Um morto, 33 feridos e 18 detidos durante funeral do músico "Nagrelha". Cerimónias fúnebres juntaram milhares de pessoas

Polícia angolana usou gás lacrimogéneo para dispersar um tumulto nas imediações no cemitério de Santa Ana.

22 de novembro de 2022 às 11:02
Funeral "Nagrelha"
Funeral "Nagrelha"
Funeral "Nagrelha"
Funeral "Nagrelha"
Funeral "Nagrelha"
Polícia, Angola, Nagrelha Foto: DR/Twitter
Polícia, Angola, Nagrelha Foto: DR/Twitter
Polícia, Angola, Nagrelha Foto: DR/Twitter
2022-11-20_19_07_51 na grelha.jpg Foto: Twitter/DR

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O funeral do kudurista angolano "Nagrelha" ficou esta terça-feira marcado por tumultos e violência à entrada do cemitério de Santa Ana, em Luanda, onde a enorme multidão concentrada no local foi dispersa com gás lacrimogéneo, provocando ferimentos em várias pessoas.

Um jovem morreu e 33 pessoas ficaram feridas, incluindo 16 polícias, dois dos quais esfaqueados com gravidade, segundo um balanço da polícia de Luanda. 

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Em declarações à Lusa, o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, superintendente Nestor Goubel, adiantou que a vítima mortal será um adolescente de 13 ou 14 anos, que morreu asfixiado durante o tumulto que teve lugar nas imediações do cemitério, tendo morrido a caminho do hospital.

Ainda sem dados oficiais da polícia, que mobilizou 800 agentes para acompanhar o cortejo e funeral, a Lusa testemunhou no local a caótica debandada, com pessoas desmaiadas e feridas, enquanto muitos outros perderam chinelos e sapatos quando tentavam fugir ao gás.

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A manhã começou cedo, no Estádio da Cidadela onde se organizaram as cerimónias fúnebres de homenagem a Gelson Caio Mendes "Nagrelha", estrela maior do kuduro e do bairro Sambizanga, ídolo inspirador de muitos jovens angolanos que admiram a fama e o sucesso conquistado por um filho do "gueto".

Mas a grande mobilização a que se assistia já no Sambizanga, onde o "Estado-maior do kuduro" reuniu as tropas na noite anterior, fazia adivinhar que o dia a seguir seria complicado, o que levou as autoridades a fechar a Avenida Deolinda Rodrigues, um dos principais acessos à cidade, para libertar as imediações do cemitério que ficou reservado apenas para o funeral de "Nagrelha".

Pelas 9h30, uma multidão de angolanos, sobretudo jovens, avançavam já em direção ao cemitério, num cortejo colorido e agressivo, onde se entoavam cânticos e palavras de ordem, acompanhados dos disparos dos "rateres" dos milhares de motoqueiros que acompanhavam o desfile.

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Todos queriam despedir-se de "Naná", o nome carinhoso como era conhecido "Nagrelha", uns imitando o tom descolorado do cabelo, outros envergando uniformes militares honrando o seu "Estado-maior" e até houve quem passeasse nu pela multidão.

"Tudo pelo kuduro", como dizem.

A morte chegou cedo para o artista de 36 anos que regressou a Luanda há poucos meses, depois de uma temporada para tratamento em Portugal, tendo ficado internado no antigo sanatório de Luanda, atual complexo hospitalar Cardeal Alexandre do Nascimento devido a um cancro no pulmão.

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Ainda no início deste ano, o kudurista, que participava regularmente nos comícios do MPLA organizados pelo anterior Presidente da República, José Eduardo dos Santos, falecido também este ano, dava uma polémica entrevista ao artista Flysquad, em que se zangou com o entrevistador quando este o questionou sobre "Zedu", quem dizia ser o "pai" que o alimentou.

Partiram com poucos meses de diferença, mas entre o pesar institucional do funeral de Estado de "Zedu" e a comoção da despedida do "Estado-maior" do kuduro, fez-se um mundo de distância.

E os jovens, provenientes de todos os bairros periféricos de Luanda, a quem a colagem partidária de "Nagrelha" não incomodou, mostraram que o mundo deles é o maior, homenageando o artista com um cortejo fúnebre jamais visto em Luanda, segundo várias pessoas ouvidas pela Lusa.

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Ao desfilarem, muitos choravam o "filho do Zedu", enquanto outros proclamavam "'Nagrelha' Presidente. João Lourenço, deputado", numa crítica implícita ao atual chefe de Estado.

Tudo correu bem, até toda a energia explosiva se transformar em caos junto ao cemitério onde a Lusa testemunhou o pânico da multidão que tenteava fugir às granadas de gás lacrimogéneo.

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