"[Com a venda de roupa] consegui fazer a minha casa e criar os meus filhos", explica Olinda Matule.
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No meio do frenesim caraterístico do mercado Xipamanine, a maior praça informal de Maputo, Olinda Matule vende roupa usada e sustenta sozinha os seus filhos, num retrato vivo de uma atividade que gera rendimento e oportunidades a milhares de moçambicanos.
"[Com a venda de roupa] consegui fazer a minha casa e criar os meus filhos, porque sou uma mãe separada e viúva ao mesmo tempo. Consegui fazer muita coisa", conta à Lusa Olinda Matule, em mais uma visita aos armazéns da organização não-governamental internacional ADPP, onde compra fardos há pelo menos três anos.
Vendendo há mais de 30 anos no Mercado de Xipamanine, um dos maiores da capital moçambicana, encostada numa das inúmeras infraestruturas daquela praça, Olinda, de 59 anos, explica que nunca sofreu preconceito pelo seu negócio, principalmente por ter sempre "roupa limpa e bonita" na sua banca.
Segundo a mulher, as roupas mais procuradas são os fatos de banho e as roupas indianas e, por vezes, é possível encontrar roupas de marcas famosas dentro dos fardos.
Saquina Davide, 27 anos, decidiu também entrar para o negócio de venda de roupas em segunda mão há poucos meses, apesar de frequentar há pelo menos dois anos a loja da ADPP localizada no bairro da Machava, arredores de Maputo, onde há "vários benefícios", com destaque para o preço, qualidade e exclusividade das peças.
"Comecei [o negócio] esse ano mesmo (...) , por exemplo hoje, [a roupa] está a 25 meticais [0,3 euros]. Eu posso comprar vinte peças, mas quando eu for revender, claro que o preço não vai ser 25 meticais, mas sim 100 meticais [1,3 euros]", diz à Lusa Saquina, com os olhos ainda atentos aos cabides cheios de tecidos coloridos, a procura das peças mais únicas para satisfazer a sua clientela.
Na mesma loja compra também Vasco Muchamo, 36 anos, que vasculha a roupa em busca, principalmente, de camisetas masculinas.
Com o foco virado para a secção infantil, Muchamo explica que se esqueceu do ano em que começou com o negócio, afirmando apenas que "já faz muito tempo mesmo".
"Tem que ter paciência, mesmo para escolher, não é fácil. É preciso muita paciência", frisou.
Para Vasco, lojas de venda deste tipo de vestimenta ajudam muito pessoas com menos recursos a vestirem-se bem, uma vez que há quem "não tem valor para entrar nas lojas e comprar com um preço elevado".
Histórias como estas repetem-se em lojas e postos de vendas a grosso da ADPP espalhados por todo o país onde, além de roupas, oferece-se esperança e oportunidades para mais de 200 mil pessoas, que beneficiam direta e indiretamente deste negócio, segundo Damião Mabote, oficial de Programas na ADPP Moçambique.
"Eles, com esta renda, educam os seus filhos. Nós temos histórias de sucesso de até jovens licenciados (...) na base da venda de roupa usada", explicou o responsável.
De acordo com Mabote, o projeto de venda de roupas, introduzido no país há mais de 30 anos, serve para sustentar os projetos sociais e educacionais.
"A ADPP está a operar 11 escolas de formação de professores, que também dependem, portanto, do rendimento da venda da roupa em segunda mão. Mas também tem outros projetos no âmbito da educação, que também dependem de fundos gerados com a venda de roupa usada", disse.
Para o representante, a "reutilização" da roupa usada tem também um grande impacto no meio ambiente.
"Nós sabemos que a produção da roupa nova requer muitos recursos. Principalmente, gasta muita água. Então, quando nós reutilizamos a roupa em segunda mão, evitamos que se produza nova roupa e também que se danifique o meio ambiente", concluiu.
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