Polícia diz que valor da venda ilícita de presentes oficiais era dado a Bolsonaro em dinheiro vivo para não deixar rastos

Nome do ex-Presidente do Brasil é mencionado 93 vezes em relatório da Polícia Federal.

Bolsonaro
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Num relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro de ser o beneficiário dos valores resultantes das vendas ilícitas de presentes oficiais dados por outros países ao Brasil e dos quais ele se apropriou e levou para os EUA ao deixar o governo, refere o documento. No relatório da PF, com 105 páginas, o nome de Jair Bolsonaro é citado 93 vezes, e a investigação aponta que ele recebia esses montantes ilícitos em dinheiro vivo, para não deixar pistas.

"Os valores obtidos com essas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no património pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objectivo de ocultar a origem, a localização e a propriedade desses valores."-Lê-se num trecho do detalhado relatório da investigação federal, baseado no qual o STF autorizou as operações de busca e apreensão desencadeadas esta sexta-feira em escritórios e residências de várias pessoas do círculo mais próximo de Jair Bolsonaro em Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

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Os alvos principais das operações foram o ex-ajudante-de-campo de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, já preso por outro crime envolvendo o antigo chefe de Estado, o pai desse militar, general Mauro Lourena Cid, e o advogado do ex-presidente, Frederick Wasseff. Segundo a Polícia Federal, ao deixar o Brasil precipitadamente rumo aos Estados Unidos em 30 de Dezembro de 2022, um dia antes do fim do mandato, Bolsonaro levou no avião presidencial, que não passava por qualquer revista, malas repletas de presentes valiosos, como jóias, objectos em ouro e diamantes e obras de arte, oferecidos ao Brasil durante o seu mandato por governos de outros países e que, violando as leis, não foram incorporados ao acervo do país.

Nos EUA, ainda segundo a apuração da investigação federal, o general Mauro Lourena Cid, que ocupava um cargo numa representação oficial brasileira em território americano, encarregou-se de vender esses valiosos objectos em lojas de compra e venda de jóias e de leilões. Os valores correspondentes a essas transacções de bens públicos brasileiros eram depositados na própria conta do general, que depois transformava tudo em dinheiro vivo e entregava a Bolsonaro sem deixar pistas, afirma o relatório.

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Desde décadas atrás, quando ainda era deputado, Jair Bolsonaro, os filhos e outros familiares, entre eles ex-mulheres, têm sido acusados de movimentar milhões em dinheiro vivo para disfarçar a origem desses recursos, quase sempre a corrupção, mas a influência política do clã até hoje impediu o avanço desses processos. Bolsonaro não foi alvo da operação desta sexta-feira, mas a Polícia Federal já teve acesso a mensagens de áudio e de texto apagadas dos telemóveis dos suspeitos mas que agentes conseguiram recuperar, nas quais Mauro Cid e o pai, o general Mauro Lorena Cid, combinam entregar, só de uma vez, 25 mil dólares ao antigo governante, que ficou até 30 de Março passado nos EUA, tendo o cuidado de recomendar que fosse em espécie, para não deixar rastos.

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