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Índia retira caças soviéticos MIG-21 após 400 acidentes e morte de 200 pilotos

874 exemplares do caça soviético foram entregues à Índia desde os anos 1960.

26 de setembro de 2025 às 12:48

A Índia despediu-se esta sexta-feira dos caças soviéticos MIG-21, após mais de 60 anos de serviço e um pesado historial de 400 acidentes que custaram a vida a 200 pilotos.

Os MiG-21 realizaram o último voo com cores indianas perto da cidade de Chandigarh (norte), onde os primeiros caças foram entregues à Índia pela União Soviética na década de 1960.

Uma multidão despediu-se dos 36 MiG-21 ainda em serviço num espetáculo a que assistiram o ministro da Defesa, Rajnath Singh, e antigos pilotos dos caças soviéticos, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).

A cerimónia realizou-se no dia seguinte à assinatura, por Nova Deli, de um contrato de 7.000 milhões de dólares (5,9 mil milhões de euros, ao câmbio atual) para a aquisição de 97 caças indianos Tejas.

Devido à falta de aeronaves modernas, a força aérea indiana, que inicialmente planeava retirar os MiG-21 no início da década de 1990, prolongou a vida útil dos caças.

No total, 874 exemplares do caça soviético foram entregues à Índia desde os anos 1960.

As tentativas de produção nacional de aviões de combate falharam durante muito tempo, enquanto os contratos de aquisição no estrangeiro foram atrasados pela burocracia pesada e por suspeitas de corrupção.

Durante décadas, os MiG-21 constituíram a espinha dorsal da força aérea indiana, mas o pobre registo de segurança valeu-lhes o apelido de "caixões voadores".

"Embora imperfeitos, eram eficazes", afirmou o ex-oficial superior da força aérea indiana Raghunath Nambiar à AFP.

Nambiar recordou o papel decisivo dos MIG-21 na guerra de 1971 contra o Paquistão, que resultou na criação do Bangladesh.

"Concebido para ser simples e robusto, o MiG-21 mostrou os limites à medida que envelheceu", reconheceu.

As avarias de motor, as falhas hidráulicas e os problemas elétricos eram frequentes, "sem sistema de emergência fiável", segundo o antigo oficial.

"As aterragens de emergência e as ejeções tornaram-se comuns", contou.

Ao longo de seis décadas, registaram-se cerca de 400 acidentes com MiG-21, que custaram a vida a 200 pilotos.

O MiG-21 "nunca foi concebido para permanecer em serviço durante quase sete décadas", disse Nambiar.

"É tempo de lhe dizer adeus", acrescentou.

Quinta maior economia mundial e um dos maiores importadores de armas do planeta, a Índia fez da modernização das forças armadas uma prioridade, multiplicando esforços para impulsionar a produção nacional de armamento.

Nova Deli sente-se ameaçada por vários países, nomeadamente pelo vizinho Paquistão.

As duas potências nucleares confrontaram-se militarmente durante quatro dias em maio, reivindicando ambas a vitória e alegando ter abatido vários aviões de combate do adversário.

A Índia assinou em abril um acordo com a França para a aquisição de 26 caças Rafale, produzidos pelo grupo Dassault Aviation, que se somam a uma primeira encomenda de 36 aviões.

Nova Deli anunciou em agosto que iria desenvolver e produzir localmente motores para aviões de combate em parceria com uma empresa francesa, cujo nome não foi revelado.

Angad Singh, coautor do livro a publicar "Ícone do Céu: História do MiG-21 na Índia", considerou que o país se encontra numa "posição pouco invejável" devido à atual escassez de caças.

Para fazer face ao problema, o Governo apoia ativamente a produção de uma versão melhorada do Tejas e estão em curso negociações com a França para a aquisição de 114 Rafale adicionais.

O Mikoyan-Gurevich MiG-21 foi o primeiro caça soviético capaz de voar a mais do dobro da velocidade do som e é uma aeronave icónica dos anos da Guerra Fria, segundo o museu da Força Aérea Real britânica.

Utilizados por mais de 60 países, os MIG-21 participaram em conflitos tão diversos como as guerras do Vietname, israelo-árabes, Irão-Iraque, Afeganistão ou do Golfo ("Tempestade no Deserto").

O MiG-21 PFM para a Força Aérea Soviética foi produzido entre 1964 e 1965, e a versão Mig-21 PFS foi produzida para exportação de 1966 a 1968, de acordo com o museu britânico.

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