“Vieram ao serviço de um homem”: Joe Biden assinala primeiro aniversário da invasão ao Capitólio
Presidente culpa vaidade de Trump pela invasão de janeiro de 2021. Biden sublinhou caráter inédito do ataque à democracia.
O presidente Joe Biden assinalou o primeiro aniversário da invasão do Capitólio com um discurso, no qual fez as mais contundentes acusações de sempre ao antecessor na Casa Branca e as mais graves denúncias em relação aos acontecimentos de 6 de janeiro de 2021. Sem nunca referir o seu nome, acusou Trump pelo culto da mentira e considerou-o responsável moral pelo grave “assalto à democracia” de janeiro de 2021.
“Pela primeira vez na nossa História, um presidente não só perdeu as eleições como tentou impedir a transferência pacífica do poder”, afirmou Biden, dizendo que Trump, depois de incitar uma multidão de apoiantes a marchar sobre a sede da democracia americana, ficou passivamente a seguir os acontecimentos pela TV, “não fazendo nada durante horas”. Não acionou meios de socorro nem apelou à calma para travar uma violência que comparou com “o colocar de uma faca na garganta da democracia americana”.
Naquele dia morreram cinco pessoas porque os que atacaram o Capitólio “o fizeram com raiva, não ao serviço da América, mas ao serviço de um homem”. E para esse homem, sublinhou Biden, “o ego ferido importa mais do que a nossa democracia e a nossa Constituição.”
O presidente referiu ainda a teoria da conspiração que esteve na origem de tudo: a tese de fraude eleitoral. “Temos de ser absolutamente claros sobre o que é verdade e o que é mentira. Eis a verdade: um antigo presidente dos EUA criou e disseminou uma teia de mentiras sobre as eleições de 2020. Fê-lo porque dá mais valor ao poder do que aos princípios.”
Recorde-se que pouco antes da invasão do Capitólio, Trump incitou milhares de apoiantes a marcharem sobre o edifício do Congresso para travar a certificação da vitória de Biden, que decorria na altura. Não apelou abertamente à violência, mas insistiu na ideia de que era dever de todos “lutarem” para travar o que classificou como o roubo da sua vitória nas presidenciais, numa alegada fraude que nunca provou mas que, ainda assim, reiterou esta quinta-feira de novo em resposta ao discurso de Biden.
"É assim que morrem as democracias"
A congressista republicana Liz Cheney alertou para o risco de desvalorizar o assalto ao Capitólio e olhar para o outro lado, como fazem muitos no seu partido, pois "é assim que morrem as democracias".
Kamala faz apelo pelo direito de voto
A vice-presidente Kamala Harris fez um apelo pela democracia e contra o esforço republicano "para silenciar as nossas vozes" com medidas que visam restringir o direito de voto em vários estados.
Frases
"As mentiras que causaram a ira e a loucura não se desvaneceram"
"Os que invadiram o Capitólio e os que instigaram o incidente Colocaram uma faca na garganta da América e da democracia americana [...] mas falharam"
"um presidente derrotado tentou impedir a transferência pacífica do poder"
"Vieram aqui com raiva, não ao serviço da América, mas ao serviço de um só homem"
Joe Biden Trump reage e fala de "teatro político"
O ex-presidente considerou o discurso um mero “teatro político” para desviar atenções do “facto de que Biden falhou por completo” enquanto chefe de Estado. Quanto às alegações de fraude eleitoral que serviram de pano de fundo e de motor à invasão do Capitólio de janeiro de 2021, para travar a tomada de posse de Biden, Trump insistiu na mesma versão dos acontecimentos e nas acusações de sempre à comunicação social: “Os media cúmplices chamam-lhe a Grande Mentira quando, de facto, a Grande Mentira foi a própria eleição”. Em seu entender, com as comemorações desta quinta-feira, os democratas querem “apropriar-se deste dia 6 de janeiro para alimentarem medos e dividirem a América”. Se esse é o caso, concluiu, “deixem-nos fazê-lo, pois a América vê através das suas mentiras e polarizações.”
Procurador-geral promete ir até ao fim e não poupar os poderosos
O procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, prometeu desta quinta-feira que as iniciativas já tomadas pelo Departamento de Justiça "não serão as últimas" e garantiu: "Seguiremos os factos onde quer que nos levem". Tal como Biden no seu discurso, Merrick nunca referiu o nome do ex-presidente Donald Trump, mas a alusão parecia clara e foi ainda mais reforçada quando disse: "Estamos empenhados em responsabilizar todos os perpetradores [da invasão do Congresso], quer estivessem ou não presentes nesse dia e independentemente do tipo de responsabilidade criminal pelo assalto à nossa democracia". E foi ainda mais claro quando disse: "Não pode haver regras diferentes para os poderosos e os que não têm poder". Até agora foram acusadas 700 pessoas por implicação no caso.
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