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Operação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho

Como a polícia planeou ataque ao Comando Vermelho, a operação mais mortal da história do Rio de Janeiro

Polícia encurralam membros de fação que domina narcotráfico junto ao complexo do Alemão e Penha.

Polícia encurralam membros de fação que domina narcotráfico junto ao complexo do Alemão e Penha.

02 de novembro de 2025 às 01:30

A ação policial mais letal de sempre no Rio de Janeiro levou um ano a planear. A megaoperação que na terça-feira resultou na morte de mais de uma centena de pessoas, a maioria alegados membros da organização criminosa Comando Vermelho (CV), chocou o Brasil e a comunidade internacional e levantou o debate sobre os limites da atuação das autoridades no combate ao crime organizado.

Os números espelham a escala da “Operação Contenção”: 2500 agentes envolvidos, dos quais 1800 pertencentes à Polícia Militar, 25 carros blindados, 26 drones, 12 veículos de destruição e uma aeronave. As armas começaram a soar logo às 06h00 (hora local), com os confrontos a prolongarem-se até às 21h00. O saldo final, até agora, foi de pelo menos 121 mortos, 113 suspeitos detidos, 118 armas e 14 explosivos apreendidos.

Principais dados da "Operação Contenção" no Rio de Janeiro

De acordo com os militares, a operação teve início com a entrada de forças do BOPE no Alemão, nas favelas de Fazendinha e de Nova Brasília. Seguiram-se incursões do 3.º batalhão da Polícia Militar a nordeste do Alemão, e da Polícia Civil do Rio e batalhão de choque na Vila Cruzeiro, na Penha, com o apoio no terreno de uma equipa do RECOM (Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão) O objetivo, explicou em conferência de imprensa o secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, era “cercar os bandidos”, obrigando-os a procurar refúgio na mata, e aí encurralá-los.

Para tal, os militares introduziram “uma novidade” nesta operação: a criação de uma barreira física no ponto mais alto da Serra da Misericórdia, que divide os dois complexos de favelas, e a que se deu o nome de ‘Muro do BOPE’. A estratégia “tinha um objetivo claro: proteger a população de bem que mora naquela região”, sublinhou o secretário da polícia, procurando contrariar a tese de que a megaoperação colocou em risco os moradores das favelas do Rio.

A maioria dos combates desenrolou-se assim na floresta. Em particular, concentraram-se na região da Vacaria, zona da mata próxima do Complexo da Penha. Foi lá, de resto, que morreram a maior parte dos alegados membros do CV e os quatro agentes de polícia – e também onde as populações, nas horas que se seguiram, recolheram a vasta maioria dos corpos encontrados.

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Famílias sem respostas acusam autoridades

Num reflexo do motivo que levou à megaoperação, a expansão das atividades do Comando Vermelho, foram identificados mortos de vários estados do Brasil. Ao todo, são 40 as vítimas mortais oriundas de fora do Rio de Janeiro.

A identificação dos corpos foi sendo feita ao longo dos dias que se seguiram à operação. Na sexta-feira, o chefe da Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que dos 99 cadáveres até ali identificados, 42 tinham mandados de captura prévios. Entre eles, estavam alguns dos principais chefes do tráfico do CV de estados como a Bahia, Manaus, Pará ou Amazonas.

Enquanto isso, as famílias vão enterrando os mortos, sem deixar de denunciar o que descrevem como o uso excessivo de violência pelas autoridades, com alegações de casos de tortura e execuções sumárias por parte da polícia. No final da semana, era ainda várias as famílias que se amontoavam no Instituto Médico Legal (IML) do Rio, para identificarem os parentes mortos.

"Eles não vieram para prender, vieram para matar", declarou uma moradora das favelas ao site Euronews. Já os funerais dos quatro polícias mortos aconteceram na quarta e quinta-feira, com direito a honras militares.

Críticas à polícia

A Human Rights Watch (HRW) criticou a atuação da polícia brasileira por não ter preservado o local dos tiroteios para análise.

Manifestação

Manifestantes marcharam na favela Vila Cruzeiro exigindo a demissão do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.

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