Dia 13: "Banho tomado. Renovados"
José e Francisca, pai e filha, escolheram o CM para relatar interrail pela Europa.
Francisca Oliveira, 14 anos, e José Oliveira, 49 anos, estão a fazer um interrail pela Europa. E contam tudo no site do Correio da Manhã
"Contrariamente ao que seria de esperar, não há vestígios de cansaço ou soninho e por isso avançámos convictos para a excursão a Milão.
Vou confidenciar o que temos programado para o pouco que nos resta da viagem e partilhar um "truque". Os nossos planos passam por aproveitar Milão durante 24 horas e amanhã seguir para Barcelona. Queríamos desde o primeiro dia terminar a nossa viagem em Barcelona.
O pai diz que é uma cidade viva e borbulhante, que eu vou adorar "cirandar" pelas "ramblas".
No inicio desta jornada, alguém nos segredou um truque precioso: "Bahn.de", é o site da companhia de caminhos de ferro alemã. Por aqui conseguimos saber todos os comboios disponíveis, horários, destinos, número de transbordos. Quando digo tudo é mesmo tudo. Se quisermos saber os comboios de Espinho para as Devesas, aparece-nos a lista completa de todos eles.
Por isso, tínhamos tudo "arrumadinho" para amanhã cedinho apanharmos um comboio que sairá pelas 7h45min e com apenas uma mudança, chegará á capital da Catalunha pelas 18h30min.Vamos, que se faz tarde.
Logo na recepção do hotelzinho onde ficámos, pedimos apoio ao italiano que lá se encontrava. Sujeito entradote, que colaborante, abriu um mapa e pôs-se a sublinhar locais, ruas e zonas que recomendava. Falava num "italoportonhol" e nós íamos respondendo na mesma moeda, naquele dialecto íamo-nos entendendo na perfeição. À saída ainda perguntou ao pai sorrindo: "Scusa, porque é que os portugueses se chamam todos José como tu?"
Mal pusemos o pé na rua, abordámos a primeira pessoa com que nos cruzámos. Uma miúda de mochila e auscultadores nos ouvidos, que retirou quando a abordamos: "O metro para a Duomo (a catedral de Milão)?" E porque falava mal inglês, atirou: "Ok, venham comigo." Perguntou-nos se já conhecíamos Milão e respondemos que esta era a primeira hora na cidade. A jovem, expansiva, reagiu : "Uau, que honra, sou a vossa cicerone. E de onde vêm?" O pai diz-lhe: "De Portugal, conheces?" E ela enquanto dizia, "Sim, claro" e desenhava no ar, com as mãos, dois rectângulos um grande e dizia Espanha e depois desenhava outro mais picolo e dizia: "Este é Portugal." Levou-nos ao metro, indicou-nos qual a linha que iriamos apanhar e despediu-se. Voltou a colocar os Auscultadores e seguiu.
Começamos bem. Seguimos as directrizes da italianinha e implodimos na Piaza del Duomo. O metro pára ali bem no meio da praça e saídos da estação, damos de caras, sem aviso prévio, com a Duomo. A sensação é intensa, de ficar sem respiração. Belíssima
Mais uma vez e como seria de esperar, a enorme massa de turistas estava presente. Havia filas intermináveis para comprar os bilhetes para visitar a catedral.
Circundamos o edifício para o contemplar integralmente. De seguida, e logo ali, outro santuário, agora do consumo, as Gallerias Vittorio Emanuelle. O edifício é uma preciosidade, diria até que é deslumbrante com as suas cúpulas em vidro. Aqui estão as lojas de marcas de luxo, que se enquadram na perfeição.
Atravessando a Galleria e andando um pouquinho, fomos ter à Piazza della Scala, onde se encontra o Teatro alla Scala, uma das casas de ópera mais famosas do mundo.
Eram 12h30m. O pai queria ir para a zona de Brera. Tinha pesquisado e contava-me que Brera era um bairro característico de Milão, das artes e da boémia.Parecia-me bem, seguimos para Brera.
