"A minha família está a morrer à fome": Fotojornalista vencedora do World Press Photo alerta para tragédia em Gaza
Samar Elouf fotografou criança palestiniana que ficou sem braços após um bombardeamento. Teve de ser retirada de Gaza porque era um alvo.
Samar Abu Elouf tenta sorrir quando fala do prémio de Melhor Fotografia do Ano de 2025 que lhe foi atribuído pelo júri do World Press Photo. Mas, segundos depois, as feições do seu rosto mudam quando recorda a família que “está a sofrer e a morrer à fome em Gaza”. A fotojornalista palestiniana acompanha o que se passa no Médio Oriente ao serviço do ‘The New York Times’, um dos mais influentes jornais norte-americanos. Mas pouco depois do arranque da guerra entre Israel e o Hamas, Samar e os seus quatro filhos foram ‘resgatados’ da Faixa de Gaza, porque corriam perigo de vida. “Fui retirada porque éramos um alvo. Foi muito difícil porque tive de escolher entre a vida dos meus filhos e o meu trabalho”, recordou ao CM a fotojornalista palestiniana, que esteve em Portimão na abertura da exposição da World Press Photo.
Samar e os filhos foram levados para Doha, no Qatar, onde estão milhares de refugiados palestinianos, nomeadamente muitas crianças que ficaram feridas durante o conflito. Uma delas é Mahmoud Ajjour, de 9 anos, cujos braços foram amputados a sangue-frio na sequência de um bombardeamento em Gaza. A sua história de vida chamou a atenção de Samar, que decidiu partilhá-la com o Mundo. Foi a fotografia deste jovem palestiniano, sem braços e com o futuro em suspenso, que valeu a distinção à fotojornalista. “O Mahmoud é apenas uma das muitas crianças que ficaram feridas em Gaza e que ninguém sabe como vão retomar as suas vidas. A história dele tocou-me porque apesar do que lhe aconteceu ele quer ser jornalista e continua a ter esse sonho”, confidenciou ao CM a palestiniana, que foi uma das primeiras mulheres fotojornalistas em Gaza. “Eu cresci a ouvir bombas a cair, tal como muitas crianças que sempre viveram em ambiente de guerra, e depois comecei tirar fotografias ao que se passava em Gaza, apesar de o meu pai não concordar, inicialmente.”
Um dos momentos mais difíceis que viveu enquanto fotojornalista foi quando teve que fotografar “um amigo jornalista com o cadáver de um dos seus quatro filhos nos braços”, depois de saber que tinham morrido todos durante um bombardeamento à sua casa. “Podiam ter sido os meus filhos. Chorei muito”, confessa.
As 42 fotografias vencedoras do maior concurso de fotojornalismo do Mundo que podem ser vistas em Portimão, foram selecionadas de entre um total de 59.320 imagens a concurso, da autoria de 3.778 fotógrafos de 141 países.
A exposição pode ser apreciada na antiga Lota, junto ao rio Arade, em Portimão, até dia 10 de agosto.
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