Vereadora foi executada com quatro tiros dentro do carro numa rua do Rio de Janeiro.
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A morte da ativista de direitos humanos e vereadora Marielle Franco, executada com quatro tiros dentro do carro numa rua do Rio de Janeiro em 14 de março, completa esta segunda-feira dois meses sem que o crime tenha sido esclarecido ou alguém preso. No atentado, cometido perto das 21h30 numa Rua do bairro do Estácio onde as câmaras de vídeovigilância tinham sido desligadas na véspera, morreu também o motorista de Marielle, Anderson Pedro Gomes.
Dois meses depois, o pouco que se sabe sobre as duas mortes foi avançado pela imprensa, nomeadamente pelo jornal O Globo, em notícias que foram consideradas "nefastas" pelas autoridades mas que acabaram por forçar a polícia a dar detalhes que antes se recusava a fornecer. Entre eles, que um outro vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Marcello Siciliano, e um ex-polícia preso em Outubro de 2017 por comandar uma milícia armada, Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando Curicica, são os principais suspeitos de terem ordenado a morte da activista.
Uma testemunha que está a ser mantida sob anonimato e protegida pela polícia mas a cujo depoimento o jornal O Globo diz ter tido acesso, acusa diretamente o vereador e o chefe da milícia de terem sido os mandantes da execução, que teria sido levada a cabo por homens da confiança de Orlando Curicica, entre eles dois polícias. Ainda de acordo com a testemunha, Curicica e Siciliano já vinham a estudar a morte de Marielle desde Junho de 2017, e o chefe da milícia, preso por outro homicídio, terá dado a ordem para a execução de dentro da penitenciária onde se encontra confinado, em Bangu.
Mais uma vez de acordo com a testemunha, a morte de Marielle foi decretada porque as ações de consciencialização que ela fazia em favelas, nomeadamente com mulheres negras, contrariava interesses dos dois principais suspeitos. A milícia de Orlando controla sob o poder e o terror das armas várias favelas na zona oeste do Rio de Janeiro, nomeadamente na região de Curicica, de onde vem a alcunha dele, e onde o vereador Marcello Siciliano também tem reduto eleitoral e outros interesses.
O envolvimento de milicianos, ex-agentes da polícia que se reúnem em grupos paramilitares e controlam vastos territórios para explorarem os habitantes, foi avançado pelas autoridades poucas horas após as mortes. Mas também não está afastada a possibilidade de polícias da ativa estarem por trás dos crimes, porque excessos da polícia em favelas eram uma das denúncias mais frequentes de Marielle e, dias antes da sua morte, tinha feito mais uma, acusando agentes de terem executado a sangue-frio dois jovens na favela de Acari e de terem atirado os corpos para um barranco.
Sob forte pressão da imprensa e da comissão de parlamentares que acompanha o caso e tem acusado a polícia de erros graves na investigação, as autoridades do Rio de Janeiro e o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, têm repetido que o esclarecimento dos crimes está muito próximo e que os culpados serão identificados e punidos. Mas não dão detalhes dos rumos ou avanços da investigação, e só reconheceram Marcello Siciliano e Orlando Curicica como suspeitos porque eles mesmo vieram a público, o segundo através de comunicado, negar envolvimento no atentado.
Esta segunda, vários atos estão previstos para ocorrer por todo o Brasil e até em outros países, exigindo o esclarecimento dos crimes. Pouco conhecida fora do Rio antes da morte, Marielle Franco, negra, lésbica e eleita por um pequeno partido da esquerda radical, tornou-se após 14 de Março um símbolo de resistência e de quem, como ela, nasceu num bairro da lata violento e conseguiu frequentar uma universidade pública e chegar à política como a quinta vereadora mais votada da segunda maior cidade do Brasil e fazer ouvir a sua voz.
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