Eurídice Lakkis o marido e os dois filhos, e fazem parte do grupo de 44 pessoas que chegou a Portugal este sábado.
Uma mulher do grupo de 28 portugueses repatriados no sábado do Líbano, juntamente com 16 familiares, contou no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, que viu a "morte a passar" e resolveu partir, deixando tudo para trás.
"Na segunda-feira, eu senti a morte dentro do carro", descreveu Eurídice Lakkis, de 40 anos, acrescentando que, quando se encontrava no interior da viatura, um avião israelita disparou um míssil nas proximidades: "Então eu vi a morte a passar e foi horrível. Foi horrível".
A portuguesa residia no Líbano há cerca de um ano, que deixou com dois filhos, de 9 e 13 anos, e o marido, libanês, explicou ter acordado na semana passada com bombardeamentos de Israel no sul do país, saindo de casa com uma mala e "a roupa do corpo, com os miúdos" e que ouviu "pessoas a morrerem queimadas".
"Eu vi mísseis a caírem de trás, à frente, do lado, foi um filme terrível que eu nunca pensei passar na minha vida", afirmou Eurídice, que decidiu fugir para o norte do Líbano, onde se refugiou numa escola, contactando depois com a Embaixada portuguesa, que na quinta-feira a questionou se "estava disponível para sair do país", pois a "situação não estava boa porque já tinham bombardeado Beirute".
A portuguesa admitiu que sempre se sentiu segura no Líbano, mas que desta vez viu de tudo o que se "pode imaginar numa guerra", desde aviões a 'drones' (aeronaves não tripuladas) que bombardeavam "todos os dias", fazendo vítimas perto de sua casa.
"Eu perdi tudo. Nós saímos sem nada", assegurou, acrescentando que pegaram numa mala que tinham em casa para qualquer emergência e decidiram partir, pois "a cidade toda foi atingida" e "o sul do Líbano está completamente destruído".
O avião KC-390 com as 44 pessoas resgatadas do Líbano tocou a pista de Figo Maduro às 20h30 de sábado, seguido de um Falcon-50, às 20:43, com militares que apoiaram na operação de repatriamento, que passou pelo Chipre, antes de rumar a Lisboa.
A cidadã portuguesa, para já, não sabe se conseguirá regressar ao Líbano, até por duvidar de uma reconstrução rápida, mas à sua espera tinha elementos da Segurança Social portuguesa e da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) para auxiliarem numa solução imediata de acolhimento.
Dois jovens repatriados, Yara Chebeir, de 17 anos, e Karim, de 19, regressaram com a mãe, libanesa, para junto do pai, português de nascimento, depois da dolorosa experiência dos últimos dias da guerra entre Israel e o movimento libanês Hezbollah e deixarem para trás família e animais.
"Não estava a planear vir embora, porque sinto que é muito egoísta da minha parte vir e a minha família está lá", reconheceu Yara, que nasceu no Líbano e tão cedo não esquecerá o que viveu: "É tão assustador porque nunca se sabe onde é que uma bomba vai cair".
A jovem também lamentou ter deixado o cão, que vive assustado com os rebentamentos e as "explosões sónicas" dos aviões, que Karim explicou resultarem das passagens de aeronaves a jato a "quebrar a barreira do som".
"Só tivemos algumas horas para fazer as malas e tivemos de tomar a decisão de deixar o nosso cão para trás, o que foi muito difícil e demorámos muito tempo a perceber que íamos deixar toda a gente para trás. Mas temos esperança que tudo acabe em breve e que possamos regressar", acrescentou o jovem.
"Também sabemos que os nossos pais viveram muitas guerras e muitas dificuldades, mas esta é a nossa primeira vez. Felizmente, estamos a salvo. Felizmente, não nos aconteceu nada. Tudo o que poderia ter acontecido poderia acontecer a qualquer pessoa em qualquer altura. Sinto-me egoísta por vir e deixar toda a gente para trás", reforçou Yara.
A jovem tem esperança de que possam voltar e ver o seu "país crescer" e disse esperar que "a guerra acabe e que tudo volte a ser pacífico".
Os 28 portugueses e 16 familiares diretos, de outras nacionalidades, incluindo oito crianças, foram recebidos em Figo Maduro pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Nuno Sampaio, que admitiu que poderão ser necessárias mais operações de repatriamento, nomeadamente no âmbito da cooperação entre os países da União Europeia.
Israel e Hezbollah estão envolvidos num intenso fogo cruzado diário desde 7 de outubro de 2023, após o ataque do Hamas em solo israelita que desencadeou a atual guerra na Faixa de Gaza, levando a que dezenas de milhares de pessoas tenham abandonado as suas casas em ambos os lados da fronteira israelo-libanesa.
Os ataques de Israel contra o Hezbollah intensificaram-se de forma substancial nos últimos dias, após as autoridades militares de Telavive terem anunciado uma deslocação das operações da Faixa de Gaza para o norte do país.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.