Cabelo de Julen dá alento para continuar buscas no poço
Pais e elementos do socorro acreditam que bolsa de ar possa salvar menino.
Mais de 72 horas depois de o pequeno Julen ter caído num poço com cerca de 100 metros em Totalán, Málaga, as autoridades espanholas acreditam ter determinado a zona onde estará o menino.
A descoberta de cabelos da criança de dois anos e meio – encontrados entre a terra que foi aspirada no primeiro dia de buscas e esta quarta-feira confirmados através de testes de ADN – dão novo alento aos operacionais e sobretudo à família. Esperança e fé eram as palavras repetidas por quem acompanha as operações.
Acredita-se que Julen estará numa bolsa de ar a cerca de 78 metros da superfície, pouco abaixo do ‘tampão’ de terra que bloqueou o tubo aos 73 metros.
As primeiras tentativas de aspirar esses detritos revelaram-se infrutíferas – foram removidos apenas cerca de 60 centímetros de terra – e esta quarta-feira os quase cem operacionais trabalhavam em três cenários diferentes: continuar a sucção de detritos no poço, perfurar outro poço na vertical paralelo ao primeiro e escavar um túnel quase na horizontal a partir da encosta até chegar ao local onde estará a criança. Mas todas estas tentativas de resgate estão a ser feitas em contrarrelógio.
O drama da família – que em 2017 perdeu outro filho, com apenas três anos, vítima de morte súbita – é vivido por muitos dos operacionais que desde domingo não saem da serra de Totalán.
"Há aqui bombeiros com barba de três dias, mas não abandonam as buscas porque também são pais", garantia esta quarta-feira um dos responsáveis pelas equipas no terreno à imprensa espanhola. Mas não só. A rainha Letízia entrou em contacto com o alcaide de Totalán para se inteirar do caso e perceber o que estava a ser feito.
À hora de fecho desta edição estavam a terminar os trabalhos de terraplanagem e sustentação da encosta onde durante a noite uma tuneladora iria começar a perfurar.
Ninguém se arrisca a avançar com um prazo para concluir esta operação, até porque a escavação dos 80 metros de terra e pedras tem de ser feita com cuidado para evitar a derrocada do poço onde o pequeno Julen caiu na tarde de domingo.
"Um anjo vai ajudar Julen a sair vivo daquele poço"
Em declarações ao canal SUR, o pai, de 29 anos, explicou como tudo aconteceu pela primeira vez. "Estávamos a preparar uma ‘paella’ e eu fui recolher lenha para o fogo. A minha mulher pegou no telefone para avisar que não ia trabalhar [numa hamburgueria de Málaga] e pediu-me que eu olhasse pelo Julen enquanto fazia a chamada. Ele estava a quatro ou cinco metros de mim. Fui apanhar dois troncos e o menino começou a correr. De repente já estava a 10 ou 15 metros e a minha prima, que estava mais perto, foi atrás dele a correr. Eu fui atrás...".
E foi nesta altura que a prima viu o pequeno Julen a desaparecer no buraco. "Ela está destroçada. Viu-o a cair de pé pelo tubo, com os braços para cima. Ele é magrinho, tem apenas 11 quilos... Eu cheguei logo a seguir, afastei as pedras e meti o braço até ao ombro. Não sabia qual era a profundidade e acreditava que estivesse próximo. Depois ouvi o meu filho a chorar e apenas pude dizer para ficar tranquilo, que eu e o irmão [Oliver, falecido em 2017, de morte súbita, quando tinha três anos] íamos ajudar", explicou José Roselló, que garante que as pedras estavam a tapar o poço, mas não estavam bem postas.
O desespero impediu a família de dar logo o alerta para o 112. Acabou por ser um casal de caminhantes que ali passava a fazer essa chamada.
Alcaide quer Unidade Militar de Emergência no lugar da Guardia Civil
"O que se está a fazer não é adequado. Há empresas europeias com equipamentos como georradares que não existem na Andaluzia. Pedi a colaboração do ministro do Interior para que a UME traga esses recursos e coordene a operação em vez da Guardia Civil", disse o alcaide.
Vigília de apoio junta centenas
Perito diz que é possível resistir
Construtor diz que furo foi destapado
"Eu coloquei uma pedra, alguém a tirou. Eu não tenho a culpa do que aconteceu", sublinhou, em declarações prestadas à imprensa espanhola.
Convívio em terreno de familiares
Sem licença e com duas pedras a tapar
PORMENORES
Primeiros indícios
Os primeiros sinais da presença do menino no interior do poço foram detetados com recurso ao robot usado pelas equipas de resgate. O aparelho encontrou um saco de rebuçados que Julen, de dois anos e meio, teria consigo no momento da queda.
Técnicos especializados
O ministério da Defesa espanhol desviou um avião militar e enviou oito técnicos especializados para apoiar os operacionais envolvidos na missão de resgate. No terreno estão elementos da Guardia Civil, da proteção civil, dos bombeiros e de várias empresas privadas de engenharia e construção.
Onda de solidariedade
Os responsáveis pelas operações dizem ter "perdido a conta" às ofertas de apoio técnico para as buscas. Esta quarta-feira, as autoridades já tinham recebido pelo menos 60 contactos de empresas de todo o Mundo, dispostas a ajudar nos trabalhos.
Apoio de pai de vítima
Juan José Cortés, pai de Mari Luz, a menina espanhola de cinco anos que foi assassinada em 2008, deslocou-se esta quarta-feira ao local das operações de resgate para apoiar a família de Julen. Surgiu mesmo ao lado do pai do menino, José Roselló, quando este falou à imprensa que acompanha o caso no local.
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