Emilio Moret foi a arma secreta do Kriol Jazz Festival na cidade da Praia
A noite já estava ganha com a atuação de Salif Keita, mas foi a participação de Emilio Moret que surpreendeu, ao cair do pano do concerto dos Afro Cuban Jazz Project.
O cantor cubano que durante vinte anos fez parte do Septeto Habanero, entrou em palco a meio da atuação dos Afro Cuban Jazz Project e bastou cantar a primeira frase de ‘Dos Gardenias’ para chamar todas as atenções. A sua voz não deixou ninguém indiferente. Desde o público que se encontrava mais perto do palco, até aos que estavam mais afastados, entre petiscos, encontros e conversas, todos recentraram as atenções para o palco.
Emilio entrou com melodia e firmeza na voz. Num clima tropical e com uma banda de grande classe, estava a jogar em casa. O público cabo-verdiano respondeu com entusiasmo. Emilio entrou com ‘ganas’, e rapidamente encontrou a alegria. A banda deu o máximo, ou não estivesse em palco com um dos seus ídolos. Jorge Reyes é o contrabaixista e responsável pela banda, que é um projeto criado com José da Silva, que pretende a troca de experiências entre músicos cubanos e cabo-verdianos. Jorge Reyes declarou estar muito contente com a prestação dos Afro Cuban Jazz Project, que atuou pela primeira vez em Cabo Verde, e num festival de jazz.
"Está aqui uma pessoa que para nós é surpreendente. É a voz da experiência, Emilio Moret. Foi muito emocionante trabalharmos juntos, também pela primeira vez", disse o contrabaixista, que chamou o cantor cubano para a zona de entrevistas rápidas após os concertos. "Foi para mim uma honra ter sido acompanhado por músicos de grande classe", rematou Emilio Moret, depois do concerto que fechou a segunda noite do Kriol Jazz Festival (KJF).
O KJF durou três dias, começou na quinta-feira com os espanhóis Jorge Pardo & Armando Orbón, o cabo-verdiano Soren Araujo. Mas a noite de sexta-feira ficou marcada pela grande estrela do festival deste ano, Salif Keita, que deu um concerto que ficará na memória dos cabo-verdianos. Depois de ter dado uma conferência de imprensa em que revelou a sua admiração por Cesária Évora, no KJF interpretou o tema que gravou com a ‘diva dos pés descalços’, ‘Yamore’, desta feita com a cantora Mindela Soares.
Pelo palco passou também o saxofonista norte-americano Steve Coleman, que trouxe a sua musicalidade criativa de Chicago. Uma noite que abriu com a prestação do cantor da ilha do Maio, em Cabo Verde, Tibau Tavares que tocou com a Munganga Band, da Áustria, com quem tem estado a fazer concertos na Europa. Ter tocado na cidade da praia deixou o cantor satisfeito.
"Estou muito contente. Porque foi um concerto para o meu povo. É sempre importante", refere o cantor. Questionado pela imprensa local, sobre o facto de ter cantado mornas num festival, o cantor responde: "Eu sou cabo-verdiano de gema. Sei muito bem que o crioulo gosta de mornas, mas nos festivais não gosta de música lenta. Mas eu obrigo-os a ouvir. Porque a morna é a nossa raiz".
Sábado foi o último dia de festival. Jenifer Solidade deu voz aos Pret & Bronk de Khaly Angel. Os Kriolatino, juntaram os Afro Cuban Jazz Project com alguns músicos de Cabo Verde, como o saxofonista Totinho, que pertence aos Tubarões, e fez parte da banda de Cesária Évora, o guitarrista e compositor Hernani Almeida, e Khaly Angel no teclado, e com as vozes das novas revelações Zubikilla Spencer e Fábio Ramos. Como cabeça de cartaz para a noite de encerramento atuou o brasileiro Hermeto Pascoal, considerado por Miles Davis como "o músico mais impressionante do mundo", continua, com 87 anos de idade, em grande na arte do improviso, e em palco ofereceu ao KJF uma música escrita, que fez questão de entregar a José da Silva, diretor do festival, e antigo manager de Cesária Évora.
O KJF 2024 terminou com música do Gana, os Santrofi, o ritmo africano associado ao funk e afrobeat, através da bateria, percussão, guitarras e instrumentos de sopro e teclados. A cidade da Praia dançou até ao fim.
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