É o Papa mais novo da história. Tinha entre 18 a 20 anos quando se tornou Santo Padre. É o próprio Vaticano que o diz: este sumo pontífice foi “uma desgraça”.
É o Papa mais novo da história. Tinha entre 18 a 20 anos quando se tornou Santo Padre. É o próprio Vaticano que o diz: este sumo pontífice foi “uma desgraça”.
Os conceitos de ‘melhor’ e ‘pior’ encerram sempre alguma subjetividade, mas, neste caso, não é excessivo considerar Bento IX o Papa mais incapaz e inapto da história.
“Uma desgraça” na Cadeira de Pedro, no entender do próprio Vaticano. Inclui-lo na lista dos 15 pontífices mais importantes é uma heresia. Mas a verdade é que este ‘miúdo’ se distingue de todos os outros Papas e é um exemplo do (des)governo da Igreja Católica em alguns períodos da história, onde poderosas teias de interesses se sobrepunham à palavra de Deus. Entenderão alguns que foi sempre assim, ou pelo menos em boa tarde deste dois mil anos de catolicismo, mas, como diria George Orwell, houve tempos mais iguais do que outros.
O enigma Teofilatto dos Condes de Tuscolo começa na idade em que se tornou Santo Padre. Terá sido pelos 18 ou 20 anos, mas há quem calcule que foi mais cedo, não teria mais de 11 ou 12 anos. Esta indefinição resulta do facto de não se saber ao certo quando nasceu o Papa mais novo da história, apenas que foi entre 1012 e 1020. Do que não há dúvida é que não tinha condições para exercer o cargo e que fez a Igreja corar de vergonha.
“Um demónio do inferno disfarçado de sacerdote”, assim descreve São Pedro Damião, feito Doutor da Igreja pelo Papa Leão XII, Teofilatto dos Condes de Tuscolo, o menino mal comportado que se tornou no Santo Padre mais novo de sempre. Se tinha alguma virtude ninguém a encontrou. Apenas se dá conta de uma figura abominável, execrável e imoral. Do muito que se escreveu sobre o ‘Papa do Diabo’, lê-se que abusava do álcool, que praticava sexo com animais, que sodomizou homens e violou mulheres, que promovia festas e orgias, que organizava assaltos a peregrinos, que orquestrava assassinatos.
Nascido em Roma, era sobrinho dos papas Bento VIII e João XIX, e filho de Alberico III, o abastado e temido conde de Tuscolo, figura com grande influência no poder político e no mundo cristão.
Teofilatto foi eleito Papa em outubro de 1032, sucedendo precisamente ao seu tio, João XIX. Tal facto só foi possível graças à intervenção do seu pai, que comprou os votos necessários para garantir a maioria dos que participaram na votação. Naquele tempo, o Papa era eleito por um pequeno grupo de cardeais e pelas elites romanas, gente com poder, quer do ponto de vista financeiro, quer político ou militar.
O conclave, como hoje o conhecemos, só surgiu no século XIII. Dada a sua idade, que não é de todo consensual - uns falam de Teofilatto como uma criança de 11, 12 anos, outros como um jovem acabado de entrar na idade adulta, entre os 18 e os 20 -, terá sido o seu pai quem, verdadeiramente, dirigiu os destinos da Igreja nos primeiros tempos. Ou, pelo menos, sob a sua supervisão, até porque Bento IX nunca se mostrou muito interessado pelas questões eclesiásticas, preferindo uma vida de pecado. Ainda assim, o seu primeiro pontificado durou cerca de 12 anos, até 1044, acabando por ser deposto e expulso pelo povo de Roma, face ao seu comportamento imoral. Sucedendo-lhe Silvestre III, então bispo de Sabina, protegido pelos Crescentiana, outra família poderosa.
Mas a aventura de Giovanni, que assumiu o pontificado na condição de antipapa (aquele que reivindica o trono de Pedro ocupado por alguém legitimamente eleito), foi muito curta, durou pouco mais de dois meses (entre Janeiro e abril de 1045).
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Bento IX voltou à carga e, com a ajuda da família e alguns aliados, recuperou o lugar. Pela primeira vez, uma mesma pessoa voltava a ser Papa. Tal como tinha acontecido com Silvestre III, também foi breve esta segunda passagem de Teofilatto pelo mais alto cargo da Igreja Católica. Vendeu o lugar ao padrinho, a peso de ouro. O padre Giovanni Graziano acabaria, assim, por se tornar no Papa Gregório VI, a 1 de maio de 1045. Mas, já diz o povo, ‘quem nasce torto tarde ou nunca se endireita’.
O imperador Henrique III convocou o Concílio de Sutri, em dezembro de 1046, que entendeu que nenhum dos três Papas anteriores (Bento IX, Silvestre III e Gregório VI) tinha legitimidade e elegeu o bispo germânico Suidger como o 149º Sumo Pontífice, assumindo o nome de Clemente II. Morreu no ano seguinte, a 9 de outubro de 1047.
Bento IX aproveitou de imediato a oportunidade e rapidamente regressou ao poder, mais uma vez com o apoio da família, tornando-se Papa pela terceira vez, entre outubro de 1047 e agosto de 1048. O imperador voltou a intervir e um novo conclave expulsou-o de vez, encolhendo como sucessor o bispo alemão Poppo von Brixen (Papa Dâmaso II).
Num gesto de arrependimento, Teofilatto refugiou-se na abadia de Grottaferrata. Ali morreu e ficou sepultado.
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. As palavras são de Jesus Cristo, estão escritas nos Evangelhos e ratificam o título de primeiro papa ao primeiro dos apóstolos. É claro que também contribuiu para isso o facto de São Pedro ter assumido o risco de realizar pregações na capital do império, acabando por ser condenado à morte e crucificado.
O anel tem, em baixo relevo, São Pedro, no barco, a pescar e é o símbolo da autoridade do Papa. Ao longo de muitos séculos foi usado como selo oficial na autenticação de documentos papais, substituído por um carimbo de tinta vermelha em meados do século XIX. Simbolicamente, ainda hoje é destruído com uma martelada, pelo cardeal camerlengo, para que nenhum falso documento seja emitido durante a Sede Vacante.
Se Bento IX foi o mais novo papa a ser eleito na História da Igreja, com cerca de 18 anos, Clemente X foi o mais idoso. Contava 79 anos quando se sentou na cadeira de Pedro. Mesmo assim, o seu pontificado durou mais de seis anos e ficou para a História como o papa que suspendeu os procedimentos da Inquisição portuguesa em Outubro de 1674.
Ao longo dos séculos, muitos papas tinham profissões civis e não atividades religiosas antes de ingressar na Igreja, como advogados, médicos ou professores. O papa que conferiu a independência a Portugal, Alexandre III, por exemplo, era advogado. E o único papa português da História, João XXI, de seu nome de batismo Pedro.
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