Prisioneiro ou membro dos serviços secretos de Assad? Investigada identidade de homem salvo por repórter em prisão síria
Homem estava bem cuidado, fisicamente saudável e sem ferimentos visíveis ou sinais de tortura.
Adel Gharbal foi prisioneiro de uma das famosas prisões do antigo presidente sírio Bashar al-Assad durante três meses até ter sido salvo pela repórter da CNN Internacional, Clarissa Wad, segundo o Daily Mail.
A jornalista e restante equipa estavam a visitar a prisão quando se aperceberam de uma cela ainda trancada. Lá dentro, estava Adel Gharbal escondido debaixo de um cobertor. Durante quatro dias, o prisioneiro não comeu nem bebeu água. Adel foi deixado sozinho após a queda de Damasco para as forças rebeldes.
Quando foi encontrado, o homem estava bem cuidado, fisicamente saudável e sem ferimentos visíveis ou sinais de tortura, ainda que, alegadamente, os detidos fossem espancados e torturados até à morte. Acabou por ser libertado, após decisão de um guarda.
A CNN Internacional abriu uma investigação: "Temos estado a investigar os seus antecedentes e estamos cientes de que ele pode ter dado uma identidade falsa”, afirmou um porta-voz.
Quem é o prisioneiro?
Após investigar, Verify-Sy, rede internacional de verificação de factos, identificou o homem como sendo Salama Mohammad Salama ou Abu Hamza. O prisioneiro tinha sido primeiro-tenente dos serviços secretos da Força Aérea Síria, que serviu o antigo presidente Bashar al-Assad.
Segundo residentes do bairro de Al-Bayyada, Salama Mohammad esteve envolvido em “roubo, extorsão e coação de residentes para se tornarem informadores”, participou em operações militares em várias frentes em Homs em 2014, matou dois civis e foi responsável pela detenção e tortura de jovens.
Também de acordo com os residentes, o homem estava na prisão há cerca de um mês devido a uma disputa com um oficial de patente superior. Para apagar provas do envolvimento em crimes de guerra, Salama Mohammad terá desativado as redes sociais e mudado o número de telefone.
Detenções, tortura e mortes
A Rede Síria para os Direitos Humanos revelou que, desde o início da revolução no país do Médio Oriente, em março de 2011, mais de 157 mil pessoas foram presas ou simplesmente desapareceram. Destes números fazem parte 5.274 crianças e 10.221 mulheres. Dos detidos, muitos são manifestantes, opositores políticos, médicos e defensores dos direitos humanos.
À detenção seguia-se a tortura até à morte nas prisões. Mais de 1500 pessoas foram vítimas de práticas como eletrocutar os órgãos genitais e queimá-los, esmagar cabeças entre a parede e a porta da cela, inserir agulhas nos corpos, privar os prisioneiros de acesso a roupas, banho e WC. Segundo um relatório da Amnistia Internacional, milhares foram enforcados na prisão de Sednaya, nos arredores de Damasco, conhecida por "Matadouro Humano".
Os crimes eram normalmente cometidos às segundas e quartas-feiras à noite. Todas as semanas, morriam entre 20 a 50 pessoas. Conforme a mesma fonte, entre cinco mil a 13 mil pessoas foram executadas no período compreendido entre setembro de 2011 e dezembro de 2015.
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