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Revista acusa Temer de mandar "secretas" espiarem relator da Lava Jato

Temer absolvido da acusação de uso de fundos ilícitos na campanha de 2014.

11 de junho de 2017 às 19:49

Horas depois de, com o voto decisivo do amigo Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ter sido absolvido da acusação de uso de fundos ilícitos na campanha de 2014, o presidente brasileiro, Michel Temer, já está a braços com uma nova denúncia, muito mais grave ainda do que a anterior. Segundo reportagem da edição deste fim de semana da revista "Veja", o presidente brasileiro mandou a Agência Brasileira de Informações, ABIN, as "secretas" do Brasil, espiar e investigar o juíz Luiz Edson Fachim, relator dos processos da operação anti-corrupção Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, (STF).

Fachim, que surpreendeu ao mostrar-se ágil e rigoroso nas decisões que tem tomado contra os envolvidos no maior escândalo de corrupção da história do Brasil, foi quem autorizou há tres semanas a abertura de uma investigação contra o próprio Michel Temer, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O PGR, Rodrigo Janot, acusa Temer de crimes de corrupção, obstrucção à justiça e participação em organização criminosa, por ter, segundo o chefe do Ministério Público, avalizado a compra do silêncio de testemunhas que poderiam comprometê-lo, bem como a de juízes e de um procurador que poderiam tornar-se incómodos.

De acordo com "Veja", assustado com essa investigação e a vaga de denúncias do recebimento de milhões em "luvas" pagas por vários empresários corruptos, Michel Temer accionou os serviços secretos. A idéia ´[é devassar a vida actual e pregressa do juíz Fachim e tentar encontrar algo que possa constrangê-lo e forçá-lo a deixar o comando dos processos da Lava Jato, que assumiu apenas em Fevereiro, após a morte, no mês anterior num acidente aéreo ainda sob suspeita, do antigo relator desses processos, juíz Teori Zavascki.

Em curto comunicado, já que Temer evita a imprensa desde que se iniciou a vaga de denúncias contra ele, a presidência da República negou a informação avançada pela revista e declarou que o chefe de Estado jamais usou ou usaria a máquina pública contra qualquer cidadão, juíz ou não. A presidente do Supremo Tribunal, juíza Carmen Lúcia, afirmou, também em comunicado divulgado este fim de semana, que a acusação da revista, se confirmada, constitui um "gravíssimo crime", e revela uma prática só vista "em regimes ditatoriais", que precisa ser imediata e totalmente investigada e esclarecida e, se confirmada, exemplarmente punida.

A possível espionagem decretada pelo presidente a um juíz do Supremo Tribunal foi alvo também de uma verdadeira enxurrada de críticas e notas de repúdio, que vão da Ordem dos Advogados do Brasil, Associação dos Juízes Federais, Procuradoria-Geral da República e várias outras entidades e personalidades do mundo jurídico, político não aliado a Temer e, de forma geral, na opinião pública. Nas redes sociais, uma avalanche de críticas a Michel Temer reforçou ainda mais a impopularidade do presidente, que, segundo o Instituto Datafolha e mesmo antes da vaga de denúncias, tinha aprovação de apenas 9% dos brasileiros.

A denúncia da revista "Veja", ainda não confirmada oficialmente e que diz ter-se baseado em informações de assessores presidenciais que falaram sob anonimato, chama a atenção para um facto que já tinha causado alguma estranheza nos últimos tempos, a presença constante ao lado de Michel Temer do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, GSI, Sérgio Etchegoyen, que tutela as "secretas". O sisudo general está quase em permanência no gabinete de Temer, acompanha-o para todo o lado até em cerimónias públicas, o que não era comum em outros governos, e passou a ser um dos principais, senão o principal, conselheiro do presidente desde que este passou a ser alvo de acusações e investigado.

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