Bolsonaro vai recorrer a organismos internacionais contra a sentença que o tornou inelegível

Informação foi adiantada pelo presidente do Partido Liberal, Valdemar da Costa Neto.

02 de setembro de 2023 às 15:48
Bolsonaro Foto: Andre Borges/lusa
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O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), que nos seus quatro anos de mandato hostilizou de forma bastante desrespeitosa quase todos os organismos internacionais, parece ter mudado a sua opinião sobre esses órgãos e já não pensar que eles são dominados, como dizia, "por comunistas". Tanto que pretende recorrer a uma delas, a Organização dos Estados Americanos, OEA, contra a sentença do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, brasileiro que em junho o tornou inelegível e inviabilizou o projecto de se candidatar às presidenciais de 2026.

Quem avançou a inesperada informação foi o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, acrescentando que Bolsonaro e o partido vão recorrer da sentença a todos os órgãos que for possível, dentro e fora do Brasil. O PL já recorreu da condenação ao próprio TSE e espera uma resposta e, se ela não for favorável ao antigo presidente, recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF), isto sem prejuízo dos recursos em órgãos internacionais.

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"Estamos no barco com Bolsonaro e não vamos sair. Não tenham dúvidas de que vamos tentar reverter essa decisão. As coisas mudam, e daqui a dois ou três anos podem ter mudado muito."-Declarou Valdemar, tentando mostrar optimismo na reversão da inelegibilidade de Jair Bolsonaro que, no entanto, não é o único e talvez nem o maior problema do ex-presidente.

No TSE, Bolsonaro enfrenta mais 15 acções que podem acarretar-lhe novas condenações, é investigado em diversos outros processos no STF e, no caso mais preocupante, pode ser preso a qualquer momento no âmbito da investigação da Polícia Federal que o acusa de ter desviado para si ilegalmente e ter vendido nos EUA valiosos presentes em ouro e pedras preciosas oferecidos ao Brasil (e não a ele) por governos estrangeiros durante o seu mandato.

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Bolsonaro até agora colaborava com a investigação, foi depor sempre que foi chamado e negou ter vendido ou mandado vender fosse o que fosse, embora tenha admitido que ficou com alguns desses presentes, porque, no entendimento dele, eram objectos pessoais, como relógios Rolex e Chopard em ouro branco e rosé cravejados de diamantes, mas que devolveu em Março passado por ordem da justiça. Mas quinta-feira passada, 31 de Agosto, novamente imtimado, foi até à sede da corporação mas recusou depor alegando não reconhecer competência ao Supremo Tribunal Federal para conduzir o inquérito.

A súbita mudança de atitude de Bolsonaro ocorreu após o seu antigo ajudante-de-ordens, tenente-coronel Mauro Cid, preso desde Maio em Brasília, ter decidido quebrar o silêncio que mantinha até aqui e negociado uma colaboração premiada com a justiça visando a liberdade condicional e, em caso de condenação, uma redução de pena. O militar decidiu falar depois de Bolsonaro, dias atrás, tentando esquivar-se das acusações, ter dito que se alguma coisa ilícita foi feita talvez tenha sido feita por Mauro Cid, que, segundo o antigo chefe de Estado, tinha uma autonomia muito grande.

Cid não gostou, sentiu-se abandonado por aquele a quem o seu silêncio protegia, e começou a falar. Bolsonaro, sem conseguir saber o que o ex-subordinado disse, já que o depoimento de Cid está a ser mantido em rigoroso sigilo, optou por ficar calado, para não entrar em contradição com as declarações do militar e não correr o risco de receber voz de prisão ali mesmo durante o depoimento.

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