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Polícia Federal do Brasil demite superintendente na Amazónia que denunciou ligação do ministro do Ambiente a madeireiros ilegais

Saraiva acusa o titular da pasta de prejudicar e tentar inviabilizar ações de fiscalização de crimes contra a Natureza na Amazónia

16 de abril de 2021 às 16:21

O novo director-geral da Polícia Federal do Brasil, Paulo Maiorino, nomeado há duas semanas atrás para o cargo numa nova intervenção do presidente Jair Bolsonaro naquela corporação, demitiu sem qualquer cerimónia ou aviso o superintendente no estado do Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, que um dia antes, fez graves denúncias contra o governo.

Saraiva, considerado um dos melhores e mais confiáveis operacionais da Polícia Federal e que soube da demissão pela imprensa, acusou o ministro do Ambiente, Ricardo Salles, de defender interesses privados na Amazónia, nomeadamente os de grandes madeireiros ilegais que destroem a floresta para vender clandestinamente madeira para outros países.

Na quarta-feira, numa atitude pouco comum mas perfeitamente legal, Alexandre Saraiva instaurou no Supremo Tribunal Federal uma notícia-crime contra Salles, pedindo àquele tribunal a abertura de uma investigação sobre a actuação do ministro do Ambiente.

No documento, Saraiva acusa o titular da pasta de prejudicar e tentar inviabilizar ações de fiscalização de crimes contra a Natureza na Amazónia, e de ter fortes ligações tanto com madeireiros como com outros invasores ilegais da floresta, entre eles garimpeiros que devastam vastas áreas à procura de ouro.

A atitude do superintendente na Amazónia irritou profundamente o presidente Jair Bolsonaro, que há muito resiste aos inúmeros pedidos para demitir Ricardo Salles, inclusive dos EUA e de países europeus. Salles, membro da chamada "ala ideológica", a mais extremista do governo, tem o firme apoio dos filhos de Bolsonaro, que não ousa contrariá-los.

Alexandre Saraiva e Ricardo Salles têm protagonizado uma verdadeira guerra, que já tomou as manchetes da imprensa brasileira, desde o início deste ano, após a Polícia Federal do Amazonas ter realizado a maior apreensão de madeira ilegal da Amazónia em toda a história, nada menos do que o equivalente a 75 mil árvores centenárias cortadas criminosamente.

Salles, defensor da exploração económica da Amazónia, foi propositadamente ter com Alexandre Saraiva e exigiu que ele devolvesse toda a madeira aos madeireiros, mesmo tratando-se claramente, de acordo com o delegado, de um gravíssimo crime ambiental, mas o superintendente da Polícia Federal não aceitou e denunciou o titular da pasta do Ambiente.

Na quinta-feira, numa rara declaração sobre o assunto, Alexandre Saraiva reconheceu não ser usual que um superintendente da Polícia Federal denuncie um ministro ao Supremo Tribunal Federal. Mas, acrescentou, também não é usual que um ministro do Ambiente viaje milhares de quilómetros para ir até à floresta e ordenar pessoalmente a devolução de madeira extraída ilegalmente, agindo contra os interesses do país. (FIM).

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