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Ator Wagner Moura diz que operação policial no Rio de Janeiro foi "chacina eleitoral"

No seguimento da operação, mais de 120 pessoas perderam a vida.

07 de novembro de 2025 às 20:42

O ator brasileiro Wagner Moura, em Portugal para promover a estreia do filme "O Agente Secreto", manifestou esta sexta-feira indignação pela operação policial no Rio de Janeiro, que causou pelo menos 121 mortos, classificando-a de "uma chacina eleitoral".

"A polícia no Brasil, ela não existe para proteger o cidadão. Ela existe para proteger o Estado", sublinhou, durante uma conferência de imprensa, no cinema Nimas, em Lisboa. Wagner Moura disse que "o Estado determina quem são os inimigos, e no momento os inimigos do Estado são os moradores da favela". Contudo, disse esperar "que as pessoas percebam que o policial que fez aquilo, ele não é o vilão, ele também é um produto daquilo, duma situação que se perpetuou até hoje".

"O que aconteceu a semana passada é trágico, e com o apoio da maioria da população. É triste. Realmente, vocês acham que o Comando Vermelho vai sair das favelas? Tem gente que acha que sim, mas isso é ignorância. Estão sendo manipulados por gente que sabe muito bem o que faz. O que o governador [do Rio de Janeiro] fez foi uma chacina eleitoral, se promoveu como político, às custas de 121 pessoas mortas", afirmou.

Numa longa resposta, depois de ser questionado sobre o tema, Wagner Moura diz também sentir-se impotente. "Eu não sei o que fazer, porque quando uma voz se levanta, a galera da direita diz, olha está ali o defensor de bandido. Mas eu não quero que o Comando Vermelho seja 'liberado'. Eu quero que esses 'caras' sejam presos e julgados pela violência e pela forma como aterrorizam", explicou.

Contudo, ressalvou, tambem não quer que "o Estado entre matando". O protagonista de "O Agente Secreto" chamou a atenção para a forma como são tratados os brasileiros que moram nas favelas. "Querem ocupar as favelas? Ocupem com escola, com hospital, com livros, com parques para as crianças brincarem, com teatro...", defendeu.

Na conferência de imprensa, o actor brasileiro alertou tambem para o perigo das polarizações, que diz estarem a destruir as democracias.

No caso do Brasil, Wagner Moura acredita que a direita se está a organizar para as próximas eleições e que vai chegar em força no próximo ano para as eleições, mas confia na vitória de Lula da Silva: "Lula é o maior brasileiro de todos os tempos. 'Tou' para ver mandarem abaixo o velho!".

Os complexos de favelas da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, foram palco na semana passada da operação policial mais letal já registada no Brasil.

Até agora, o governo do estado do Rio de Janeiro reconheceu 121 mortos, enquanto a Defensoria Pública aponta para 132.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e as forças de segurança do estado celebraram publicamente a "bem-sucedida" operação que, segundo estes, teve apenas quatro vítimas: os agentes que morreram durante a ação.

A Secretaria de Segurança Pública do estado divulgou um primeiro relatório de identificação dos corpos, no qual afirma que a grande maioria dos 121 mortos tinha antecedentes criminais por delitos graves, como tráfico de droga e homicídio.

Além dos 121 mortos, a polícia informou que 133 pessoas foram detidas e mais de 90 espingardas automáticas apreendidas.

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