Depois de pedir eleições já em Julho, o chefe político do 5 Estrela mostra-se disponível para colaborar com o presidente Mattarella, a quem queria destituir.
1 / 3
No mesmo dia em que o primeiro-ministro indigitado Carlo Cottarelli se reuniu com o presidente italiano Sergio Mattarella para falar da composição de um "governo neutro", e em que se avolumou a possibilidade de eleições antecipadas já em julho, renasceu também a hipótese de Movimento 5 Estrelas e Liga se juntarem para um "governo de mudança".
Haver uma crise política pós-eleitoral em Itália é um cenário habitual na República saída da Segunda Guerra. Porém, considerar que o momento actual representa a maior crise política da República está cada vez mais longe de ser uma hipérbole.
Por partes. Esta terça-feira, Cottarelli esteve no Quirinal durante cerca de 30 minutos para apresentar a composição de um governo pró-europeu a Sergio Mattarella. Findo o encontro, foi anunciada uma nova reunião para a manhã desta quarta-feira.
Há duas leituras possíveis: Mattarella e Cottarelli não chegaram ainda a um consenso sobre o futuro elenco governativo; ou o presidente quis tempo para avaliar as possibilidades de um executivo chefiado pelo ex-director do Fundo Monetário Internacional (FMI) passar no Parlamento transalpino, um cenário que é altamente improvável.
Fontes do presidente garantiram que Mattarella estava somente a avaliar algumas questões relacionadas com a lista de nomes proposta por Cottarelli, mas tanto imprensa como analistas dividiram-se sobre as reais razões.
A dificultar ainda mais uma percepção apurada das reais circunstâncias estão as últimas afirmações do líder do anti-sistema, 5 Estrelas. Citado pelo La Repubblica, Luigi Di Maio lembrou que os italianos não querem um novo "governo técnico" e lembrou que no parlamento "existe uma maioria".
"Se se quer resolver esta crise e acalmar os mercados faça-se partir um governo que tem já um programa claro", atirou Di Maio num comício em Nápoles, reabrindo assim a porta à formação de um executivo de coligação com a Liga de Matteo Salvini. O "grillino" disse mesmo estar pronto para "colaborar com Mattarella".
Governo técnico não passa no Parlamento
Savona é um académico com posições eurocépticas mas que não defende a saída da Itália da Zona Euro. Sugere sim que qualquer país deve ter preparado um plano B para o caso de a união económica e monetária falhar. A rejeição de Mattarella é vista pelo 5 Estrelas e pela Liga como uma cedência inaceitável aos ditames de Bruxelas.Perante a posição inflexível de Mattarella, 5 Estrelas e Liga – que dispõem de maioria absoluta no parlamento – votarão seguramente contra qualquer governo de iniciativa presidencial que venha a ser apresentado. Cottarelli tinha-se proposto formar governo para aprovar um Orçamento para 2019 e depois abrir caminho a eleições no início do próximo ano.
Mas, sem aprovação do parlamento, Cottarelli chefiaria um executivo em funções, ficaria limitado à gestão corrente e seria incapaz de aprovar um Orçamento. Desta forma, o principal objectivo de Mattarella não ficaria salvaguardado.Este conjunto de indefinições contribuiu para que os mercados entrassem em pânico, em vez de se acalmarem como pretendido no Quirinal. Os juros da dívida pública transalpina de curto prazo (dois anos) caíram para máximos de seis anos e a bolsa de Milão chegou a perder 3,7% na sessão.
"Não há nenhuma justificação para aquilo a que assistimos nos mercados", disse o governador do Banco de Itália, Ignazio Visco.
Uma eventual nova campanha eleitoral será um combate sem tréguas entre soberanistas anti-UE e as forças pró-europeias com Mattarella como alvo a abater por parte do bloco anti-sistema. As declarações do comissário europeu para o Orçamento, Günther Oettinger, afirmando que"os mercados vão ensinar Itália a votar correctamente", são mais achas para a fogueira. O alemão veio entretanto retratar-se mas o efeito mediático, com horas a abrir os sites italianos, já não tinha volta.
Esta conjuntura fez com que em vez de se falar em eleições antecipadas para Setembro ou Outubro, ganhasse força um cenário de ida às urnas já no próximo dia 29 de Julho. Nesta altura, as sondagens dão uma ligeira queda ao 5 Estrelas para a casa dos 29,5% e reforçam a Liga com 27,5%, o que daria ainda mais representação a este bloco anti-sistema e eurocéptico.
Ou seja, os estudos de opinião mostram que o sistema político transalpino poderia ser arrasado, vendo substituído o tradicional bipolarismo entre centro-esquerda (PD) e centro-direita (Força Itália) pela supremacia de duas forças populistas: 5 Estrelas e Liga.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.