Obra no edifício está prevista num concurso em duas etapas, segundo o mesmo documento.
O abandonado edifício Vila Algarve, imóvel classificado no centro de Maputo e que serviu como prisão da PIDE no período colonial, vai ser transformado em museu-hotel, segundo informação do Governo moçambicano consultada este domingo pela Lusa.
De acordo com um anúncio de adjudicação, o Ministério dos Combatentes entregou à empresa Giluba-Lin o projeto de "elaboração, requalificação do edifício e exploração de atividade museu-hotel do edifício denominado por Vila Algarve".
A obra no edifício, em avançado estado de degradação, no número 10 do cruzamento das avenidas dos Mártires de Machava e Ahmed Sekou Touré, centro de Maputo, está prevista num concurso em duas etapas, segundo o mesmo documento.
Atualmente, todas as entradas da vivenda construída em 1934 no coração de Maputo, ampliada em 1950 e este domingo classificada como Imóvel de Interesse Arquitetónico, estão entaipadas e protegem o interior da ocupação por pessoas em situação de sem-abrigo, como já aconteceu em anos anteriores.
Da imponente vivenda no centro de Maputo, decorada por extensos mosaicos com motivos naturalistas, sobram este domingo pouco mais do que paredes, tetos e telhados, mas também histórias sombrias do período colonial, quando a Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) a confiscou, passando a usá-la como local de tortura de então combatentes pela independência moçambicana. Histórias como as que o poeta moçambicano José Craveirinha (1922-2003) retrata nos seus poemas "Não sei se é uma medalha" de 1967, e nas duas versões de "Vila Algarve", de 1988 e de 1998, sobre o período em que ali esteve detido, com passagem pelo interrogatório da PIDE.
Em 25 de junho de 1975, Moçambique proclamou a sua independência, mas nos anos seguintes o abandono, a degradação e os 'fantasmas' em torno do que ali se passou tomaram conta da Vila Algarve e até a Ordem dos Advogados de Moçambique tentou, sem sucesso, em 2008, fazer do espaço a sua sede. Património do Estado, já foi equacionado em 2011 ali instalar o futuro Museu da Luta de Libertação, mas como todos os outros projetos, não avançou.
Mesmo Joaquim Chissano, Presidente moçambicano de 1986 a 2005, tentou, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros, no primeiro do Governo do novo país, colocar ali aquele ministério. "Tentei utilizar a Vila Algarve. Não fui bem compreendido.
E, então, depois passaram outras entidades que queriam utilizar a Vila Algarve, e o intuito era preservar o lugar. No meu tempo, era para fazer daquilo um ambiente de paz, de solidariedade, ou o próprio ministério. Como não tínhamos casas adequadas na altura, era uma maneira de preservar", recordou em junho, à Lusa, o antigo Presidente da Republica. "E sempre quis que também os combatentes da Luta de Libertação Nacional estivessem lá, como sua sede.
Não conseguimos, por várias interpretações. Oxalá que haja alguém que consiga realmente restaurar e preservar esta peça histórica. É uma peça histórica muito importante", desabafou Chissano. Fantasmas do passado que continuam a pairar na Vila Algarve, cujo abandono o historiador Marlino Mubai, professor na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), não compreende. "Está intimamente ligado à história de Moçambique do ponto de vista da luta contra a dominação colonial, fascista em particular", contou o historiador, numa entrevista anterior à Lusa, lamentando sucessivos projetos e intenções falhadas.
Como local que "une" Moçambique e Portugal, Mubai defendia já então que os dois países deviam unir esforços, como de resto chegou a ser admitido no passado: "Pudessem reabilitar aquele espaço que lembra, efetivamente, um passado muito difícil dos dois povos, mas que, a partir daí, se forjaram novas alianças de irmandade entre os povos que este domingo continuam a alimentar a diplomacia moçambicana e portuguesa".
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.