A maneira mais rápida de chegar a algum lado é perguntando. Por perto, estava um sujeito de meia idade, barba crescida, grande, forte e de fatinho, que acabava de parar a sua vespa e a quem pedimos se nos podia indicar no mapa, o local onde estávamos. Olhou-nos, grave e suspirando disse: "Well, you are in the middle of nowhere" ("Bem, vocês estão no meio do nada", em português), e dito isto gargalhou alto e com satisfação, e nós com ele. "Brera, queremos ir a Brera."
"Fácil, vão em frente e já na próxima ruela à direita entram na Via Madonnina, aí é Brera, sigam." Brera está cheia de bares e restaurantes, galerias de arte, lojinhas e é constituída por um emaranhado de ruazinhas estreitas como chão em paralelepípedo. A zona tem uma elegância única e seduziu-nos sem retorno.
Caminhamos por ali, sem qualquer guia nem rigor, tal como gostamos. Eu estou sempre a dizer ao pai para nos perdermos, porque na procura do rumo certo há sempre surpresas e descobertas.
Bem, entre a vasta oferta, escolhemos uma pizzaria na Via Fioro Chiara. Ficamos na esplanada e recebeu-nos um tipo, alto, barrigudinho, careca, sessentão e com bom aspecto. Não é um cliché nem um mito, mas os milaneses têm um toque qualquer que lhes dá pinta.
Se a primeira a abordagem não terá sido das mais calorosas, depois a coisa foi aquecendo e estabelecemos uma boa química com o homem e fomos rindo com as suas pequenas provocações e brincadeiras. Pedimos duas pizzas, o pai uma pizza snob, escolha validada pelo "carequinha" e eu uma pizza Havai, escolha aprovada com um piscar de olho. Vieram fumegantes e cheirosas.
Demos a primeira dentada em simultâneo, e ao mesmo tempo soltamos um instintivo: "Hummm, que delícia!"
Finalmente fomos surpreendidos gastronomicamente e provamos alguma coisa de que gostámos verdadeiramente. Depois de termos comido as pizzas até à última migalha, o nosso amigo aborda-nos e ordena : "tiramissu". Não tivemos tempo de reagir e veio a sobremesa acabada de impor. Não destoou nem um pouco das maravilhosas pizzas.
Saímos dali satisfeitos, diria que regalados. Prosseguimos sem critério. Ruas, ruelas e calçadas, assim fomos por mais de uma hora. Fomos dar por acaso ao Giardini Pubblici Indro Montanelli, um parque verde onde parámos para descansar um pouco.
Durante o resto da tarde sentimos o esforço do dia anterior e andamos mais lenta e preguiçosamente. Passeamos pela Corso de Buenos Aires e Corso Venezia que são avenidas comerciais, e depois desembocamos na Via della Spiga e Via Montenapolene e pelas ruas paralelas e perpendiculares a estas, onde estão instaladas as grandes marcas e criadores. O luxo está todo por ali. Escandalizámo-nos com os preços.
Já sem muitas forças, fomos ainda tentar visitar Castello Sforzesco mas estava a fechar. Esta era uma falha imperdoável, estar em Milão e não visitar o castelo. Ainda fomos a um pavilhão de promoção à Expo 2015. Milão está repleta de referências ao evento.
Era já iníco de noite. Antes de irmos dormir, quisemos ir provar uma massa. Regressamos a Brera. Comemos massa fresca: o pai spaghetti e eu ravioli. Dia gastronómico em pleno!
Regressamos ao hotel pelas 24h. O dia foi longo, estamos cansados, amanhã há que acordar cedinho para irmos directos para a estação.
Arriverdeci. ----
Dia 11: "Adeus Viena, olá Budapeste"
Dia 10: "Dia de romaria"
Dia 9: "Está decidido, rumamos a Viena"
Dia 8: "Praga de encantar"
Dia 7: "Praga, estamos a chegar"
Dia 6: "Hoje já sabiamos ao que íamos"
Dia 5: "Berlim está a arrebatar-nos"Dia 4: "Au revoir, bela Paris"Dia 3: "Hoje vimos uma Paris mais francesa"Dia 2: "Fransica e José descobrem Paris"Dia 1: "Pai e filha à 'conquista da Europa'"
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