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Fotografia do ano da World Press Photo mostra menino palestiniano mutilado em Gaza

Criança de nove anos perdeu ambos os braços durante um ataque israelita.

17 de abril de 2025 às 11:01

O prémio de Fotografia do Ano do concurso World Press Photo foi atribuído à imagem de um menino palestiniano de nove anos que perdeu ambos os braços durante um ataque israelita na Faixa de Gaza, anunciou esta quinta-feira a organização.

A imagem vencedora, que retrata com Mahmoud Ajjour, foi captada pela fotógrafa 'freelance' Samar Abu Elouf, para o jornal norte-americano The New York Times, vivendo atualmente no mesmo complexo de apartamentos de Doha, no Qatar, onde se encontra o menino, em tratamento.

Natural da Faixa de Gaza, de onde foi evacuada em dezembro de 2023, a fotógrafa estabeleceu laços com as famílias locais e documentou alguns dos poucos feridos graves que conseguiram sair do território para receber tratamento, relata a organização do prémio.

Mahmoud Ajjour perdeu os braços quando a sua família fugia de um ataque israelita, em março de 2024: "Mahmoud voltou-se para trás para incitar os outros a avançar. Uma explosão cortou-lhe um dos braços e mutilou o outro. A família foi retirada para o Qatar onde, após tratamento médico, Mahmoud está a aprender a usar os pés para jogar jogos no telemóvel, escrever e abrir portas", indica ainda a organização, na página 'online', sobre o calvário da criança palestiniana e os esforços para a sua recuperação.

A fotógrafa portuguesa Maria Abranches estava entre os 42 vencedores regionais do World Press Photo, o que a situava como finalista para o prémio "fotografia do ano" da organização sediada nos Países Baixos, criado em 1955 pela fundação homónima e sem fins lucrativos.

Na lista geral de candidatos à World Press Photo of the Year, além de Maria Abranches, estavam fotojornalistas como os alemães Florian Bachmeier e Nanna Heitmann, com reportagens relacionadas com a guerra na Ucrânia, o norte-americano Jabin Botsford, com uma imagem de Donald Trump quando alvejado num comício em 2024, os brasileiros Amanda Maciel Perobelli, André Coelho e Anselmo Cunha, com trabalhos que vão das cheias no sul do Brasil, à seca em áreas do Amazonas, e o francês Jerome Brouillet, que retratou o surfista Gabriel Medina em suspenso, nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

O WPP funciona no âmbito de um concurso que distingue, anualmente, fotografias que dão a conhecer ao público momentos que marcam a atualidade de povos e de sociedades em todo o mundo, e que se repercutem além-fronteiras, com consequências à escala global.

Sobre a "fotografia do ano" Joumana El Zein Khoury, diretora executiva da WPP, declarou: "É uma fotografia silenciosa, mas que fala alto. Conta a história de um rapaz, mas também de uma guerra ainda mais vasta que terá um impacto nas gerações futuras".

O júri elogiou a "composição forte e a atenção dada à luz" da fotografia captada por Samar Abu Elouf, assim como o seu tema instigante, nomeadamente as questões que envolvem o futuro de Mahmoud.

O rapaz está agora a aprender a jogar no telemóvel, a escrever e a abrir portas com os pés, segundo o júri.

"Mahmoud tem um sonho muito simples: quer receber próteses e viver a sua vida como qualquer outra criança", afirmaram os organizadores da WPP num comunicado.

Em dezembro de 2024, Gaza tinha o maior número de crianças amputadas 'per capita' do mundo, segundo as Nações Unidas.

Esta edição do concurso coincide com o 70.º aniversário da World Press Photo e Joumana El Zein Khoury, sublinhou, no comunicado, que "quando se olha para o arquivo", há "demasiadas imagens" como a de Mahmoud.

Já em 2024, o prémio de Fotografia do Ano do concurso WPP tinha sido atribuído à imagem de uma palestiniana abraçada ao corpo da sobrinha, de cinco anos, morta a par da mãe e da irmã por um míssil israelita, captada pelo fotógrafo Mohammed Salem, da agência internacional Reuters, na morgue do hospital Nasser.

"Estou eternamente grata aos fotógrafos que, apesar dos riscos pessoais e do custo emocional, registam estas histórias para nos dar a todos a oportunidade de compreender, sentir empatia e inspirar-nos a agir", afirmou El Zein Khoury.

Esta quinta-feira, quando era conhecida a atribuição do prémio a Samar Abu Elouf, a estação Al Jazeera noticiava a morte da fotojornalista Fatma Hassona, de 25 anos, do Norte da Faixa de Gaza, num novo ataque de Israel.

A WPP anunciou ainda a distinção de dois dos 42 finalistas, um deles, com a imagem intitulada "Secas na Amazónia", tirada por Musuk Nolte para a Panos Pictures e a Fundação Bertha, mostra um homem no leito de um rio seco na Amazónia a transportar mantimentos para uma aldeia outrora acessível por barco.

A segunda, "Night Crossing", de John Moore para a Getty Images, mostra migrantes abrigados junto a uma fogueira durante uma chuvada fria depois de atravessarem a fronteira entre os Estados Unidos e o México.

"Esta imagem íntima e quase sobrenatural mostra as complexidades da migração na fronteira, muitas vezes simplificadas e politizadas no discurso público dos EUA", comentou a fundação.

No final de março, a fotógrafa portuguesa Maria Abranches, 33 anos, conquistou o prémio WPP na categoria "Histórias", na região Europa, com a reportagem "Maria" sobre a empregada doméstica e cuidadora Ana Maria Jeremias, "traficada de Angola para Portugal aos nove anos, sob falsas promessas de educação".

Em declarações à Lusa, horas depois de o prémio ser anunciado, a fotógrafa partilhou ter "esperança que a visibilidade de um trabalho sobre as cicatrizes que foram deixadas pelo colonialismo português possa ser um ponto de partida para o debate sobre a reparação histórica".

"Esse é o meu principal objetivo, e também fazer uma homenagem a todas estas mulheres, que, como a Ana Maria, dedicam as suas vidas a construir o mundo e a permitir que as pessoas e as instituições continuem as suas vidas", disse.

Esta quinta-feira, em declarações à Antena 1, Maria Abranches disse que o prémio atribuído à fotografia de Samar Abu Elouf era "mais do que merecido", tendo ficado "profundamente comovida pelo reconhecimento" deste trabalho, pois além de ser feito por uma mulher, que é da Faixa de Gaza, aborda um "tema urgente que tem de continuar a ser falado".

As fotografias vencedoras em serão expostas em mais de 60 locais em todo o mundo, no âmbito da exposição anual itinerante da World Press Photo.

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