Papa que acertou o tempo 

A constatação do dia e da noite, a observação das fases da lua e a existência de quatro ciclos da Natureza obrigaram o Homem, desde muito cedo, a ter necessidade de se acertar com o tempo, para melhor se organizar, pelo que o primeiro calendário terá nascido ainda na Pré-História. Admite-se que muitos monumentos em pedra (como o caso de Stonehenge, no Sul de Inglaterra) tenham sido usados como tal. A evolução e a vida em sociedade, com grupos cada vez mais numerosos, levaram a que cada povo elaborasse o seu próprio calendário, ainda que com origens diferentes: uns considerando o ciclo lunar, outros o ciclo solar e ainda os que optaram por uma mescla de ambos. Na linha da frente, egípcios e povos da mesopotâmia (região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, que atualmente corresponde aos territórios do Iraque, Irão e Jordânia) construíram calendários próximos dos dias de hoje, os primeiros por volta do ano 3000 a.C., os segundos em 2700 a.C., neles se baseando outras sociedades.

1 / 1
FOTO: AP
O famoso relógio astronómico de Praga, capital da Chéquia
Pub

O problema é que os ciclos não resultam em números exatos (a ciclo da lua, por exemplo, é de 29 dias, 12 horas, 44 minutos e 3 segundo, já o ano solar tem 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos), o que obrigava a ajustes temporários dos calendários, para evitar desfasamentos, nomeadamente no que toca às quatro estações.

No ano 46 a.C., o imperador romano Júlio César decidiu pôr ordem casa. Socorrendo-se do astrónomo Sosígenes, elaborou aquele que ficou conhecido como o calendário juliano, muito mais preciso e rigoroso do que algum outro até à data. Baseado no ciclo solar, dividia o ano em 12 meses fixos, de 30 ou 31 dias, exceto fevereiro, que possui 28 dias nos anos comuns e 29 nos bissextos (de quatro em quatro anos), a grande e decisiva inovação.

Foi adotado no ano seguinte, 45 a.C., e manteve-se em vigor durante mais de quinze séculos, até que a Igreja se apercebeu que havia um problema. Ao acumular um desvio de 11 minutos por ano, o calendário instituído por Júlio César estava a deslocar a Páscoa para fora do seu contexto, a Primavera. A manter-se aquela contagem, corria-se o risco de, um dia, a ressurreição de Cristo, a data mais importante para os católicos, ser celebrada no... verão. Já outros Papas o tinham constatado, mas foi Gregório XIII quem meteu mãos à obra. Sob a orientação do astrónomo, médico e filósofo italiano Luigi Lilio, constituiu uma comissão composta por nove sábios, de várias áreas e nacionalidades, para estudar e resolver o problema. Após anos de cálculos, a solução chegou a 24 de fevereiro de 1582 e promulgada na bula ‘Inter Gravissimas’: nesse mesmo ano, à quarta-feira 4 de outubro seguir-se-á a quinta-feira 15 de outubro, corrigindo os 10 dias necessários para repor o equinócio a 21 de março; ficou ainda estipulado que os anos centenários não são bissextos exceto se forem múltiplos de 400.

Pub

A Páscoa passou a oscilar entre 22 de março e 25 de abril. A adoção do calendário foi praticamente imediata em Portugal, Espanha e Itália, mas levou tempo noutros países - a Alemanha e a Inglaterra só o fizeram depois de 1700 -, e outros ainda mais tarde, no início do século passado, casos da Bulgária (1916), Rússia (1918), Grécia (1923), Turquia (1926).

Ainda assim, não é um calendário 100% perfeito. Do ponto de vista astronómico, segundo os especialistas, o principal defeito é o ano ser ligeiramente mais longo do que o ano solar (27 segundos), o que se traduz na diferença de um dia em cerca de 3200 anos. Este facto obrigará a uma correção lá para o ano de 4800.

Papa: termo vem do século terceiro 

Pub

O termo papa vem do grego “pappas”, que quer dizer pai e era usado para designar os primeiros bispos. O uso do termo para designar especificamente o Sumo Pontífice começou a consolidar-se entre os séculos IX e X. Há registos antigos do uso da palavra “papa” nas Catacumbas de São Calisto, em Roma, onde um diácono menciona o bispo romano Marcelino (296-304) com essa designação. 

O branco e negro da chaminé 

No dia em que é marcado o início de um conclave, é montada uma salamandra na Capela Sistina, com uma chaminé visível a partir da Praça de São Pedro. Os fiéis vão acompanhando as votações, pelas cores do fumo. Se for negro, significa que nenhum candidato reuniu dois terços dos votos, se for branco “habemus papam” e há aplausos. 

Pub

São Pedro: na cruz de cabeça para baixo 

Quando foi preso e condenado pelo imperador Nero à morte por crucificação, São Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo. Estupefactos, os guardas perguntaram porquê e o primeiro líder da Igreja, que tinha sido condenado por causa da sua fé, disse que não era digno de morrer como Jesus Cristo. 

Pedro tem chaves na mão 

Pub

A imagem mais antiga de São Pedro tem cerca de 1700 anos. Trata-se de uma pintura no teto de um túmulo, numa das catacumbas da cidade de Roma, que terá servido para sepultar um nobre romano convertido ao Cristianismo. A característica singular das imagens do primeiro papa tem a ver com o facto de segurar uma ou duas chaves numa das mãos: as chaves do Céu, que lhe foram conferidas, de viva voz, por Jesus Cristo. 

Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?

Envie para geral@cmjornal.pt

Partilhar