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Guerrilheiro torturado durante a ditadura de Franco quer um milhão de euros de indemnização do governo espanhol

Joan Busquets passou mais de 20 anos na cadeia, acredita que as punições que sofreu causaram vários problemas de saúde.

03 de dezembro de 2024 às 13:51

Foi torturado, sujeito a trabalhos forçados e passou 20 anos na cadeia durante a ditadura de Franco, em Espanha. Hoje, aos 96 anos, quer uma indemnização de um milhão de euros da parte do Governo.

Dizem que Joan Busquets é o último guerrilheiro antifranquista vivo. Em resposta à lei da Memória Democrática de Espanha, aprovada em 2022 que oferece “reparações morais” às vítimas do regime, o catalão quer processar o executivo espanhol.

“Não se trata de dinheiro. É uma questão de justiça. Este país não 'reparou' as vítimas. Há alguns anos, escrevi sobre o meu caso ao então presidente da Catalunha, José Montilla. Ele não me respondeu. Escrevi ao antigo presidente espanhol Felipe González e ele também não respondeu. Isto deu-me força para continuar a lutar”, disse Joan Busquets ao jornal The Guardian.

Quando tinha 20 anos, em 1947, Joan juntou-se a um grupo de combatentes, na Catalunha, dedicado a minar o regime de Franco. Este grupo era liderado por Marcel-lí Massana e contrabandeava armas e explosivos.

Joan conta que os combatentes faziam as rotas de contrabando a pé através da cordilheira dos Pirenéus. Numa destas viagens, com mochila de 40 quilos às costas, o homem enganou-se e comprou duas botas para o mesmo pé e, por isso, acabou por fazer o percurso descalço. "Os meus pés estavam uma desgraça”, recordou em entrevista ao jornal El País.

Depois de um ano passado na cordilheira, Joan foi preso e levado para o centro de tortura de Via Laietana, em Barcelona. Aqui, ele e os camaradas foram sujeitos a três semanas de privação do sono e condenados à morte. Por alguma razão (que não conseguiu compreender), a sentença de Joan foi revista e alterada para pena de prisão. 

Em 1956, Joan partiu uma perna numa fuga falhada da prisão de Valência. Segundo o The Guardian, quando dois agentes da Guardia Civil o encontraram, pensaram que estava morto e um deles deu-lhe um pontapé na cara.

Ao regressar à prisão, viu-lhe a ser negada assistência médica. Foi deixado num chão de cimento durante sete dias antes de ser finalmente levado para o hospital. Acredita que essa negligência possa ter causado uma série problemas de saúde que foi tendo ao longo da vida.

“Dizemos que se a sentença de morte, mais tarde alterada para 20 anos de prisão, os cinco anos de trabalhos forçados, a perseguição e a tortura, seguidos de anos de exílio, se tudo isto foi perpetrado por um Estado, entretanto declarado ilegal e ilegítimo, então, de acordo com a resolução da ONU sobre reparações, o Estado espanhol é responsável”, disse Raúl Maíllo, o advogado que representa Busquets.

Após a morte de Franco, em 1975, foi concedida amnistia a todos os que tinham cometido crimes de resistência. As leis subsequentes que absolveram as vítimas do regime não passaram de reparações simbólicas.

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