Historiador é otimista e considera Bolsonaro um episódio que não define a história recente do Brasil no confronto com o seu passado racial.
O historiador brasileiro Laurentino Gomes considera que a grande desigualdade social no seu país resulta do seu passado esclavagista e de separação racial, um discurso racista que alimentou a recente vitória presidencial de Jair Bolsonaro.
"Existe um abismo entre os dois Brasis: o Brasil branco e o Brasil negro", afirmou, em entrevista à Lusa, o autor do livro "Escravidão", lançado recentemente em Portugal, considerando que "a escravidão é uma ferida que continua aberta", no seu país, com "consequências que não podem ser deixadas apenas do passado".
"O Brasil é um país de muito preconceito racial, de grande desigualdade social, que, no meu entender, é consequência direta da escravidão", considerou Laurentino Gomes, que escreveu uma obra de grande fôlego sobre a história da escravatura no seu país e no império colonial português.
Ao longo da história, "criámos vários mitos a respeito da escravidão portuguesa e brasileira", apontou, dando como exemplo a obra "Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freire, que retratava um sistema de escravatura "mais patriarcal, benévola, branda ou boazinha quando comparada com a escravatura no Caribe ou nos Estados Unidos".
Essa ilusão, considerou, criou mais "um mito da história brasileira de que o Brasil é uma democracia racial", o que, no seu entender, não acontece.
Na paisagem brasileira, há uma "segregação de facto, geográfica", que separa quem mora "os chamados bairros nobres de Copacabana, Ipanema ou Leblon", onde vive a "população branca herdeira de europeus", de quem "mora naquelas periferias insalubres perigosas dominadas pelo crime organizado abandonadas pelo Estado brasileiro, maioritariamente a população afrodescendente".
Em vários indicadores estatísticos, o Brasil é um país segregado racialmente, o que, para Laurentino Gomes, constitui "uma continuação de um projeto de dominação" da elite branca.
E este projeto de dominação tem como protagonista hoje no Brasil a figura do atual Presidente, Jair Bolsonaro: "Nós temos hoje um Governo que negacionista do ponto de vista ambiental, do ponto de vista racial, um Governo que tem uma linguagem preconceituosa em relação a todas as minorias".
"O Presidente usa uma linguagem de supremacia branca o tempo todo, ele se elegeu com isso em 2018", recordou Laurentino Gomes, dando exemplos de "vários discursos claramente racistas" feitos durante a campanha.
A sua vitória "mostra quanto existe uma maioria racista silenciosa e cúmplice, que usa o argumento da miscigenação racial da democracia racial para fugir das responsabilidades em relação à escravidão", acrescentou, salientando que esse "discurso racista rendeu votos e resultou na eleição de um Presidente".
Apesar disso, o historiador é otimista e considera Bolsonaro um episódio que não define a história recente do Brasil no confronto com o seu passado racial.
"Nos últimos 40 anos houve um grande avanço", a "discussão a respeito da escravidão e do racismo nunca foi tão intensa quanto agora" e "o Brasil está se tornando mais maduro a respeito da sua própria identidade nacional", frisou.
O livro "Escravidão", editado pela Porto Editora, contém vários episódios sobre a história da escravatura no Brasil, com documentos sobre o tráfico negreiro e as memórias do comércio de pessoas no Atlântico Sul e em Portugal.
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