No interior as populações constroem casas precárias, para as quais tudo serve.
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A cidade da Beira, flagelada pelo ciclone Idai há quase duas semanas, voltou a ter água e eletricidade nalguns locais, enquanto no interior as populações constroem casas precárias, para as quais tudo serve.
Depois de vários dias sem chuva e muito calor, e com a descida das águas que transbordaram dos rios, nos distritos de Dondo e Nhamatanda, junto da estrada principal são visíveis sacos de arroz e de mandioca e os mercados à beira da via estão repletos de produtos, de roupa a águas e alimentos. Os jovens com a farda escolar também são visíveis, na Beira e nos locais do interior.
Na região de Tica, a menos de uma centena de quilómetros da Beira, e por onde passam constantemente dezenas de camiões em direção à cidade, Domingos Filipe Augusto, 21 anos, machado em riste e rosto suado, corta em três partes uma árvore caída, preparando-se para abrir cada um dos troncos ao meio. Precisa de 34 pedaços de madeira.
As estacas, como a população lhe chama, servem para erguer uma nova casa, porque a anterior foi levada pelo ciclone. São 12 pessoas ao todo que é preciso abrigar.
À Lusa conta que tinha uma casa com teto de capim e que os pais, numa casa ao lado, tinham uma de blocos de argila e chapa de zinco. As duas desapareceram. Por isso está ali agora, a cortar, a rachar, "para por no chão e reabilitar de novo a casa".
Conta começar na quinta-feira, até lá vai "cortar e descansar", vai colocar de novo um telhado de capim e o pai vai insistir na chapa.
A região de Tica fervilha desta vida, agora que a água secou. Anoni Fombé passa a transportar uma dezena de canas de bambu para construir uma nova casa e assim que puder vai comprar plástico para, com capim, fazer o teto. E Manuel Jorge, 17 anos, avança também estrada fora com um feixe de folhas de palmito.
Conta que "a casa caiu", as três palavras que mais se ouvem desde o ciclone Idai, de dia 14, e diz que só na família seis pessoas precisam de ajuda. "Reconstruímos uma casa pequenina para poder ficar, se conseguirmos podemos fazer maior", diz. Gostava, assim tivesse dinheiro, de usar plástico no telhado, debaixo do capim.
E o teu pai está também a construir? A pergunta deixa-o triste, lágrimas nos olhos. "Não estamos a viver desde que a água entrou. Não sei do meu pai, desapareceu".
Na estrada para Buzi, um dos distritos mais afetados pela cheias que se seguiram ao ciclone, Bernardo Paulo parece mais feliz. Corta bambu porque já cortou as estacas, tem parte da casa tapada com capim e tem plástico para lhe meter. "Chapa não, não tenho dinheiro" mas "já tenho teto", diz, acrescentando que não tem comida, nem dinheiro. Esse, acrescenta, vinha dos produtos que cultivava e que as águas levaram. Mas já tem um teto.
Apesar de haver ainda muitas regiões cobertas de água, as zonas afetadas pelo ciclone e pelas cheias em Moçambique estão a voltar à vida. Há abundância de árvores caídas e um machado ou uma catana ajudam a providenciar o básico para uma casa, quatro estacas que servem de pilares, canas de bambu e capim para o telhado e paredes.
Na mesquita de Tica, também destruída pelo ciclone, ainda se forma uma espécie de lago à volta e as mulheres aproveitam para lavar roupa e dar banho aos filhos. Ao lado, o coaxar incessante de sapos e lá no alto um sol forte que seca as capulanas.
As populações do interior estão a começar uma vida nova. Não pedem uma casa, não pedem dinheiro, e já não pedem água. Mas ainda pedem comida, e agora sementes. E um plástico, que dava tanto jeito.
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