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Militares matam milhares de jovens na Colômbia para receberem recompensas

Ex-presidente conta tudo na Comissão da Verdade. Soldados matavam civis e registavam-nos como rebeldes mortos.

13 de junho de 2021 às 10:32

É um depoimento chocante e arrasador: milhares de jovens foram mortos e falsamente apresentados como rebeldes. Foi o que se ouviu da boca de Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia, diante da Comissão da Verdade, na passada sexta-feira. Atrocidades que ocorreram quando era ministro da Defesa.

Os assassinatos foram cometidas pelas Forças Armadas do país, na guerra contra os revolucionários das FARC. Na prática, soldados assassinaram civis e registaram-nos como guerrilheiros mortos em combate para serem recompensados.

Segundo as autoridades judiciárias colombianas, pelo menos 6402 pessoas foram mortas e falsamente apresentadas como rebeldes entre 2002 e 2008, durante o mandato do ex-presidente Álvaro Uribe. Mas acredita-se que o número pode ser muito superior.

Juan Manuel Santos foi ministro da Defesa de Uribe cerca de três anos, entre 2006 e 2009, e estava no cargo quando se soube a verdade dos factos. “O capítulo dos falsos positivos [como ficou conhecido o escândalo] é um dos momentos mais dolorosos que já passei na minha vida pública e é uma mancha indelével na honra do Exército”, disse o ex-governante na Comissão da Verdade, lamentando que as mães tenham perdido os filhos nestes massacres, ao tempo em que era ministro. Atribuiu a culpa à pressão que havia para produzir altas contagens de mortes, apoiada por Álvaro Uribe. “Isso nunca deveria ter acontecido”, afirma. “Peço perdão a todas as mães e suas famílias, vítimas deste horror, do fundo da minha alma.”

Juan Manuel Santos admitiu que quando ouviu os rumores sobre os assassinatos, não acreditou. Só quando percebeu que eram verdadeiros é que alterou os protocolos. “Talvez nunca tenha sentido com tanta força uma combinação de raiva e dor intensa, uma tristeza tão profunda”, concluiu.

Dezenas de oficiais do Exército foram detidos e condenados por envolvimento nos assassinatos. O acordo de paz de 2016 com os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) rendeu a Juan Manual Santos o Nobel da Paz.

Não se sabe ainda se Álvaro Uribe, que também presidiu aos destinos do país, tal como Juan Manuel Santos, irá testemunhar na Comissão da Verdade. Uribe foi um dos maiores opositores ao acordo de paz celebrado com as FARC. Treze mil rebeldes desmobilizaram após o acordo.

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