Segundo a consultora Giacobbe & Asociados, por exemplo, a imagem positiva de Alberto Fernández chegava a 67,8% há um ano e agora está em 26,9%.
Analistas consideram que o Presidente argentino, que chega este domingo a Lisboa, está politicamente enfraquecido, sem apoio popular e sem exercer o real poder no seu país, bem distante do Alberto Fernández que, como candidato, visitou Portugal em 2019.
"O atual Alberto Fernández, comparado com aquele que visitou Portugal [em 2019], é um Alberto Fernández que dececionou as expetativas de moderação. Hoje, praticamente não tem nenhum poder de decisão próprio", disse à Lusa o analista político e especialista em opinião pública Raúl Aragón.
"Alberto Fernández está absolutamente condicionado pela sua vice-Presidente, Cristina Kirchner, quem exerce o verdadeiro poder e, amparada na falta de decisão política e na fraqueza do Presidente, impõe a sua vontade", apontou.
Em setembro de 2019, o então fortalecido candidato Alberto Fernández visitou Portugal e encontrou-se com o primeiro-ministro, António Costa, depois de um triunfo nas eleições primárias que lhe assegurava a vitória nas eleições gerais.
O candidato argentino procurava projetar uma imagem de esquerda moderada, diferente da radicalizada sua candidata a vice e ex-Presidente, Cristina Kirchner (2007 e 2015).
"Mas toda essa expetativa tornou-se uma grande frustração. O papel dele era o de limitar Cristina Kirchner, mas aconteceu o contrário. Alberto Fernández volta hoje a Portugal como representante do poder de Cristina Kirchner", afirmou Aragón.
Quando era candidato, Alberto Fernández dizia que ia "rever" o acordo UE-Mercosul, fechado em junho de 2019, após 20 anos de negociações. Depois de ter assumido a Presidência, em dezembro de 2019, passou a apoiar o acordo, mas os analistas não sabem até que ponto a Argentina está realmente comprometida com o tratado de comércio livre.
O assunto ser debatido na reunião com António Costa. Portugal e Argentina exercem as atuais presidências rotativas da União Europeia e do Mercosul, respetivamente.
"A política argentina, perante o acordo, tem sido muito ambígua. Os últimos episódios no Mercosul revelam um Alberto Fernández protecionista. Então, ele pode ter agora um discurso a favor do acordo com a União Europeia, mas o seu histórico é ambíguo. A questão é se Cristina Kirchner concorda com o acordo", considerou à Lusa o analista político Sergio Berensztein.
"António Costa vai reunir-se com o Presidente de uma coligação na qual ele não é o chefe. Alberto Fernández tem um papel burocrático importante, mas não é quem manda. Ele poderá tomar alguma decisão, mas Cristina Kirchner terá capacidade de veto", advertiu Berensztein.
As sondagens indicam que, em abril de 2020, com quatro meses de Governo, Alberto Fernández chegou a ter mais de 70% de aprovação e hoje não passa de 35%.
Segundo a consultora Giacobbe & Asociados, por exemplo, a imagem positiva de Alberto Fernández chegava a 67,8% há um ano e agora está em 26,9%.
"É um vertiginoso processo de desilusão", definiu à Lusa o analista político Jorge Giacobbe, autor do estudo.
"E esses 26,9% de apoio não são do Presidente; são da vice. Vão apoiar Alberto Fernández enquanto ele for uma ferramenta de Cristina Kirchner", acrescentou Giacobbe.
Há 10 dias, o ministro da Economia, Martín Guzmán, com o apoio do Presidente, demitiu o subsecretário de Energia, Federico Basualdo, por incompetência no cumprimento da política de tarifas públicas de energia.
Porém, Basualdo, protegido por Cristina Kirchner, negou-se a deixar o cargo, abrindo uma crise política interna e evidenciando que a política económica é definida pela vice-Presidente.
"Este episódio evidenciou que Alberto Fernández não manda. O facto de um subsecretário negar-se a acatar uma ordem do ministro e do Presidente indica quem realmente tem o poder", ilustra Aragón.
Alberto Fernández não é o primeiro Presidente argentino a chegar politicamente desgastado a Portugal. O último Presidente argentino em visita bilateral foi Fernando De La Rúa, há quase 20 anos, em novembro de 2001. Estava tão politicamente enfraquecido no poder que, um mês depois, renunciaria, sem poder tomar medidas que contivessem a forte crise social e económica.
"Na Argentina, se um Presidente não exerce o poder, esse poder volta-se contra o Presidente. Assim como aquele De La Rúa, Alberto Fernández é Presidente, mas não exerce o poder", conclui o analista Raúl Aragón.
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