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Cheias de 2024 em Espanha continuam a ser investigadas pela justiça

Na sequência da tragédia foi instaurado um inquérito judicial e três comissões parlamentares.

27 de outubro de 2025 às 11:28

Os 237 mortos nas inundações em Espanha de outubro de 2024 terão um funeral de Estado na quarta-feira em Valência, um ano após a tragédia, que continua a ser investigada pela justiça e em três comissões parlamentares.

Nem o inquérito judicial aberto para apurar eventuais responsabilidades criminais pelas mortes nem as três comissões parlamentares (no parlamento regional valenciano, no parlamento espanhol e no Senado de Espanha), constituídas para apurar responsabilidade políticas, têm ainda conclusões.

A comissão do parlamento espanhol (Congresso dos Deputados), que se prevê que seja a de maior impacto e relevância, só em meados de novembro iniciará as audições, que incluem o chefe do executivo regional da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, do Partido Popular (PP, direita), e o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez.

Desde as cheias, Mazón tornou-se no principal alvo das críticas das populações e foram convocadas 12 manifestações em Valência pedindo a sua demissão, que mobilizaram dezenas de milhares de pessoas.

As maiores ocorreram logo a seguir às cheias, em 09 de novembro (130 mil pessoas) e 30 de novembro (100 mil). A última, no sábado passado, levou 50 mil pessoas às ruas, segundo as autoridades locais.

"Ainda não se assumiram responsabilidades políticas e a única informação que recebemos por parte do governo valenciano foram mentiras. Durante 12 meses só soubemos o que aconteceu em 29 de outubro de 2024 por despachos judiciais e graças ao trabalho de investigação da imprensa comprometida com a verdade", disse a plataforma de 200 organizações que organiza os protestos, na convocatória da manifestação de sábado passado.

Carlos Mazón e o governo regional valenciano, que tem a tutela da proteção civil, têm sido criticados pelo alerta tardio às população sobre o temporal e as inundações, apesar de desde as 07h00 da manhã daquele dia ter sido acionado um aviso vermelho pela agência estatal de meteorologia (Aemet) e de diversas informações de autoridades locais no terreno.

Só às 20h11 de 29 de outubro chegou aos telemóveis da população um aviso da proteção civil sobre o temporal e, mesmo assim, considerado incorreto para uma situação de inundações.

O presidente do executivo regional e a sua equipa foram também dando informações públicas consideradas parciais e contraditórias sobre a gestão do temporal naquele dia.

O primeiro relatório da juíza que está a tutelar a investigação judicial do caso foi conhecido em fevereiro passado e concluiu que a maioria das 229 vítimas na região de Valência morreu antes de ser enviado o alerta para os telemóveis da população.

Segundo centenas de testemunhos de familiares e conhecidos de pessoas que morreram, em diversas localidades as águas começaram a entrar em casas e garagens por volta das 18:30, às 19:00 havia carros a serem arrastados pelas enxurradas e que a eletricidade falhou ainda antes das 19:30.

"A ausência flagrante de avisos à população" pode ter causado um "número avassalador de mortos", escreveu a juíza nesse relatório de fevereiro.

No mês seguinte, em março, a magistrada chamou dois ex-membros do governo regional valenciano para prestarem declarações como "investigados" no processo: a ex-conselheira (equivalente a ministra num governo nacional) responsável pela proteção civil, Salomé Pradas, e um adjunto, Emilio Argüeso.

A juíza excluiu, até agora, chamar Carlos Mazón, argumentando que Salomé Pradas era a "máxima autoridade" para adotar medidas de proteção da população e que o alerta enviado às 20:11 "foi tardio e errado".

A magistrada considerou ainda que a convocatória do Centro de Coordenação de Emergências às 17:00 "foi feita com grande demora" e que a tomada de decisões por parte do governo regional com vista a alertar a população para o temporal foi feita "com atraso ainda maior".

Para a juíza, o problema no dia das cheias não foi a "falta de informação", mas a informação disponível ter sido ignorada ou "as decisões relevantes não terem sido tomadas por quem tinha poder de decisão".

Familiares de vítimas pediram nas últimas semanas a Carlos Mazón para não ir ao funeral de Estado, onde estarão as máximas autoridades de Espanha, incluindo os Reis, Felipe VI e Letizia, assim como familiares das vítimas mortais (229 em Valência, sete em Castela La Mancha e uma na Andaluzia).

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