Líder da oposição na Guiné-Bissau recusa comer na prisão por medo de ser envenenado
Domingos Simões Pereira está detido há 48 horas na sequência do golpe de estado no país africano. Não tocou em comida ou bebida.
Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que está detido desde o golpe de estado na Guiné-Bissau ocorrido na última quarta-feira, recusou-se a comer ou beber até ao momento, decorridas 48 horas da sua detenção. Segundo apurou o Correio da Manhã junto de fonte próxima do líder da oposição guineense, a atitude de Simões Pereira deve-se ao receio de ser envenenado, uma prática recorrente nos últimos tempos na antiga colónia portuguesa.
O CM sabe que a filha de Simões Pereira levou comida ao pai à 2.ª esquadra, no centro de Bissau, a capital guineense. No entanto, os militares no local não permitiram que fosse entregue diretamente. Perante isto, Simões Pereira recusou-se a ingerir o alimento que a filha tinha levado.
Octávio Lopes, figura destacada do PAIGC e mandatário do candidato que alegadamente terá ganho as eleições, Fernando Dias da Costa, e que igualmente está detido, seguiu o exemplo de Simões Pereira e não tocou na comida ou na água. Também este político entende que o jejum completo é a melhor forma de precaver um atentado à sua vida.
Ao início da tarde desta sexta-feira surgiu a notícia de que Simões Pereira teria recebido ordem de libertação, decretada pelo Serviço de Informação do Estado. Só que a Polícia de Intervenção Rápida presente na 2.ª esquadra revogou de imediato essa decisão, informando o líder do PAIGC que só o presidente interino, o general Horta Inta-A, pode ordenar a sua libertação.
Igualmente esta sexta-feira, o presidente deposto da Guiné-Bissau responsabilizou Portugal pelos acontecimentos recentes que levaram ao seu afastamento do poder. Numa entrevista ao canal 1 Africa TV, Umaro Sissoco Embaló acusou Portugal de ter ajudado ao golpe militar e lamenta esse comportamento hostil sempre que o seu líder se chame “Mamadou, Omar ou Ibrahim”. “Sempre que há um presidente muçulmano na Guiné-Bissau, Portugal é muito hostil”, acusou Embaló, que chegou a ser condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique.
As declarações contradizem aquela que foi a mensagem transmitida por Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República afirmou ter entrado em contacto com o seu homólogo guineense, que lhe disse estar bem de saúde. Marcelo garantiu ter tido uma “reação agradecida, positiva e simpática”.
Embaló, que esteve quase seis anos no poder e foi deposto na quarta-feira por um golpe militar, chegou a Dakar num avião fretado pelo Governo do Senegal na noite de quinta-feira.
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